Mari 23/12/2022
Nunca tinha lido nada desse autor, que é brasileiro mas também mestre em estudos árabes pela Universidade de Madri, e como jornalista já fez várias coberturas na Síria.
Esse livro então, foi uma inovação, uma ficção de estreia, mas retratou a imigração sírio-libanesa pro Brasil, e as sequelas do mandato francês na Síria e no Líbano com a delicadeza dos poetas, em um romance muito lindo sobre distância e saudade de casa; uma saudade que a gente nunca vai entender, claro.
Tudo bem que sou suspeita pra falar, porque a pegada da escrita brasileira já me fisga logo no começo, mas é mesmo inegável que a história, não só sobre distância, mas também o medo de vários possíveis futuros, a influência em si mesmo das próprias decisões, sobre São Paulo de 1930 e, principalmente, sobre religião, tem uma poesia muito forte, no estilo de ?Antes de nascer o mundo?, e o mesmo estilo de relação pessoa/natureza/campo espacial (quem gosta de ler Mia Couto pode ir forte).
Na história, uma dupla de amigos vive uma vida simples em uma vila, e quando um deles anuncia que vai embora, o outro começa uma sequência de sofrimento, sentimentos, medo e um luto antecipado, que depois vai se tornar um luto real. Eu particularmente gosto muito de livros sobre o luto, talvez por nunca ter passado por algo parecido, mas acho que esse em especial me tirou da minha zona de conforto. Realmente, não é um livro confortável, mas livros bons são exatamente esses, e o autor parece ter se comprometido com a ideia de relembrar que é preciso força também pra se ferir com as lembranças.
Um livro sobre a imigração dolorosa, e sobre a historia de ?uma Síria que também existe no Brasil?. BOM!
Procurando, aleatoriamente, algo que marquei, encontrei: ?Vendo Brutus sorrir, Yacub se enchia de uma impronunciável certeza de que habitava um mundo mais feliz do que o dos outros.?