Humanos exemplares

Humanos exemplares Juliana Leite




Resenhas - Humanos exemplares


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Caroline 06/12/2022

Um livro sensível
Livro conta a história da Natalia, uma mulher que mora sozinha e tem 100 anos. As memórias da Natalia remontam de diferentes momentos da vida dela. Esse livro foi um dos meus preferidos do ano, pela forma com a Juliana Leite escreve, que é muito sensível e bonita. Também gostei da forma como a autora revela traços da personalidade da personagem em descrições do cotidiano. Recomendo a leitura.
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Ramon Diego 29/11/2022

A história desenvolvida pela Juliana Leite é muito boa. O enredo é bem estruturado, os paralelos temporais que ela desenvolve em torno de sua personagem principal também são muito bem executados. Senti falta, no entanto, de algumas coisas, da personagem principal ter voz, saindo um pouco do narrador em terceira pessoa e, além disso, achei que o livro se estende demais em cenas que não tem muito uma razão de existir, o texto poderia ser mais enxuto. Gostei mas fiquei com a sensação de que a narrativa poderia ser melhor trabalhada. Resumindo: Leiam e tirem suas próprias conclusões. Eu o achei um livro bom! Pra quem gosta de prosa poética é melhor ainda.
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Taina 19/11/2022

Sobre a leveza da memória
O livro é sobre as memórias de uma senhora que passa os capítulos relembrando sua história e contando com muita delicadeza vários acontecimentos cotidianos - os normais, os pesados e os embaraçosos.

A escrita é o diferencial que, com muita poesia, traz uma doçura singular para a solidão da velha que está só esperando a morte. O fato da autora explorar uma outra ótica e fazer comentários mais literais e outros mais inocentes dá um toque de bom humor que deixa os assuntos pesados mais leves e digeríveis como a censura, a morte, a solidão e ainda a difícil relação entre pais e filhos.

Difícil terminar esse livro sem reconhecer a sensibilidade das memórias e a preciosidade da vida.
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Rayana.Carvalho 30/10/2022

Humanos exemplares: uma reflexão sobre a solidão da velhice
Que estamos envelhecendo e que a única certeza da vida é a morte sabemos bem.

Porém, enquanto jovens, parece difícil refletir a respeito. A morte, para nós, parece distante, como se estivéssemos longe deste perigo; embora a morte possa nos alcançar em qualquer fase da vida.

Mas, se vamos sobrevivendo, vencendo o obstáculo da morte, como fica a nossa vida nesse processo? É sobre isso que Juliana Leite desenvolve uma narrativa que é pouco usual na literatura, pelo menos até então nunca tinha me deparado com nada tão sensível ao tema.

Não se trata de uma narrativa saudosista, de uma velha que passa o livro inteiro memorizando a sua juventude. Nada disso. Descreve-se, de forma pormenorizada, a velhice vivenciada em seu cotidiano.

A solidão da velhice aqui não diz respeito ao abandono proposital do idoso, mas ao abandono natural, de quem estendeu a vida demais.

A ?velha?, protagonista da história, vive em seu apartamento sozinha, abandonada pelas pessoas que já morreram: seu marido, seus amigos. Ao assistir cada perda, fica à espera de sua morte, que pode chegar a qualquer momento.

Em vários momentos, preocupamo-nos com a velha, com sua saúde, com sua qualidade de vida. Uma preocupação que é representada pela figura da filha, também já idosa e próxima da morte.

Chorei em vários momentos da leitura, que tem uma sensibilidade narrativa muito forte, sobretudo nas descrições iniciais. Além disso, o livro caminha bem em seu processo, tendo um bom desfecho.

Ao final, refletimos: Viver demais, dádiva ou azar?
Rose.Agra 18/01/2023minha estante
Muito bom seu comentário, apesar de eu não ter gostado muito da leitura.




Alexandre Kovacs / Mundo de K 14/08/2022

Juliana Leite - Humanos exemplares
Editora Companhia das Letras - 248 Páginas - Capa de Alceu Chiesorin Nunes e Ale Kalko - Imagem de capa: Janela (2000) de Eduardo Berliner - Lançamento: 2022.

