spoiler visualizarGustalves 26/07/2023
É sempre de quem não se espera
A casa torta é uma de duas das obras que Christie assume ser o seu maior trabalho, não pela sua fama, como ela mesma diz, mas no prazer de se fazer histórias. A trama se encaixa perfeitamente com os atos de um romance policial dos anos 20, e mesmo assim, o gosto por querer chegar ao final, a disposição dos personagens, os contextos inseridos e a ansiedade para saber a verdade te motivam a leitura.
"Numa casinha torta vivia uma família torta", e o termo "torta" colocado aqui fez um trabalho muito interessante na gama de sentidos que a história vai caminhando. "Torta" no sentido de estranha, mas também de entrelaçada, de que se vira contra si mesma. E esta é a definição da família Leonides: estranha e sempre muito próxima. Engraçado como até mesmo a casa vai sendo construída na cabeça como um remendo de distintas casas, com personalidades dos donos escancaradas na decoração.
A história como um todo é bem encaixada, te prende assim como qualquer outro livro da Agatha. Temos a clássica família rica, uma herança em jogo, segredos a serem revelados e (o que eu acho que foi forçado no livro, de certa forma) um romance entre Sophia, uma das Leonides, e Charles, o nosso narrador-personagem e detetive dessa história. Não só isso, cada personagem tem suas personalidades bem colocadas desde a primeira aparição, que é, como já se está acostumano na escrita de Christie, o que faz o leitor julgar por si só da índole dos suspeitos, assim como também nos engana pelo mesmo movito.
Se você acha que mesmo sabendo de cada artifício clássico que as mãos da Rainha do Crime usa para nos fazer de bobos, você não consegue saber quem é o assassino com todos os motivos na ponta da língua. Aqui, a coração frio foi ainda, o personagem mais inesperado: a criança que achávamos ser uma aliada na investigação. Josephine foi uma personagem tão bem posta, que realmente me chocou a autora colocar esse tipo de assassino: um realmente frio e calculista, um psicopata real. Acredito que só identifiquei três assassinos desse tipo de caráter nas obras que li, e sempre me surpreendo, visto que grande parte delas envolve sempre uma motivação passional do tipo inveja, amor ou dinheiro; vingança traumática ou se sentir superior é um diferencial na minha visão.
Meus únicos pontos negativos da história parece ser referentes a alguns traços que me irritaram nos personagens: o fato do pai de Charles ficar ensinuando que era óbvio a identidade do assassino é algo que me irritou, porque, se era tão óbvio, ele mesmo não disse sem pressa quem era? Poderia polpar três mortes dentro do livro. Outro foi o desfecho: após a irmã de 12 anos de Sophia, a Tia e a babá morrerem, e logo após a abertura da carta de Edith, Charles, num súbito, vira para Sophie e diz que ama, que agora podem se casar e irem para Pérsia, onde fora concovado... e ela concorda, terminando a conversa com "Pobre Josephine". Esses dois pontos realmente foram totalmente mal colocados sob a minha visão e, de novo, o que me deixou meio frustrado, foi como a história parece ser encerrada: às pressas.