wild.ivy 22/08/2023Mia Corvere é imensaNo desfecho dessa reluzente e maravilhosa trilogia, acompanhamos Mia com Ash, fantasmas do passado e novos amigos em busca da vingança que ela almejava desde o começo, mas em uma proporção divinamente (não existe palavra melhor) maior. Entre provações, sangue, autodescobertas, muita porradaria e xingamentos pra lá de criativos, vemos Mia desafiando deuses, monstros e o seu maior e mais brutal inimigo: o medo. Tudo em busca de algo que, pra ela, se torna maior do que qualquer vingança, do que qualquer jogo divino: o amor. O amor pela família. O amor pelos seus.
É justamente por isso, por essas vertentes mais poderosas que Mia descobre em si, que Darkdawn, diferente de Nevernight e Godsgrave, é um livro muito mais emocional, muito mais sensível, muito mais sentimental e muito mais difícil. Não difícil num sentindo ruim, longe disso. Difícil num sentido de saber que vai ser doloroso, de saber que vai ser incerto e de que lágrimas são inevitáveis. Obviamente, ainda tem muita porradaria, muito sangue e muito gore. Não estaríamos na história de Mia Corvere se o cenário não fosse cruamente sangrento e cruel. Mas apesar do ódio à cada esquina e de toda a sua violência, o amor espreita junto, despejando uma paz que a gente se pega torcendo para que não acabe. Mas, "nobres amigos", no fundo a gente sempre sabe que vai acabar. E é isso o que deixa tudo desproporcionalmente mais emocionante.
Na resenha do livro anterior, comentei que eu estava praticamente respirando essa trilogia, existindo apenas para lê-la e trabalhar, e até no trabalho eu não conseguia me conter e dava um jeitinho de mergulhar em mais páginas. O negócio é que quando a gente se afoga demais em um livro, a gente se apega, se afeiçoa, acaba amando os personagens como se fossem amigos, como se existissem, como se fizessem parte da nossa rotina. Torcemos loucamente por eles, xingamos, gritamos no silêncio de nossos quartos e sentimos vontade de abraçá-los quando tudo na história parece perdido, porque também parece que tudo aquilo tá acontecendo de verdade e que é real. É loucura! Mas só quem lê um espetáculo como esse aqui e embarca na aventura de braços abertos entende como essa loucura faz todo o sentido no fim. Como é pura magia.
Gritei, xinguei, chorei como uma desgraçada, esperneei, senti vontade de tacar o livro na parede, fechei ele milhares de vezes pra respirar fundo, quis bater na Mia, quis beijar a Ash, quis abraçar o Tric, quis adotar o Sr. Simpático, quis caçar o Jay Kristoff, enfim... vivi essa história. Vivi seus personagens, seus cenários, suas dores, suas vitórias e senti. Senti cada uma de suas incontáveis emoções como se fossem minhas próprias. E não há nada o que torna um universo de palavras mais favorito pra mim do que essa capacidade surreal de me emocionar até os ossos e me tirar o fôlego como se eu estivesse me afogando e me afogando e me afogando. Me sinto na obrigação de ser poética quando algo toca a minha alma, e sei que a resenha dessa trilogia não merece menos do que poesia. Porque cada página foi poesia. Ash e Mia foram poesia. Sombra e luz foram poesia. Coragem e determinação foram poesia. Tudo foi poesia.
Acabei de ler com o coração repleto de poesia, grata pela oportunidade de ter conhecido esse mundo. De ter conhecido a grandiosa Mia Corvere, mais deusa do que qualquer deus que assombra os céus de Itreya.
"? Sou filha da escuridão entre as estrelas. Sou o pensamento que faz os desgraçados deste mundo acordarem suando à quasinoite. Sou a vingança de cada órfã, de cada mãe assassinada, de cada filho bastardo. Sou a guerra que você é incapaz de vencer." - pág. 370
A complexidade da Mia me deixou aturdida. Ela é um vendaval, uma tempestade, uma sombra tão profunda capaz de engolir o mundo. A gente se pega amando, odiando, venerando, tentando se enfiar no livro pra sacudir ela, e amando mais uma vez. A inteligência, a astúcia, a delicadeza, a crueldade, a determinação, a coragem, a bondade, a força, a lealdade... ela é uma explosão de tudo isso. Não é uma heroína, mas é. É um monstro, mas não é. É falha, é humana, é deusa. É imensa. Sem dúvidas, uma das personagens mais marcantes que já li. Guardadinha no meu coração.
Ah, e a Ashlinn. Ashlinn, que foi amada, odiada e depois amada novamente. Tão complexa quanto a Mia, tão parecida com a Mia, e ainda assim tão diferente. Eu sou completamente apaixonada por ela. Por elas. Pela forma como ela é entregue ao amor que sente, como ela é doce e amarga, como é letal e suave, como é preciosa e forte. Como se declara sem medo, sem a necessidade de um retorno, como segue o coração. Como ama.
"? Quero ficar com você para sempre ? suspirou Ash.
? Só para sempre?
? Para sempre e sempre." - pág. 230
"? Vou ficar com você para sempre ? sussurrou Mia.
? Só para sempre? ? cochichou Ashlinn.
Mia sorriu à luz prateada.
? Para sempre e sempre." - pág. 671
É claro que não posso deixar de falar sobre ele, o garoto dos nós de sal e do coração enorme antes de terminar essa resenha. Tric, que sofreu e sofreu e sofreu, e no fim, mesmo com dezenas de punhaladas (isso não foi um trocadilho, tá, Ashlinn?), permaneceu brilhante, permaneceu fiel ao seu amor, perdoou, e foi mais do que eu jamais teria esperado. Desconfiei e torci o nariz pra ele, e no fim ele me surpreendeu de um jeito tão doce que fiquei até sem reação.
Por fim, essa resenha é um tributo a Nevernight, que se tornou parte de mim nesses últimos dias. Um tributo à Mia. À Ash. Ao Tric. E a cada personagem maravilhoso que povoou essas páginas maravilhosas.
Gostei do final. Como o próprio autor disse, pode não ter sido o final esperado, mas foi o final que Mia merecia. E foi mais do que justo que ela o tivesse.
Assim encerro essa resenha, prestes a ficar com olhos estrelados por um bom tempo rondando minha cabeça. Meu coração tá em paz.
Ps. E aquela cena deletada, hein? Por mim, poderia ter permanecido deletada. Só de passar os olhos por cima eu estremeci de agonia. Graças a Deus que o Jay Kristoff cortou ela fora!!!