nalurodrigues 04/09/2022
Lindo e Tenebroso
Muito antes de Edward e Bela, Théophile Gautier nos trouxe o romance entre um vampiro e uma humana que eu, sinceramente, não achei que fosse gostar tanto. Por ser um clássico (e dos bem antigos!), achei que a leitura ia ser desgastante, mas foi, surpreendentemente, fluido pra mim. A forma como Romuald descreve Clarimonde é divina, arrebatadora e, ao mesmo tempo, revoltante. Ele é um personagem tão sufocado pela sociedade que mesmo o amor que sente por Clarimonde lhe parece algo pecaminoso. Amar alguém a ponto de compará-la a Deus é algo muito significativo para alguém tão fervoroso em sua fé, principalmente sendo um padre. Por nunca entrar em contato com o "mundo mortal", por assim dizer, estando constantemente confinado em meditação, todos os sentimentos e descobertas de Romuald lhe parecem blafemos, pecaminosos até. Ser vaidoso, amar alguém, gostar de roupas finas, penteados da moda, tudo parece diabólico, um plano malígno para afastá-lo de Deus. Muitos podem achar que as vezes em que ele fala sobre Clarimonde e nos aconselha a não se apaixonar possa ser uma vilanização da figura feminina (o que, devido à época, é praticamente indubitável). Na minha interpretação, no entanto, essas sugestões são meramente uma forma de ajudar o leitor a se prevenir da decepção de se expor demais, amar demais, ceder demais, só pra ver o que mais ama lhe ser tirado posteriormente e deixá-lo com uma vida que você não escolheu, que você sequer quis. Sozinho.
"Oh, irmão, medite bem sobre isso! Por ter levantado uma única vez o olhar para uma mulher, por uma falta aparentemente tão leve, experimentei durante vários anos as mais miseráveis agitações; minha vida foi perturbada para todo o sempre"
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