Israel145 15/06/2016A segunda guerra mundial foi a guerra dos holocaustos. Tanto a matança desenfreada no front, como o extermínio dos judeus nos campos de concentração remetem à tragédias indeléveis e suas cicatrizes percorrem o seio da história moderna dividindo-a no mundo pré e pós-guerra. Este então nunca mais foi o mesmo. O balanço final da guerra foi o horror.
Uma das maiores cicatrizes foi o lançamento das bombas atômicas de Hiroshima e Nagazaki em agosto de 1945, destroçando um país falido que por orgulho e manipulações político-militares teimava em se render. O pior que neste país falido e tomado por um pseudo-nacionalismo de terror residia os cidadãos pacatos que simplesmente queriam seguir com sua vida em meio ao racionamento e aos bombardeios dos Boeing B-29s americanos: as pessoas normais.
A história que Charles Pellegrino narra com viés jornalístico conta a história das pessoas normais, mas que compunha um grupo peculiar: O grupo que sobreviveu ao cataclismo das duas explosões nucleares de Hiroshima (06 de agosto de 1945) e Nagazaki (09 de agosto de 1945). O livro de Pellegrino é emocionante porque é uma muito bem articulada colcha de retalhos costurada magnificamente com uma pesquisa séria em torno do tema. Sua narrativa é espetacular.
Os primeiros capítulos que narram os detalhes do resultado da explosão da bomba de Urânio em Hiroshima são de tirar o fôlego. O autor compilou e organizou de maneira precisa os fatos numa narrativa jornalística que não fica atrás dos grandes clássicos da literatura. O horror indescritível narrado no livro se torna mais angustiante porque o autor reconstituiu a trajetória do grupo sobrevivente até os momentos iniciais do lançamento da bomba de Nagasaki, dessa vez de plutônio. As duas bombas ceifaram a vida de aproximadamente 250 mil japoneses. As primeiras mortes ocorreram quase de forma instantânea e correspondeu a metade dessas mortes. O clarão e a onda de choque (Pika-don) simplesmente vaporizava tudo o que encontrava pela frente.
A história desses sobreviventes narrada por Pellegrino é de uma precisão científica fascinante. Não se trata de apenas narrar os fatos em si, mas contextualizar todos os fatos (científicos, políticos, sociais e culturais) resultantes de um trabalho de pesquisa hercúleo e que resultou num livro excepcional.
As vítimas da bomba, antes de serem sobreviventes eram pessoas comuns, e a bomba os transformou em testemunhas vivas dos horrores da guerra, talvez o mais apavorante, pois se a bomba não realizava a morte instantânea, relegava o sobrevivente à morte lenta decorrente dos efeitos da radiação. Aos que ficavam no meio desse grupo, só restava o apodrecimento em vida.
O livro de não-ficção de Pellegrino montou a história do grupo de sobreviventes e de sua mensagem de paz e vida na aurora do novo mundo. Aos que sobreviveram, sobrou encarar a realidade de viver com a imagem de um dos maiores horrores da história.