Ângelo Von Clemente 06/10/2023Um romance biográfico que me dividiuO tipo de livro que, quando iniciam-se as primeiras paginas, é difícil interromper-se sem que ele já tenha acabado. A princípio, quando o adquiri, não tinha lá grandes expectativas concretas a respeito dele; ao menos não conscientemente. Descobrir que o processo de escrita dele custou a Edward Carey exatamente quinze anos foi fato que me intrigou profundamente, e contribuiu para o aumento de expectativas, antes restritas na abstração.
A narrativa é envolvente, do tipo que exige ser consumida de forma imediata, e logo o leitor é tentado a devorar o fruto de um trabalho de uma década e meia dentro de apenas alguns dias, ou menos.
Apesar de ser possuidor de uma capacidade literária considerável, Carey acaba pecando justamente naquilo que sabia constituir seu principal desafio e arma: utilizar-se do máximo de licença poética possível na narração de um romance histórico. Com isso, muitos personagens acabam reduzidos a caricaturas grotescas, cômicas, e totalmente irreais. Sendo imparcial com alguns personagens históricos, Carey acaba não o sendo, em absoluto, com todos, pois acaba emitindo reproduções caricatas e juízos de valor distorcidos na construção total de personagens muito mais subjetivos e profundos que os apresentados ao leitor. Os exemplos mais latentes estão nas retratações de Louis XVI e Madame Elisabeth de França; estes que, historicamente falando, não chegam nem ao menos perto das descrições e papeis que lhe foram atribuídos pelo autor, que se deixou influenciar por um distorcido senso comum responsável por dizimar convenientemente reputações de personagens históricos.