Natalia.Tamaio 10/03/2024
Ciranda na qual qm está não sai, e quem está fora não entra
Ciranda de Pedra foi meu primeiro contato com a autora brasileira Lygia Fagundes Telles, que foi indicada ao Nobel de Literatura, e também o primeiro livro nacional que eu li neste ano de 2024. Ele se passa na década de 50 e conta a história de Virginia, a caçula de três irmãs e filha de um casal que se separou, e agora Virginia mora com a mãe e o novo padrasto ? a quem chama de tio ? em uma casa diferente da residência luxuosa do pai, Natercio. Podemos dizer que Ciranda de Pedra é um romance de formação, porque vamos observando justamente o decorrer da vida de Virginia: a primeira parte do livro trata de sua infância e dá a entender que a personagem está entre os 7 e 10 anos, e a segunda parte mostra ela já voltando, por volta dos 20 anos, do internato para onde foi morar e enfim para a convivência com a família.
O que mais me chamou a atenção com certeza foi Lygia, a autora, montar um enredo desse em uma época em que o divórcio sequer era permitido por lei, ou seja, temos a oportunidade de acompanhar de perto as reações e consequências vividas pela família com relação ao escândalo da separação. Embora Lygia não aborde o impacto e a opinião da sociedade sobre a família (não é isso que ela tem interesse em mostrar, mesmo porque essa é a parte óbvia), ela traz justamente qual foi a reação e comportamento a partir de então dos próprios membros da família: de Natercio, o marido traído; de Bruna, a filha mais velha religiosa; de Otavia, a filha do meio que se assemelha à mãe e é artista e de ambas as empregadas: Frau Herta, governanta da casa de seu Natercio, e Luciana, empregada da casa onde vivem Laura, a mãe de Virginia; a menina e seu padrasto.
O livro traz pelo menos três reviravoltas importantes na vida de Virginia e sua família, e acho que foi por conta delas que gostei muito da leitura ? dei 4,5 estrelas como avaliação. Indico para qualquer pessoa que goste dessas histórias mais mundanas e dramáticas de famílias, que goste de entender a formação de personalidade e a hipocrisia de alguns comportamentos que observamos quando adultos ? e que enfim fazem sumir o aspecto de ?semideuses? que atribuímos a algumas pessoas quando éramos crianças.