Charles Lindberg 24/09/2022
Excelente, recomendadíssimo até pra quem não curte k-pop
Oriundo do trabalho de pesquisa da autora, graduada em Ciência Política, o livro lança um olhar minucioso sobre as dinâmicas internas do fenômeno mundial do k-pop, de uma perspectiva marxista. Essencialmente dividido em três partes, conta com um excelente panorama histórico da nação coreana até a sua cisão e atuais problemas geopolíticos e econômicos; um mergulho pormenorizado na indústria do k-pop como conhecemos no século XXI; e, por fim, a crítica contextualizada no campo da sociologia. Os últimos três capítulos são só pedrada.
A autora se vale da crítica de Adorno e Horkheimer à indústria cultural para evidenciar as contradições gritantes da comodificação última das pessoas em si ? os chamados idols ?, após a comercialização de todos os aspectos da vida, promulgada pela expansão global do capital. Impossível de ignorar, tanto para o pesquisador social que não é iniciado no mundo da cultura pop coreana, quanto para o jovem stan do BTS que está começando a entender as relações de classe do mundo real.
A denúncia em última instância, ainda que indireta, da proletarização do artista (que frequentemente sequer pode se identificar como tal), aponta sem pudores, de forma mais ampla, para a máquina falida e insustentável que oprime a todos nós, trabalhadores, que sequer sabemos o que é hangul.
Pessoalmente, como pessoa neurodivergente, foi particularmente difícil não chorar no último capítulo, que trata do preço máximo pago por jovens que dedicaram a vida inteira a nada mais que perseguir seus anseios artísticos, mas raramente foram vistos como mais que objeto, até encontrar um fim amargo e precoce.
Mas para o capital, nada demais. Segue o jogo. A próxima tragédia e o próximo hit mundial.