Depois do premiado livro de estreia, Entre as mãos, Juliana Leite consolida o seu nome na cena literária contemporânea com este mais recente lançamento, um romance muito recomendado que lida com temas difíceis como a solidão e a proximidade da morte de forma sensível e até mesmo bem-humorada, trabalhando sempre com a emoção sem cair na armadilha do clichê sentimental. Esta é a história de Natalia, uma idosa centenária que acumulou uma "coleção de ausências" ao longo da vida e passa os dias sozinha no apartamento à espera dos telefonemas da filha que mora no exterior. Todos os amigos queridos já morreram, cada um a seu tempo.

Vicente, o companheiro de toda a existência, também ficou pelo caminho e se tornou uma imagem no porta-retratos. Natalia descobre o valor das lembranças e o fato curioso de que a vida depois de certo tempo começa a acontecer mais no passado do que no presente: "Sempre há muito o que falar sobre a juventude, é impressionante como seguem acontecendo coisas nesse período da vida mesmo depois que tudo já passou há tanto tempo." A partir das lembranças afetivas de Natalia, a autora relembra também momentos difíceis da história do país como os anos da ditadura militar e a repressão política que forçou Vicente a se esconder.

"Ela abre os olhos para mais um dia e já não pode impedir a si mesma de se sentir um pouco livre, ela se sente assim, como alguém que dormiu numa rede fresca e acordou livre para escolher o que fazer em uma manhã comum. Quem olha de fora percebe que seus ossos despertaram firmes sobre a cama, mais ou menos firmes, e isso sim é uma surpresa. A quantidade de ossos que uma velha possui é um espanto, um assombro, porque afinal alguns humanos como ela sumiram, muitos já sumiram e até agora por algum motivo ela permaneceu, ela se sente assim, como alguém que permaneceu, por enquanto. / Como ainda não se apagou, como ainda existe mais ou menos como antes, membros, pele, pulmão, ela pode até confundir um pouco as coisas, achar que isso significa que é uma velha de sorte. Mas logo todos esses pensamentos se apagam porque está na hora de se levantar para passar o café, pronto, já está na hora de ela se vestir e fazer o de sempre, o de todos os dias, e a sorte não costuma ter nada a ver com isso." (p. 9)

Natalia e Vicente trabalharam como professores até a aposentadoria e aprenderam, na prática, a importância de evitar "a morte dos fatos, dos acontecimentos concretos pertencentes à história", mesmo aqueles mais terríveis, como destacado no texto: "a memória não precisaria sobreviver apenas aos mortos, mas também ao esquecimento dos vivos". Contudo, sempre há o risco não do esquecimento, mas do perdão: "Ela até perdoa algumas pessoas, especialmente se essas pessoas já estiverem mortas. É mais fácil perdoar os mortos do que os vivos nessas lembranças, afinal os mortos despertam muita benevolência, já os vivos nem sempre."

"Vicente está bem ali olhando do porta-retratos e concordando comigo. Ele foi por tantos anos um homem vivo que muitas vezes me esqueço de que ele já morreu e acabo agindo como se o homem ainda estivesse por aqui, tomando banho ou lendo revistas no banheiro. De vez em quando preciso me lembrar de que, é mesmo, ele já morreu. Agora Vicente mora dentro do porta-retratos, mora na fotografia em que ainda é um jovem Vicente em um verão em Petrópolis. Em vários momentos levo o porta-retratos pra cá e pra lá, do quarto para a sala e da sala para a cozinha enquanto espero o telefone tocar. Nessas horas fico contente por mim mesma, aliviada; vejo minhas mãos segurando o objeto onde está Vicente, vejo o homem tão amado ainda perto do meu corpo e digo, ah, aí está uma tarde em que essa velha não se sente competamente sozinha. Digo isso e percebo que a velha concorda comigo, ela aproxima ainda mais os dedos do rosto de Vicente." (p. 21)

A recente pandemia não é citada diretamente, mas sim como uma "ameaça exterior" que isola as pessoas e impede a visita anual da filha que mora no "oceano superior". Com raro domínio das técnicas narrativas, Juliana Leita alterna entre primeira e terceira pessoa, passado e presente, sem interferir no ritmo e leveza do texto. Um romance imperdível com personagens inesquecíveis, daquele tipo que provoca arrepios de emoção ao longo da leitura, principalmente no final, quando percebemos que a partir de um determinado ponto de nossas existências "o passado é o único futuro, o único lugar onde alguns encontros ainda acontecem."

