Renata 08/05/2023
É um livro com personagens cativantes, mesmo quando estão fazendo escolhas ruins. O arco principal gira em torno de Tova, uma senhora nos seus 70 anos, viúva e marcada pela perda repentina e não explicada do filho único, Erick, quando este tinha seus 18 anos. Apesar da idade, e de não necessitar financeiramente, Tova mantém o emprego de faxineira no aquário da cidade, e lá está o ponto de reflexão da história, Marcellus, um polvo gigante do Pacífico.
O polvo é um personagem com voz, pelo menos para o leitor, e a escolha da autora foi transitar entre fatos cientificamente aceitos, acerca da inteligência deste animal, e a fantasia, visto que Marcellus interfere diretamente no rumo da história de Tova e de Cameron, um rapaz em meio a uma busca pessoal que acaba como substituto de Tova no aquário.
Não temos aqui um espetáculo de trama, as histórias andam em paralelo por um tempo, quando se cruzam a gente já sabe no que vai dar, muito antes do final. Ainda assim é possível extrair algo de comovente, e não estou falando das partes em que a autora tenta fazer isso explicitamente, do modo mais clichê.
A parte interessante e mais pesada gira em torno da solidão, ausência de família, de laços, de descendência, o que tem uma resolução no fim do livro, então é possível que vá fazer muitos leitores felizes.
Contudo, antes dessa resolução temos que lidar com a solidão da mãe que perde o filho, da esposa que perdeu o marido, da saudade e espera daquele que fica.
Existir pode ser algo dolorido, quando lidamos com nossa própria finitude. Aceitar resignado a vida como esta se apresenta. Tomar providências antecipadamente, por que não haverá ninguém para fazer isso, decidir o que manter e o que descartar quando todas as coisas, até as menores, tem significado. Este me parece o coração desta narrativa.
Já a resolução do mistério do livro fica um tanto em aberto, o que pode ser frustrante, já que acompanhamos essa volta toda na história, em que até o polvo sabia mais sobre o que havia acontecido. É um ponto aberto à interpretações e o leitor que lute.