spoiler visualizarLady Lazarus 02/01/2023
A morte de Vivek Oji
Tenho certeza que eu e Nnemdi seríamos boas amigas.
Esse livro tem símbolos importantes às pessoas que fazem o possível para resistir em suas existências invisíveis. A força da Nnemdi em crescer lentamente em um ambiente de aceitação com as amigas e pouco a pouco, silenciosamente, tomar espaços cada vez maiores ? e mais arriscados ? para ser, simplesmente ser, carrega uma mensagem muito simbólica e fundamental para pessoas trans que, confinadas em condicionamentos opressivos, lutam em defesa de uma existência violentada, mas tendo que se fazer despercebida. Viver assim traz uma espécie de grito sufocado que busca dizer ?Eu sou! Eu sou! Eu sou!?*, ler esse livro é a chance de ouvir a voz de Nnemdi.
Sinceramente amei os cenários do livro, criei imagens tão vívidas e isso é mérito de Emezi. O fluxo não linear de eventos também é muito entremeado, de modo que as coisas se encaixam sempre e você não fica com a sensação de ?O que aconteceu primeiro? Isso ou isso??
Nnemdi é, definitivamente, a personagem mais aprofundada. Gostaria de poder ter me afeiçoado um pouco mais com Somto, Olunne, Juju, Elizabeth? Acho que fiquei com uma impressão muito rasa delas, resumida em caracterizações soltas. Elas desempenham um papel vital para a protagonista, sinto que faltou um adensamento em quem são, especialmente nas próprias perspectivas de aliança, gênero e sexualidade.
Claro, isso não é exatamente uma negativa na leitura do livro, meu único ponto é que como as personagens são amáveis e o universo de Emezi é instigante, eu não me importaria em ler mais umas páginas se isso significasse me conectar ainda mais com as meninas.
Meu último comentário é entre a relação da Nnemdi e Kavita. A cena em que a mãe aceita que ?Vivek? é muito mais uma construção pessoal do que a pessoa de fato, é poderoso. É um lembrete crucial de como a existência tem uma gênese muito pessoal e pode frustrar pais de pessoas queer quando alimentada uma concepção de quem seus filhos deveriam ser, em vez de acolher quem são de fato. Ainda mais lindo ver Kavita, não digo nem que tardiamente, disposta a abraçar a descoberta dessa identidade.
* palavras emprestadas de Sylvia Plath. ?I am I am I am?