Emerson Dylan 12/05/2024
A falta de tudo
Nada soa minimamente orgânico no livro de Xico Sá. O goleiro cult, crescido na favela e filho de um goleiro soviético, reflete sobre a vida debaixo da trave em meio a um jogo improvável. Dialoga consigo mesmo confundindo seu próprio pronome (melancoliza no "eu", se xinga no "tu"). Cita música do Xutos & Pontapés e filme com Paz Veiga de forma gratuita, só pra mostrar como é cult, apesar de ser goleiro. Se vê como Sísifo a todo instante. O narrador e o comentarista esportivo do jogo aparecem a cada cinco minutos com diálogos que só não conseguem ser mais forçados que as crônicas dos periódicos escritas pelo próprio Xico Sá.
O livro tem boas frases e brinca com algunas coisas divertidas (eu adoro a existência do Estádio do Zerão e super entendo a ideia de usar a dicotomia dos hemisférios para criar uma obra). Mas tudo no livro acaba sendo desproporcional, desorgânico, quando não, muitas vezes, bobo.
Particularmente, não sou fã das crônicas de Xico Sá, mas encarei seu curto romance de peito aberto. Triste decepção. "A falta" me pareceu mais um livro feito para ser publicado, como se fosse um cumprimento de contrato no prazo. Assim, mais pareceu uma crônica estendida, cheia de referências que o autor curte, mas que soam extremamente vazias na proposta da obra. Não consigo pensar que o próprio autor consiga ler seu livro sem pensar que "faltou algo aqui. eu deveria ter ido por outro caminho..."
Adoro, leio e coleciono todos os lançamentos da editora Tusquets. Este, disparado, foi o pior livro do selo até agora. Só não passo pra frente porque faz parte da coleção. Mas há tempos uma obra não me deixava tão furioso por sua ruindade.