"Sentada na sala do apartamento, a velha que hoje se acostumou a ser uma viúva, que talvez já possa até mesmo se dizer experiente, hoje ela se sente mais à vontade para fazer em voz alta algumas perguntas a Vicente, perguntas de toda sorte, por exemplo se o homem ainda tem fé lá onde vive nesse instante, não fé em Deus, a velha não se refere a isso, mas sim nos gatos, nas aves, ou até mesmo fé na humanidade. A velha se interessaria em saber se a essa altura o homem tem uma fé invertida, terráquea, emitida desde um lugar mais alto para este lugar aqui, mais embaixo. Ela gostaria de saber se a fé é uma coisa que acontece em todas as direções, com os mortos tendo fé nos vivos, e também gostaria de saber se os mortos ficam mesmo na parte de cima, lá onde nos acostumamos a imaginá-los, ou se ela vem olhando para o lugar errado desde sempre." (p. 194)

Sobre a autora: Juliana Leite nasceu em 1983, em Petrópolis, Rio de Janeiro. Seu romance de estreia, "Entre as mãos" (2018), recebeu os prêmios Sesc e APCA, foi finalista do prêmio Jabuti, prêmios São Paulo e Rio de Literatura e semifinalista do prêmio Oceanos, além de ter sido publicado na França e tido os direitos vendidos para o cinema. Mestre em literatura comparada, foi selecionada para a residência artística da revista Triple Canopy, de Nova York. Seus textos foram publicados em veículos como a revista Época, o jornal francês Libération, entre outros.
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Naty__ 09/08/2022

O destino de todos nós...
Essa vai ser uma resenha diferente, de um livro bem diferente com uma personagem mais diferente ainda. Quantas obras você já leu cujo protagonista é um idoso? É algo tão óbvio, mas ao mesmo tempo foge do que estamos acostumados. Aliás, devo falar por mim, baseado em tantos livros que já li, poucos foram contados por uma senhora (ou nenhum, talvez).

E aqui estamos diante da minha xará, Natalia. Uma mulher bem velhinha, passa os seus dias em seu apartamento à espera de telefonemas da filha que reside em outro país. Viúva. Última sobrevivente do seu ciclo de amigos. Ela só tem a si, pois é assim que se sente em grande parte do seu tempo. Apenas quando o telefone toca que as coisas melhoram um pouco.

“Ainda é cedo para dizer por que ninguém mais telefona para ela, mas aparentemente todo mundo que tinha seu número e que gostava de conversar já morreu. Um a um eles morreram, cada um a seu tempo.”

Vicente, companheiro dela, era professor de geografia e foi perseguido pela ditadura. Sarah, sua melhor amiga, era uma mulher de temperamento impossível e dona de uma loja de biscoitos. Jorge, um morador de rua, lia cartas prevendo o futuro e recebia doses de Campari em troca. E a sua filha, bem, ela continua em outro país, mas nunca esquece um dia sequer de ligar para a sua querida mãe.

O contexto da história é bem triste. Não é uma leitura rápida, pois não há diálogos. É um livro de “apenas” memórias – e digo “apenas” porque não é somente algo raso e insosso. Às vezes é bem pesado ler algumas partes, em outras é até possível sorrir pelos detalhes. Porém, em grande parte a gente fica imerso e refletindo quem somos e para onde vamos.

Não é uma leitura que provoque alegrias ou que deixe o leitor satisfeito. Pelo contrário, como você se imagina daqui a uns 30 anos? E se você se deparasse sozinho, sem uma pessoa ao seu lado? Acordar sem ninguém ao seu lado e um vazio dentro de si. É uma narrativa reflexiva e pesada.

É triste ler e imaginar que isso é o destino de todos nós. Acredito que o maior medo do ser humano seja a solidão. É difícil fugir disso quando a idade chega. Quando as pessoas que você ama precisam partir, ou simplesmente partem sem precisar – como temos visto com a pandemia.

Ainda que a história tenha me prendido, a repetição dos vocativos e outras coisas acabam deixando o ritmo arrastado da metade para o final. Embora do início até a metade eu tenha devorado, o restante foi mais compassado.

