Pacheco 07/09/2023
Tão essencial quanto Taylor Swift no máximo e identificável como as letras da loirinha…
"As Vantagens de Ser Você" é, como eu devia ter previsto, uma das melhores leituras do meu ano. Já sabia que ia gostar porque, que história de Ray Tavares que eu não gosto? Desde que passei a acompanhar ela lá em 2017, graças aos "12 Signos de Valentina", tudo que consumi que teve o dedo dela - fosse um livro ou uma temporada de uma série -, eu amei!
Não sou uma pessoa difícil de agradar, isso é verdade, mas a gente sabe quando uma história nos conquista mais que outras e a Ray veio e arrebatou mais um espaço no meu coração com esse livro.
A jornada da Ana retrata assuntos sérios, mas numa leveza que a escrita da Ray sempre tem e é um dos motivos de eu nunca duvidar de que vou gostar, mesmo antes de ler uma palavra sequer.
E eu acertei, porque não só gostei, como dei 5 estrelas e favoritei!
Aqui nós encontramos o humor que é característico dela, com diversas referências a cultura pop - não é à toa que cito a Taylor lá em cima - e um linguajar brasileiro, fácil, daqueles que te faz sentir que está ouvindo uma amiga te contar toda a história da vida dela. Como Ted Mosby fez com os filhos na série How I Met Your Mother.
Para não dizer que não existem momentos com palavras difíceis ou em outro idioma, elas até estão por lá, mas todas tendo um motivo plausível para isso. Arriscaria até dizer que torna tudo mais real e cômico, dependendo da situação. Nos capítulos onde encontramos páginas dos livros do Tony Diniz, o tal coach de quem Ana compra o livro, foi assim que eu vi o uso de palavras como mindset ou mindfulness.
Outro ponto que me conquistou foram os personagens e suas relações.
A Ana é uma mulher branca que, se por um lado sabe dos seus privilégios na sociedade, está tão presa na própria frustração com o rumo que sua vida tomou e em como a grama do vizinho sempre parece mais verde (especialmente a da irmã), que não consegue enxergar que, de maneiras diferentes e por motivos distintos, todos estamos nesse mesmo buraco.
A Bárbara mesmo, parece ter a vida perfeita aos seus olhos, com tudo no lugar, sendo uma mulher preta linda, com trabalho que a rende um ótimo salário, um namorado youtuber, entre outras coisas que Ana via no Instagram e também tomou como verdade ao se reencontrarem. É só com o passar do livro que o véu vai caindo e conseguimos ver melhor o que está por trás: uma vida infeliz.
Camila, Luís e Gael são outros personagens que nós vemos melhor em uma determinada cena como até eles tem suas frustrações. Camila é autora de romances eróticos, mas como leitores nós sabemos como essa profissão e o nicho são vistos. Luís é editor de vídeos para youtubers e como muitos, recebe menos do que merecia. E Gael, bem, se namorar uma pessoa que passa o tempo inteiro tendo que resolver perrengue no trabalho, até mesmo quando está de férias já é ruim, imagina como deve ser ver o clima entre sua namorada e outra garota?
E sim, o clima, porque não rola nada enquanto são um casal, disso fiquem tranquilos. Mas não dá para negar que ao longo dos capítulos nós vemos os sentimentos de Ana expostos em seus pensamentos e nas vezes em que sua mente questionava se era só coisa de sua cabeça ou tinha alguma coisa rolando mesmo ali. Um olhar, um abraço mais demorado…
E cada pequena cena desse desenvolvimento me ganhou demais, porque apesar do romance até demorar a acontecer, já que é um slow burn (ou banho maria, abrasileirando o termo), quando acontece faz valer a pena a espera. Trazendo assim para outro ponto que me ganhou demais!
A gente tá tão acostumado a ver casais héteros ganhando mais e mais clichês e cenas de deixar o coração quentinho e nos fazer suspirar, então quando em um determinado momento rolou uma cena que já vi tantas e tantas vezes para casais héteros, vindo de um casal sáfico, fiquei feliz. Só conseguia pensar no tanto de gente que leria aquilo e se veria ali tanto quanto me vejo nas cenas héteros, com ainda mais semelhança que nas dos outros livros. Ali senti felicidade por saber que uma autora que admiro tanto pôs em sua história uma cena clichêzinha que eu amo e de quebra em um romance LGBTQIAP+.
As cenas do trio - Ana, Camila e Luís - também foram ótimas. É tão bom ver como interagem e se ajudam. Eles tiraram férias para irem para o Jalapão, com o retiro de um coach que nenhum deles estava tão certo assim que poderia ajudar, só porque ela sentiu que precisava se enfiar nisso (e comprou para eles irem também, vai, sei que isso pode ter influenciado). Eles fariam e fazem muito por ela e por isso já dá para ver que são os melhores amigos que alguém poderia ter.
Mas o auge de tudo mesmo, a parte que mais me ganhou e deu nome a essa história em todos os sentidos, foi a jornada pessoal da Ana.
A viagem começou como uma atitude impulsiva de alguém que acabou de se demitir, se sentia perdida e precisava se encontrar - além de querer rever a crush da adolescência -, mas conforme tudo acontece, se torna muito mais. E não é só pelo tanto de perrengue que passam que os aproxima ainda mais ou apresenta para a Ana coisas que rede social nenhuma podia mostrar. Não, é por como toda aquela jornada por caminhos tortos e imprevistos acaba sendo o necessário para chegar aonde precisava e em conversas que tinham que acontecer.
Só eu sei o quanto me emocionei e chorei com essas conversas, em um nível que mesmo parando a leitura ou indo para os agradecimentos, não passou. O período que estava contribuiu, mas a necessidade dos familiares e amigos em serem sinceros, com certeza, é o que mais pega.
Eu me identifiquei demais com as inseguranças da Ana e é por esse pensamento que percebo o quão importante foi para mim ler esse livro, mas mais importante ainda é passar adiante a palavra dele.
Não confie de olhos fechados em alguém só porque essa pessoa te garante todas as respostas. Mas confiem que tudo é um processo e um dia as coisas irão dar certo para todos nós. E leiam, se inspirem, sejam felizes sendo quem são e sempre se cerque de quem enxerga você como é, com qualidades e defeitos, com alegrias e frustrações e esteja com você em todos esses momentos.
Nem que seja pedindo ao namorado que dê uma carona para você e seus amigos até o retiro para onde vai ou embarcando na sua onda só porque te ama e o amor tem dessas.