Andrea 25/06/2022Este é o primeiro livro que leio do Dr. Drauzio Varella e, mesmo tendo começado "errado" (é o último lançado), achei uma introdução maravilhosa. Acompanho o seu trabalho como divulgador médico há bastante tempo, mas nunca quis muito ler os outros livros por achar os temas pesados (tipo, Estação Carandiru e Prisioneiras), mas talvez um dia eu seja mais resistente pra aguentar o impacto.
Como o próprio subtítulo já diz (Memórias), este livro vai fazer um breve apanhado da história do Drauzio. Tem muitas curiosidades e fatos que eu não conhecia, como que o primeiro nome dele não é Drauzio e sua sub-especialidade na oncologia é câncer de mama, passando por sua grandiosa contribuição na divulgação sobre a AIDS quando a epidemia começou no país e sua luta pela disponibilidade do tratamento, até seu envolvimento com o SUS e a pesquisa de plantas na Amazônia.
Seu trabalho com atendimento médico em presídios também é citado, claro, e isso eu conhecia mais, mas teve capítulo que me arrepiou toda (por isso que acho que não consigo ler a trilogia sobre o assunto). Atualmente, Drauzio está aposentado da oncologia (soube pelo livro!), mas continua atendendo privados de liberdade e está focado mais na divulgação médica (vale muito a pena seguir!).
Uma coisa que esse livro me fez pensar bastante é em como a gente não tem muita noção de tempo e não pensa no que foi preciso acontecer para chegar onde estamos hoje. O tanto de evolução que tivemos nos últimos 100 anos... E um século é muito pouco tempo quando você leva em consideração a trajetória do ser humano. Tem muita coisa pra se pensar nesses avanços.
Outras parte interessante é sobre a criação do SUS. Eu cresci ouvindo meus pais contando do INAMPS, sobre os hospitais que atendiam por caridade, e gente, isso não tem 40 anos!!! (Defendam o SUS etc.) Triste é pensar que estávamos avançando tanto, mas o SUS está sendo tão sucateado que, por exemplo, éramos referência em campanha de vacinação e, hoje, a cobertura tá tão baixa que doenças evitáveis estão em vias de voltar porque as crianças (e os adultos!!) não estão se vacinando. Aí entra também a questão do vício do cigarro, falado no livro já que Drauzio foi fumante por vários anos, e de como o Brasil conseguiu diminuir o número de fumantes, mas agora temos o risco de um novo surto de dependentes graças aos pen-drives tragáveis.
Por fim, vale citar quando o livro toca no ponto, que eu acho de extrema importância discutir, que é o cuidado médico relativo às mulheres (ou a falta dele). Tem aquela famosa hipótese que se homens engravidassem, você acharia anticoncepcionais (e sem os perigosos efeitos colaterais!) em cada esquina e o aborto seria um procedimento simples. Drauzio cita que um dos poucos estudos relevantes sobre menopausa foi feito não tem nem 10 anos!! A medicina, definitivamente, não foi feita para nem por mulheres. (Aquela cena de Prometheus nunca sai da minha cabeça.)
No lançamento do livro, fiquei incomodada numa entrevista quando Drauzio falou que os médicos e os jornalistas foram essenciais na divulgação de dados e informações da pandemia de covid-19 quando outros profissionais, principalmente os cientistas e divulgadores científicos (team Átila aqui!!), lutaram tanto (e ainda lutam!) pra tentar manter as pessoas informadas... Sem falar que o mais que tivemos foram médicos propagando fake news, né? Mas, pelo menos, aqui no livro, ele reconheceu e frisou a importância da equipe de enfermagem e de outras especialidades, como fisioterapia, psicologia, farmácia e até técnicos de limpeza e desinfecção.
Resumindo: é um livro muito bom, tanto de conteúdo, quanto de escrita. Incrível como menos de 300 páginas renderam tanto!! (E assistam o vídeo de divulgação desse livro no instagram do Drauzio, é maravilhoso, hahaha.)
[Período de leitura: de 21 à 31/05/2022]