Ismael.Chaves 16/10/2023
Um belíssimo trabalho editorial para uma das mais importantes novelas góticas de vampiros
Ao contrário do que se costuma pensar ou propagar por aí, a clássica novela gótica "Carmilla" (1872) não foi a primeira vampira da literatura.
Sua nobre linhagem inclui uma lista de importantes obras em verso e prosa, como "A Noiva de Corinto" (1797) de Johann Wolfgang von Goethe, "Thalaba the Destroyer" (1801) de Robert Southey, "Die Todtenbraut" (1860) de Gottfried Peter Rauschnik (traduzido e publicado como "A Noiva Morta" pelas editoras Clepsidra/Wish), "LaBt die Todten ruhen" (1822) de Ernst Raupach e "Christabel" (1816) de Samuel Taylor Coleridge.
Além do clássico "A Morta Apaixonada" (1836) de Théophile Gautier, que ganha aqui a sua mais bela edição em português pelas editoras Sebo Clepsidra e Wish, com tradução e prefácio de Bruno Anselmi Matangrano e ilustrações incríveis de Caroline Murta.
Na obra, um jovem padre vive o celibato e a castidade, mas nada poderia prepará-lo para a maior tentação de todas: um amor recíproco e sincero, capaz de vencer a morte... ao custo de apenas algumas porções do seu sangue.
Se nas obras citadas acima encontramos o vampiro como uma criatura monstruosa sedenta por sangue, conforme o antigo folclore europeu, na obra de Gautier conhecemos Clarimonde, cuja beleza ao mesmo tempo divina e diabólica, assim como sua busca pelo amor, serviria de base para estabelecer o padrão clássico dos vampiros na cultura pop. Mais do que horror, esta é a história de um amor proibido, seja pelas convenções morais da sociedade, seja pelo dilema impossível entre vida e morte.
Nesta edição, também encontramos três contos ("O Cachimbo de Ópio", "O Pé da Múmia" e "O Cavaleiro Duplo") e um poema ("As Marcas Amarelas") de Gautier, além de uma biografia do autor assinada por Cid Vale Ferreira. Imperdível.
"Ela me dizia: Se você quer ser meu, eu o farei mais feliz que o próprio Deus em seu Paraíso. Os anjos o invejarão. Rasgue essa fúnebre mortalha com a qual você vai se envolver; eu sou a beleza, eu sou a juventude, eu sou a vida. Venha a mim. Seremos o amor. O que Jeová pode oferecer a você como compensação?" (pág.58)