Derrubar árvores

Derrubar árvores Thomas Bernhard




Resenhas - Derrubar árvores


6 encontrados | exibindo 1 a 6


Gabriel 12/12/2023

A arte e suas idiossincrasias de classe aqui é fomentada, desenvolvida e aniquilada pelos caminhos de seu próprio labirinto.
O labirinto tem como característica o desafio de se achar uma saída; ou seja, é muito mais fácil se perder nele do que se encontrar. A arte - como todas as áreas do conhecimento - faz parte de um campo de disputa político e cultural. Em nosso contexto é a (pequena) burguesia que a comanda e fomenta, e é ela que se mostra como o objeto de observação de Bernhard. Mais objetivamente: é em uma sala de jantar artístico que o narrador observa a fauna que compõe o métier dos supostos intelectuais que fazem parte do encontro. Um palco apropriado para uma representação da persona no mundo das aparências. Ali o narrador nos conduz de forma obsessiva e irritadiça pelas hipocrisias e contradições de uma classe artística medíocre, organizada e comprometida apenas com seus próprios interesses. Nem a morte por suicídio de uma colega ocorrida dias antes do jantar - e cujo objetivo do próprio jantar era também homenageá-la - é capaz de frear o mise en scène. O narrador em uma espécie de organização mental destila seu ódio contra todos que fazem parte da cena, mas de certa forma está lá, mesmo não querendo faz parte do grupo. Quer se afastar, romper com esse modus operandi, há anos os abandonou mas está lá, mesmo distante o narrador/escritor ainda pertence a esse ethos artístico. Durante essa observação, porém, um dos presentes no jantar - a principal atração da noite, um ator representante de um famoso teatro vienense - o faz mudar de perspectiva. Agora, por um breve momento, há algo de interessante nesse encontro, uma atitude inesperada: uma irritação contra um dos membros do petit comité. Um ataque que funciona como um salto filosófico, talvez não para o ator apenas, mas principalmente para o narrador/escritor. Talvez haja uma esperança. A obra do narrador (e por que não do próprio Bernhard) é uma provocação. A provocação para uma autoanalise; para um pensamento crítico que a arte deveria exercer, mas que ficou estabelecida nas mãos de quem se sujeitou a bajulação e compadrios. Ao final a agonia, a irritação e a pressa do narrador vira quase um antídoto, uma chamada ao centro aterrado como lembrança contra a estagnação e o meio (o mundo da arte) que nos influencia e paralisa que constantemente devemos questionar. A arte estacionada não semeia futuro, se é que há algum.
comentários(0)comente



Karen 08/12/2023

Como eu vim parar aqui?
O título da minha resenha também poderia ser uma pergunta sobre como cheguei ao livro - lendo outro livro ( DERRUBAR ÁRVORES é citado em ESCRITORES&AMANTES de Lily King).
Demorei mais do que havia programado para finalizar a leitura por conta das constantes repetições do autor sobre os fatos - apenas no final entendi a piada.
Inteligente, irônico, sem papas na língua e deixando claro para todos que a vida não é justa e o que ela espera de todos nós é coragem!
"Ninguém tem direito nenhum, pensei. O mundo, tudo que há neste mundo, é a injustiça, pensei. Os sere humanos são o injusto, e o injusto é tudo, essa é que é a verdade, pensei, o que não é direito".
comentários(0)comente



EstAfani.Sandmann 24/09/2023

Uma irritação
Ao final do livro me espanta que ao mesmo tempo em que eu tenha amado ele eu o odiei.
Fico aqui pensando se foi essa a intenção do autor?
Porque cada personagem descrito era um amor é um ódio que ele possuia, pois revela um lado dele próprio detestável, mas que ele não conseguia controlar.
Bem, talvez seja essa a real intenção do autor.
Me fazer perceber que ódio e amor e irritação estão sempre flutuando dentro de nós.
comentários(0)comente



arthur966 12/01/2023

corremos atrás das pessoas por anos a fio, mendigamos seu afeto e quando finalmente conquistamos esse afeto não o queremos mais. fugimos delas, elas nos alcançam, nos arrebatam para si, e nós nos submetemos a elas, a cada um de seus ditames, pensei, nos entregamos a elas até a extinção ou a ruptura. nós fugimos e elas nos alcançam e nos oprimem. corremos atrás delas, suplicamos que nos acolham, e elas nos acolhem e nos matam.
comentários(0)comente



dieipi 23/09/2022

erra nunca
para nos salvarmos numa situação de emergência, penso eu, somos nós próprios tão hipócritas quanto aqueles cuja hipocrisia vivemos criticando e em razão da qual constantemente desprezamos e jogamos na lama o nome de todas essas pessoas, essa é que é a verdade; não somos em nada melhores que elas, as quais percebemos continuamente apenas como seres humanos insuportáveis e nojentos, como pessoas repulsivas, com as quais queremos nos relacionar o mínimo possível, ao passo que, afinal, para falar a verdade, nós nos relacionamos com elas a todo momento e somos exatamente como elas. atribuímos a todas essas pessoas tudo quanto possa haver de insuportável e repugnante, nós as recriminamos por isso, mas não somos menos insuportáveis e repugnantes que elas, talvez sejamos até bem mais insuportáveis e repugnantes, penso eu.
comentários(0)comente



6 encontrados | exibindo 1 a 6


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR