spoiler visualizarMrs. Arkham 17/07/2023
Execução boa, final decepcionante
Admito que ao iniciar o livro, eu não estava esperando nada mirabolante. Estava a fim de curar minha ressaca e decidi ler algo leve. Fantasia é uma das minhas paixões e pela sinopse, parecia ser uma história que eu ia me divertir. Uma releitura diferente de a Princesa e o Sapo, onde a princesa é uma aprendiz de jardineira, o sapo é uma raposa esfomeada e o beijo é uma mordida assusta da raposa, no entanto, o romance fica em segundo plano.
Já nas primeiras páginas, era óbvio para mim que a protagonista ansiava por um parceiro e apesar de relacionamentos românticos não serem minha preferência em nenhuma coisa que leio, eu entendi os objetivos da autora. Felizmente, para mim, isso não foi algo forçado e nem sequer cansativo. O relacionamento dos dois é algo sutil, e fica subjetivo na maior parte do livro.
Mas vamos ao que realmente me interessa.
Num todo, o livro é bom, ouso dizer muito bom, apesar de não ser extraordinário. Ashley tem uma boa mão e conseguiu fazer uma boa história, e numa fantasia de edição única trazer elementos sem parecer extremamente corrido.
A edição também é de qualidade, posso dizer a Literalize fez um excelente trabalho, a capa é linda, o título em autorelevo, a diagramação muito boa e os detalhes internos tornam o livro uma gracinha de item colecionável.
Falando agora sobre a história, é uma fantasia típica de um filme da Disney. Daria uma boa animação, caso o livro alguma vez seja adaptado.
A protagonista, apesar de adolescente, e ter algumas crises existenciais, é doce e gentil. Também é corajosa. Teve um passado triste e luta sempre contra ele. Ver todos que se preza sendo mortos ou prejudicados por sua causa não deve ser a melhor experiência para ninguém. Mas Cerys (Margarida), se esforça sempre para encarar os problemas com teimosia e determinação. Às vezes, fazendo até mesmo coisas muito idiotas.
Lorne, está longe de ser um príncipe encantado. É um rapaz encantador e cativante. Mas diga-se de passagem, seus defeitos são as melhores coisas nele. Ele é divertido e único, a sua maneira, o que faz você esquecer que o jovem também é bonito.
Não fiquei surpresa com O Raposo ser o Lorne. Desde o início do livro, eu imaginava que o príncipe estava vivo. E suspeitei que a raposa fosse ele, logo que começou a se questionar quem ele realmente era. Quando Seren o acusou de ter fugido, eu tive quase certeza. Quando ele teve a primeira visão, eu só pensei "sabia".
Sendo bem sincera, nenhum plot me pegou de surpresa.
Acho que uma das grandes lições da história, Ashley poderia ter aproveitado melhor. Não se constrói prosperidade política sem pisar em alguém. E ela tinha muito potencial para criticar isso, principalmente no contexto que estamos vivendo.
A trama política foi bem simples, mas foi bem desenvolvida. Uma pena que tenha sido desperdiçada.
Voryn, era uma cidade sobrevivente, ao contrário de Allorya. Eles não eram protegidos por magia, precisaram lutar para isso. Todos podiam aprender a arte da guerra. Todos eram iguais, pois o inimigo não estava dentro dos muros, mas fora deles.
Apesar de culparem a cidade vizinha pelo mau agouro, eles aprenderam a sobreviver e prosperaram.
Conseguiram criar uma cidade unida, forte e sem preconceitos.
Enquanto isso, Alorya cresceu porque maculou algo sagrado e desgraçou seus vizinhos por cobiça e poder.
A Floresta e suas maldições, foram algo que ficou bem mistificado em todo o livro.
Apesar de não ter notado nenhum furo, ou erro de continuidade, algumas coisas ficaram sem resposta.
Como, de fato, a Senhora foi aprisionada? Se Vala sobreviveu, onde estavam os outros deuses da floresta? Quem eram os anciões? Como exatamente a maldição escolhia suas vítimas? Se o rei de Sunder já tinha magia antes da coroa, como a família real perdeu a magia após a maldição ter sido quebrada?
São curiosidades de uma nerd aficionada, mas não é algo que realmente tenha estragado minha experiência de leitura. Eu posso criar minhas teorias a respeito e tudo bem.
No entanto, o que realmente resultou na minha nota não ser 100% positiva e na minha decepção com a história.
Foram simplesmente, as 20 páginas finais. E aí, eu notei três erros:
Primeiro, a maldição foi quebrada de uma forma tão simples que foi triste de ver.
Era uma cena emocionante, personagens importantes estavam morrendo, outros personagens estavam sendo possuídos, estavam num embate e... Ao quebrar a Coroa, tudo foi resolvido. Num "passe de mágica".
Cerys quase morreu protegendo a coroa inúmeras vezes, para a solução ser simplesmente quebrar a Coroa.
Se essa era a única solução, Cerys não precisaria ter viajado até Voryn. Vala poderia ter avisado muito antes. Se o único objetivo de Vala era que Cerys fosse ser uma heroína com plateia, ela foi uma amiga bem cruel.
Segundo erro, Ashley não fazia ideia de como terminar a história e fez um "felizes para sempre" para crianças.
O último capítulo se passa seis meses depois de tudo, ironicamente, na coroação de Arwen. Tudo termina como deveria ser.
A maldição foi quebrada, a magia não mais existe, o povo está de volta às suas casas e tudo está bem.
Para não dizer que não teve nenhuma consequência, todos os que foram transformados em comedores-de-ossos, ainda possuem resquícios da maldição.
Como lembranças e características físicas. Esse foi o único "problema" que restou quando tudo acabou.
Ninguém chorou seus mortos, ninguém se abalou, e todos vivem normalmente.
E Cerys termina o livro fugindo para "a aventura" com Lorne. E... Fim.
Não tenho problemas com finais simples, tenho problemas com finais mau executados.
E isso nos leva ao último erro. Ashley desperdiçou toda a sua trama política em nome de um romance sem sentido.
O epílogo é uma cena romântica entre a Grã-Senhora de Voryn e a Rainha de Alorya. Onde ambas se apaixonam uma pela outra simplesmente por nada, somente um flerte.
As personagens mal apareceram no livro, as personagens tem zero química e foi algo simplesmente jogado em nome de um beijo.
Como representantes do povo, elas viram o sofrimento que foi infligido.
Por 300 anos, alorianos e (vorianos!?) foram oprimidos por um erro cometido por um único monarca ganancioso.
Por 300 anos, todos sofreram as consequências desse ato nefasto.
Por 300 anos, ambos os reinos culpavam o outro por sua desgraça.
Voryn condenava Alorya, pois graças ao rei de Sunder, a maldição caiu sobre a Floresta.
E Alorya, julgava Voryn, por nunca querer associações, simplesmente porque eram "abençoados" pela Senhora.
E em vez de aproveitar essa oportunidade, para abordar como guerras e ódio entre países e reinos são infundados e sem sentido, só porque um único monarca fez algo muito idiota, Ashley preferiu gastar sua última folha fazendo um romance que nem deveria estar ali, porque simplesmente não encaixa em nenhuma parte da história.
Seria muito melhor se ela tivesse deixado brecha para um livro 2, e pegasse uma ponta para futuramente, desenvolver as duas personagens e depois fazer delas um casal que realmente importasse.
Essas três coisas, me decepcionaram bastante. Mas no geral, me diverti, apenas não leria de novo.
Entre Feras e Flores é um bom livro somente para quem busca uma fantasia simples, sem muitos detalhes e mitologia e sem muita exigência.