Juju 16/05/2022
Um ensaio sobre ciência e religião
Numa região pobre e afastada no estado de Massachussets, conhecida apenas como Vale de Gólgota existe uma igreja cujo nome se encaixa perfeitamente: Igreja das Dores Perpétuas. Foi ali naquele local que uma tragédia teve seu palco através do Padre Lovell que perdeu sua sanidade e tomado por sua loucura, tendo ele sido possuído pelo inimigo de Cristo, perpetrou uma série de obscenidades assustadoras que tornaram-se parte da lenda que ainda aterroriza os habitantes remanescentes daquelas terras áridas. Cautelosos e amedrontados, eles fazem bem em manter distância, mas para alguns indivíduos em específico o perigo pode ser uma grande oportunidade para obter certos ganhos, sejam eles pessoais, espirituais ou de natureza puramente egóica. É assim que os destinos de Mario Gilbert (parapsicólogo ateu), Anita Wagner e Eamon Malcolm (padre jesuíta) irão se cruzar e dali em diante terá início uma ferrenha batalha entre fé, religião e ciência. O fato é que a entidade que habita aquela igreja não está disposta a ceder tão facilmente e parece se alimentar da energia caótica proporcionada pelos conflitos e tensões que se desenrolam entre os três, e para detê-la, talvez seja necessária uma força ainda maior tal qual a influência do próprio Cristo em sua santidade. Enquanto o padre tenta recuperar a pureza da igreja através de um perigoso exorcismo que põe em risco sua própria vida, Mario visa apenas provar que todos os eventos sobrenaturais ali desempenhados não passam de balela, e no meio de tudo isso Anita questiona a si própria e todas as suas convicções. Numa batalha entre bem e mal o que seria necessário para triunfar?
O Demônio de Gólgota é um dos novos lançamentos da editora Darkside. Em suma ele é categorizado como um terror sobrenatural, mas isso é discutível, uma vez que embora apresente elementos paranormais na história, o foco principal não é única e exclusivamente este. A verdade é que eu achei essa leitura bem arrastada, até mesmo lenta. A linguagem sofisticada e as descrições excessivas tornavam muito difícil ler mais do que dois ou três capítulos num mesmo dia, após encarar umas 60 páginas eu me encontrava cansada. A disposição dos capítulos em si também foi algo que me incomodou a princípio, porque a narrativa alterna o foco sobre os diferentes personagens da história num vai-e-vêm constante que por vezes me deixava um pouco confusa e sem entender exatamente o que estava acontecendo tão de repente, levei um tempo para me habituar, mas assim que você pega a manha começa a se acostumar e a coisa toda flui melhor. Ainda assim, o que eu não consegui engolir foram os diálogos principalmente entre Padre Malcolm e Mario Gilbert, os dois ficavam discutindo o tempo inteiro, berrando sem qualquer discrição para tentar provar argumentos sobre suas crenças pessoais, desmerecendo um ao outro de uma maneira infantil e imatura. O Mario mesmo é um dos personagens mais chatos que eu já vi, e tudo soava muito caricato, exagerado. A Anita, coitada, ficava ali perdida que nem um mosca morta tentando se encontrar no meio de tudo aquilo, ver se conseguia fazer algo para ajudar. Eu entendo que os três personagens foram concebidos como metáforas: Mario seria a personificação do mal, Padre Malcolm o homem que sofreria as tentações da carne e Anita o próprio pecado, a tentação saborosa e atrativa. Só que isso não anula o fato de que o autor perdeu páginas e mais páginas do livro com essas discussões para só enfim, para lá da metade da história começar a tecer uma reviravolta, até então parecia que o negócio não evoluía, não andava para a frente, voltava sempre para as mesmas questões de ciência versus religião. Em eu creio que a obra toda tem como objetivo elucidar e até debater a ideia (vale lembrar que o livro foi escrito no século XX, outra mentalidade, a parapsicologia ainda estava sendo moldada, crenças religiosas eram dominantes) de que afinal de contas ciência e religião não são tão diferentes assim, talvez elas até se complementem de certa forma. Analisando como um apanhado geral a mensagem é válida e coerente, só foi construída de um jeito confuso e monótono. Mais para o final o livro assume um ritmo legal e até bem interessante, e o desfecho em si deixa em aberto reflexões sobre tudo o que foi dito desde o começo. Enfim, não foi ruim a experiência, mas poderia ter sido melhor ao meu ver.