laurabrekker 26/04/2024
Leitura obrigatória!!
"Uma mulher, para escrever ficção, precisa ter dinheiro e um quarto só seu". A partir de uma frase aparentemente tão simples, Virginia Woolf traz à tona verdades não necessariamente encobertas mas deixadas de lado pelas circunstâncias da cultura e de outros movimentos sociais não menos importantes. Quão espinhoso foi (e ainda é) o caminho das mulheres artistas, principalmente no meio literário? Hoje pode não ser um imperativo que mulheres escondam seu nome e talento atrás de um pseudônimo como antigamente (nem tão antigamente assim, se formos específicos), e talvez o preconceito com obras feitas pelas mãos de mulheres já não seja tão escancarado ou comum, mas é inegável que ainda hoje as mulheres têm mais dificuldade ao se inserirem e de serem aceitas no mundo artístico em geral.
"Sempre haveria essa afirmação? você não pode fazer isso, é incapaz de fazer aquilo? contra a qual protestar, a qual superar. Para uma romancista, esse germe provavelmente não tem mais tanto efeito, pois já houve mulheres romancistas de mérito. Mas para as pintoras ele ainda causa algum dano; e para as musicistas, imagino, está ativo até hoje e continua extremamente tóxico."
Questões como apoio familiar, financeiro, incentivos de amigos, networking, aceitação e reconhecimento exigem um esforço e um sacrifício maior das mulheres, seja em razão de um papel social que ainda se espera que elas cumpram (não obstante os vários avanços nesse sentido), seja em razão das inúmeras responsabilidades que em geral recaem mais duramente sobre elas.
"A liberdade intelectual depende de coisas materiais. A poesia depende da liberdade intelectual. E as mulheres sempre foram pobres, não só nos últimos duzentos anos, mas desde o início dos tempos. As mulheres possuem menos liberdade intelectual do que os filhos de escravos atenienses. As mulheres, portanto, não têm a menor chance de escrever poesia. Foi por isso que dei tanta ênfase no dinheiro e em um quarto só seu."
Virginia Woolf demonstrou, com um tom clínico e ao mesmo tempo com a dose certa de ironia, o desprezo, limitações alheias, críticas infundadas, a que foram submetidas as escritoras da época, inclusive pelas mãos de escritores/poetas tão conhecidos e aclamados e reverenciados até os dias atuais.
"Tais dificuldades materiais eram imensas; mas muito piores eram as imateriais. A indiferença do mundo? que Keats, Flaubert e outros gênios acharam tão difícil de suportar? era, no caso delas, hostilidade. O mundo não dizia a elas: ?Escreva se quiser, não faz diferença?, como dizia a eles. O mundo dizia, com uma gargalhada: ?Escrever? Para que você vai escrever??."
Por fim, deixo aqui uma das partes mais marcantes dessa obra e que reflete não só sobre a inserção das mulheres no mundo artístico-literário, como também sobre as relações sociais em geral presentes na atualidade e que ainda tem muito a aprimorar:
"Durante os últimos séculos, as mulheres serviram como espelhos dotados do poder mágico e delicioso de refletir a silhueta dos homens com o dobro do tamanho real. [...] Pois se ela começa a dizer a verdade, a imagem no espelho se encolhe; a disposição para a vida diminui. Como ele poderia continuar fazendo seus julgamentos, civilizando nativos, criando leis, escrevendo livros, se vestindo com elegância e discursando em banquetes, a menos que consiga enxergar a si mesmo no café da manhã e no jantar com pelo menos o dobro do tamanho que realmente tem? [...] A imagem no espelho é de suprema importância porque recarrega a vitalidade, estimula o sistema nervoso. Basta removê- la e os homens podem até morrer, como os viciados destituídos de co***na."