Adriana Scarpin
09/02/2024Satantango estreava há 30 anos no Festival de Berlin.
Filme do Tarr/livro do Krasznahorkai
Vou comentar tanto o livro quanto o filme porque talvez essa seja a adaptação mais fiel que vi na vida. Veja bem, nem sempre acho fidelidade uma boa ideia em relação à adaptações de livros em filmes, acho inclusive um tipo pobre de transposição de linguagem, mas estamos falando de Bela Tarr aqui, um dos maiores cineastas dos últimos 50 anos.
Krasznahorkai usa parágrafos infinitos para escrever seu livro, isso se transforma em planos sequência no filme de Tarr, já no plano sequência inicial o diretor resume todo o filme: o gado debandando pra longe.
Tarr também mantém a estrutura narrativa do livro no filme no ritmo do tango, seis pra lá, seis pra cá. E mantém a questão do título nas possíveis significações, a própria questão coletiva de ser um "tango de Satã" as 12 partes do livro com idas e vindas e um eterno retorno circular nietzschiano, o tango de Satã na taverna antes da chegada de Irimiás, este que por sua vez tem todas as características de um personagem luciferiano e o tango pode ser como ele manipula e amedronta as pessoas na comuna, seis pra lá, seis pra cá.
É um filme/livro muito rico simbólica e estruturalmente, podia passar a noite toda escrevendo sobre ele (nem mencionei a alegoria do regime comunista!), até deu vontade de relê-lo assim que terminei, mas ainda bem que eu tinha o filme pra ver.
Plus: Para quem ficou preocupado com a morte do gato no filme, havia um veterinário no set cuidado dele, ele não morreu. Quando li no livro fiquei preocupada porque esses cineastas pré anos 2000 matavam bichos a torto e direito nas filmagens por aí.