“Ela adia a abertura do jornal e molha o pão no café com leite bem quente. Morde a ponta molhada do pão onde a manteiga está derretida e logo sente aquilo que mais desejava nesta manhã, a gordura salgada tomando a superfície da língua. A gordura é generosa e a velha se arrepia inteira, é sempre assim, uma gordura quente e salgada faz uma velha como essa arrepiar todos os pelos de manhã cedo. Ela sente o grande prazer do pão molhado entre os dentes e de repente fica um pouco encabulada. Talvez devesse pedir autorização por escrito a alguém para, além de seguir viva a essa altura, ainda por cima sentir prazer na língua, talvez esse fosse o procedimento correto, ver se ainda é permitido aos humanos revirar os olhos de delírio. Mas agora é tarde, ela já mordeu o pão e já sentiu o prazer engordurado invadindo o corpo, de alguns gozos não se pode voltar atrás.”
Alê | @alexandrejjr 15/08/2022minha estante
Um livro sobre a proximidade da finitude, sobre a linha tênue entre existir e deixar de existir. Me parece um livro interessantíssimo, Natalia. Parabéns pela resenha e obrigado por compartilhar ela com outros leitores.


Naty__ 15/08/2022minha estante
É bem isso mesmo, Alê. É uma sensação bem estranha, inevitável. Obrigada ?


Mawkitas 27/12/2022minha estante
Sua resenha é muito boa e me fez decidir ler o livro. Sou filha única, sem filhos, sem sobrinhos, a mais jovem em meu reduzidíssimo grupo de amigos. Tenho tios e outros familiares muito que eu não sei se reconheceria ao cruzar na rua. A solidão sempre foi uma marca muito forte em minha vida.


Mawkitas 27/12/2022minha estante
* muito afastados


Naty__ 31/12/2022minha estante
Oi, Marina. Tudo bem? Nossa! Que difícil! Acho que você vai sentir a leitura de forma bem intensa. E estou aqui para conversarmos sobre ela, se você quiser. Vou adorar saber o que está achando. Combinado?




Lau 25/07/2022

Humanos como todos
Tentar descrever essa história é um pouco difícil. O livro é um livro de memórias, isso é fato. São as memórias de uma personagem idosa e, por isso, uma narrativa que pode não agradar a todos os gostos. Não à toa existem tão poucos protagonistas da terceira idade. Mas a parte difícil mesmo é dizer o que acontece nele sem me estender. São contadas muitas coisas - sobre o amor, a amizade, a família e o país - rebuscadas durante o ócio da velhice que, em si, não é nem bom, nem ruim.

As memórias são contadas de maneira não-linear, quase atemporais, alternando entre a primeira e a terceira pessoa sutilmente como se a velha (assim ela chama a si mesma) se enxergasse de um ponto de vista externo ao próprio corpo e só raramente, sem querer, se lembrasse de que é a narradora daquelas histórias.

Os fatos dão a impressão de terem acontecido séculos atrás, mas são contados com uma intimidade quase sufocante. Os significados são muito simples, mas nem sempre fáceis de identificar à primeira vista. Enfim, o livro trás uma enorme profundidade de sensações às coisas comuns da vida, para que a velha possa revivê-las mais uma vez antes de chegar ao seu fim. E esse fim também é naturalizado, sem fingir que a morte não é dolorida e frustrante e assustadora, mas que precisa chegar eventualmente. Temas assim, da morte e da memória, andam juntos, porque a primeira pode acontecer mais tranquilamente quando se tem a garantia da última.

Por mais que em alguns momentos o uso exagerado de metáforas tenha sido meio desnecessário e cansativo pra mim, todos os recursos foram importantes pra mostrar aquilo que pessoas mais novas frequentemente não conseguem ver - e esse talvez seja o aspecto mais bonito desse livro. Ver que na velhice ainda existe sonho, criatividade, inventividade, autonomia, a aquisição de novos gostos, a independência de pensamento, a emoção à flor da pele, o prazer sexual e o desejo por novas experiências. A velhice ainda é vida, e vive até o último segundo. A humanidade ainda vive, até quando o corpo desaparece...
Bruno 26/07/2022minha estante
Essa foi uma resenha bem profunda até animei de ler


Lau 26/07/2022minha estante
Pser, a gente tem q fazer o clube d leitura desse livro. Ver quem mais pegou


Bruno 26/07/2022minha estante
Acho q quase todos pegaram, mas clube de leitura ia quebrar minha lista de leitura kkkkk


Lau 26/07/2022minha estante
Po, 200 e poucas pgs, rapidinho


Bruno 26/07/2022minha estante
Quem sabe




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