@fernandajfguimaraes 29/06/2020
Duro, forte, direto, sensível, cativante.
¶Leitura finalizada e uma sensação de abandono e perda no coração. Acredito que o momento histórico que nós estamos vivendo, especialmente nós brasileiros, me fez mergulhar fundo na história da Natalia Ginzburg e, inclusive enxergar, talvez de maneira muito equivocada, pontes entre o enredo de Todos os Nossos Ontens e a realidade pandêmica e política atuais.
¶Eu me apaixonei pela escrita da Natalia. Não sou formada na área de Letras, não tenho formação literária, resumindo, sou leiga. Entretanto, vou tentar expressar o que senti, sem dar spoilers.
¶A Natalia me cativou com sua escrita dura, direta, seca, sarcástica. Senti uma espécie de humor interno, algo que só quem realmente mergulha na história, percebe. Não demorei para entrar no ritmo dela. Um ritmo para muitas pessoas, esquisito. Percebi que vários leitores não gostaram da forma como ela escreve, muitos acharam que a narrativa se arrastava e, ao longo de muitas páginas, era como se nada acontecia. Contudo, creio que isso se deva ao fato de que muitos criaram falsas expectativas, na ânsia de ver uma típica história com grandes e arrebatadores fatos sobre a II Guerra e o Nazifascismo. Ledo engano. Na verdade, o ritmo da escrita é controlado pela forma peculiar de pontuação. Eu achei isso de uma maestria extraordinária.
¶Senti que o "pulo do gato" da Natalia foi justamente tecer seu enredo nas minúcias do cotidiano de pessoas comuns, como qualquer um de nós, simples mortais. Suas personagens, da minha perspectiva, se encaixam em tipos muito triviais que reagem das formas mais inusitadas diante de crises e conflitos. Temos os covardes e inúteis, temos os fúteis e alienados, temos os ingênuos sonhadores, temos os desesperados e surtados, temos os lúcidos e conscientes, temos os aproveitadores, temos os corajosos.
¶Também temos uma narrativa em duas partes que ora nos apresenta a região Norte da Itália, sua burguesia, seu ritmo urbano-industrial, mais tarde o despontar da resistencia; ora apresenta a região Sul com sua rotina mais lenta e seus camponeses. Cada uma reagindo de maneiras diferentes à crise.
¶Enfim, essa obra ficará guardada em um lugar especial da minha memória. Recomendo!