Juju 15/08/2022
Um ensaio sobre a sociedade japonesa
Shiguehiko Aoyama é um homem de quarenta e dois anos que perdeu a esposa há algum tempo, tendo ela sido vítima de um agressivo câncer. Cerca de sete anos depois ele leva uma vida normal na companhia do filho adolescente, imerso em uma rotina monótona e pouco emocionante. As coisas assumem um rumo interessante quando o garoto sugere ao pai que procure uma nova mulher para se casar e tão logo ele se flagra engajado nesta nova missão. Com o auxílio de um bom amigo que trabalha em uma produtora de filmes, Aoyama organiza uma suposta audição voltada para jovens atrizes que pretendem conseguir um primeiro trabalho profissional no ramo do showbusiness. Porém assim que seus olhos recaem sobre os dados de Assami Yamassaki, o homem se vê profundamente apaixonado e se torna incapaz de pensar em qualquer outra pessoa com quem desejaria construir um futuro maravilhosamente repleto de alegria e amor. Contudo, a despeito de todos os avisos que recebe por parte de amigos e pessoas próximas, o tolo Aoyama se recusa a reconhecer os perigos que a doce Assami pode representar, afinal, existe algo de muito errado com aquela ex-bailarina de apenas 24 anos.
Ry? Murakami é um autor japonês bastante famoso por escrever obras que despertam sentimentos conflitantes e incentivam boas reflexões. Audição foi o meu primeiro contato com o trabalho do mesmo e me deixou de fato bastante pensativa. A história em si é simples, a trama até previsível e sucinta cabendo em menos de 200 páginas. É evidente - como Murakami faz questão de elucidar em seu posfácio - que os fatos transcorridos no livro são utilizados como meio de criticar e expor uma realidade palpável e presente na sociedade japonesa. A questão do isolamento, do luto e das expectativas irreais que os homens - principalmente - projetam sobre a figura da mulher e do matrimônio, bem como o seu papel social. Pessoas vazias, traumatizadas e sequeladas que caminham pelas ruas sem perspectiva de cura, deixando para trás seu próprio rastro de destruição. A obra tem como objetivo exagerar e chocar, causar angústia através do detalhamento exacerbado, de uma violência gráfica, crua e primitiva, deveras visceral. Mas é tudo muito metafórico. Todo esse entendimento se dá apenas nas últimas páginas quando você desacelera e reflete sobre o conjunto total com calma e paciência. Do contrário é só a história de um homem de meia-idade iludido e até bobo - para não dizer cego - que se apaixona por uma descarada golpista cujo passado revela uma procissão de traumas que moldaram sua personalidade vil. E aí mora a questão: todo mundo que sofre na infância se converte em um adulto desprezível?
No geral foi uma leitura muito rápida, mas como eu tinha expectativas altas me frustrei um pouquinho esperando algo a mais. Isso não implica afirmar que o livro é ruim, muito pelo contrário, é bastante interessante e a edição da Darkside está linda. Eu só fiquei aguardando aquele momento grandioso que afinal não veio com tanta intensidade.
Essa obra possui violência explícita e cenas de violência bastante gráfica, recomendo cautela aos indivíduos mais sensíveis.