Alessandro232 14/12/2022
o eterno conflito entre o Bem e o Mal reencenado em uma roupagem mais moderna
"O demônio de Gólgota" é uma espécie de cruzamento de dois clássicos de horror: o exorcista e Hell House. O autor do romance, Frank De Felita tomou "emprestado" elementos de ambos os livros. No entanto, não se pode dizer que seu romance seja um plágio, embora tenha alguns pontos de aproximação com as duas obras mencionadas. De Felitta demonstra ter pleno domínio da arte de narrar uma história de horror, com toque bastante autoral.
"O demônio de Gólgota" começa de forma bem interessante, com uma detalhada descrição do principal cenário da obra: a Igreja das Dores Perpétuas, onde ocorrem acontecimentos aparentemente sobrenaturais que dão ensejo a cenas de terror e horror.
Atraídos por esses fenômenos inexplicáveis, dois parapsicólogos - um casal de namorados- vai o ao local para estuda-lo, por meio de equipamentos eletrônicos modernos. A intenção deles é fazer um amplo estudo científico, que visa demonstrar uma explicação racional para esses acontecimentos estranhos, de modo a trazer reconhecimento para ambos na área da parapsicologia - vista como psedociência pelos acadêmicos.
Quando eles chegam à Igreja, encontram com um padre que está convencido que esse lugar está amaldiçoado e precisa ser exorcizado. Dessa forma, no livro instaura-se um conflito entre Ciência representado por personagens céticos, com mentalidade cientificista e racional (Anita e Mario) e a Religião que é encarnada no padre Eamon, cuja fé será testada em várias situações aterrorizantes. Ou seja, o autor por meio deles reencena de maneira mais moderna o eterno conflito entre o Bem e o Mal em uma roupagem diferente e mais moderna.
De Felita não tem muita pressa em desenvolver a história. Ele faz isso com calma, extraindo o máximo de tensão dentro da Igreja das Dores perpétuas, o cenário de medo "gótico" do livro. Vale destacar que essa ambientação sinistra, um tanto misteriosa é muito recorrente no horror clássico e um dos pontos altos do livro de De Felitta.
Durante o desenrolar da trama, as situações supostamente sobrenaturais não são explicadas - o que potencializada a atmosfera de terror. Isso ocorre em um cenário, a Igreja das Dores perpétuas, que gradativamente torna-se cada mais abjeto, sinistro e assustador tanto para os personagens como para o leitor.
O outro aspecto que chama atenção na escrita do autor é a boa caracterização dos protagonistas. Entre os personagens do livro, destaca-se o padre Eamon, que revela ser o mais complexo, cheio de conflitos internos relacionados com sua fé e por isso torna-se alvo das forças do Mal.
O livro demora para "esquentar", mas logo no início há uma cena macabra, na qual o autor faz uma interessante combinação entre o horror e a insanidade - algo que também aparece em Hell House. O final do livro é o que pode ser classificado como apoteótico, com um climax que pode agradar alguns e desagradar outros, uma vez que Defelitta exagera um pouco no simbolismo religioso.
Assim, De Felita faz desse livro uma obra de horror clássico, embora ele não tem envelhecido bem em algumas passagens que se passam nos bastidores da igreja católica, mais especificamente, no interior do Vaticano. Neste aspecto, o autor é um tanto ambíguo. Em alguns trechos, ele critica a ostentação da mobília e vestimenta dos padres, e, em outros próximos ao final, Defellit demonstra que a fé cristã ( católica) é a única forma de vencer o Mal, por meio de um personagem que ganha contornos heroicos, mas cuja inserção me pareceu um pouco forçada. Além disso, a obra também explora temas sensíveis e polêmicos relacionados coma igreja católica, como o celibato e a pedofilia relacionado com o abuso sexual.
Embora o livro tenha alguns excessos, assim como outras obras com uma temática parecida e publicadas nos sessenta e oitenta, principalmente na parte final, "O Demônio de Gólgota" é interessante para quem gosta de horror no estilo clássico, no qual há ênfase mais naquilo que é sugerido do que é mostrado.
Sobre a edição: a Darkside demonstra ter apreço pelos clássicos. Do projeto gráfico ao acabamento tudo é impecável.