spoiler visualizarLulu 02/06/2023
Uma distopia brasileira?
?Gente é uma peste, minha filha, uma peste que Deus fez e isolou aqui na Terra pra não se alastrar pro universo inteiro. Ainda bem!? Fala de Dona Carmen, mãe de Constância, página 80.
Não consegui deixar de relembrar essa frase ao decorrer do livro. Retomo o meu comentário sobre ter sido uma surpresa agradável ler esta obra. Fui motivada a comprar ?Corpos Secos? devido às falas do meu professor no terceiro ano, quando aprendíamos sobre química orgânica e ele trazia as problemáticas acerca do uso demasiado de agrotóxicos no Brasil. Então li a sinopse em 2022, condizendo com a abordagem do assunto na escola, e fiquei curiosa em saber como seria desenvolvida essa narrativa.
Imaginava, por se escrito por quatro pessoas, um desastre literário e muita confusão. Porém, todo enredo foi muito bem costurado, sem brechas para qualquer erro relacionado a narrativa. Ouvi que muitas pessoas leram esse livro ainda na pandemia e acho que se eu tivesse tomado o mesmo rumo acabaria enlouquecendo. Os autores conseguiram demonstrar todas as emoções dos personagens de forma indescritível, o sentimento cru e o lado selvagem do ser humano quando se há poucas alternativas de sobrevivência vão marcando cada página, trazendo consigo as mais remotas lembranças do período da quarentena. Onde o sofrimento, o medo e a não compressão cegaram muita gente, tendo como resultado o desespero e a violência.
Creio que entre todos os personagens, Murilo me marcou muito. Quando ele oscilava entre afirmações sobre ser um adulto e uma criança acabaram mexendo bastante comigo. Murilo era um adulto para segurar um revólver, para não reclamar quando se sentia cansado, mas ainda uma criança que necessitava de proteção e que, na essência, restava alguma inocência meio quebrada.
Por fim, gostaria de dizer que somos todos monstros e pestes, sim. Sabemos sobre o erro, porém não evitamos repeti-ló. Somos gananciosos e por enquanto, quando as consequências ainda não afetam tanto, ignoramos os avisos da natureza. Temo, porque já estivemos próximos a ser um bando de corpos secos, vagando a esmo e sem valor algum. Até quando prestaremos um papel passivo diante de erros que não nos pertencem? No entanto, é bom lembrar, não são nossos erros, mas acabam nos atingindo do mesmo jeito.