Lições

Lições Ian McEwan




Resenhas - Lições


14 encontrados | exibindo 1 a 14


Biblioteca Álvaro Guerra 08/02/2024

A vida de Roland Baines segue a história mundial ainda que tente lutar contra ela. Assombrado por oportunidades perdidas , ele procura consolo em todos os meios possíveis : música ,literatura ,amigos ,sexo ,política e, por fim , amor um amor interrompido seguido de um poeticamente redimido .

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9788559211210
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fabio.orlandini 25/01/2024

Livro para se pensar.
O livro demora um pouco para engatar, a história parece não ter um grande plot. Mas, o autor, com.maestria, vai nos deixando tão íntimos do personagem principal que não queremos mais nos separar dele.
O livro é sobre um homem comum diante de todas as modificações do mundo, questionando nosso papel com a família, a sociedade e o planeta.
Inúmeras reflexões que vão realmente de encontro com o título do livro.
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Crixtina 20/11/2023

Lições
A história se inicia na segunda metade do século XX e vai até a pandemia de Covid-19, Ian McEwan conta a vida Roland Baines que acumula poucos sucessos e incontáveis fracassos. O protagonista tem a vida marcada por um evento em sua adolescência que, aparentemente, influenciou negativamente todo o decorrer de sua vida.
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ju caruso 08/08/2023

Demorei para encontrar o meu sentimento sobre esse livro. A escrita, demorada e longa demais - me perdeu em diversos momentos. De outro lado, uma narrativa densa e profunda que me levou a pensar tanto sobre a brevidade da vida (clichê talvez, mas muito potente da forma como foi narrada).

Teria sido um livro espetacular - de perder o fôlego -, se fosse mais enxuta as descrições que, ao meu ver, foram desnecessárias.
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Livros e Pão 11/06/2023

Boyhood do McEwan
Que livro, senhoras e senhores. Lições é um retrato tão histórico como íntimo, com Ian McEwan não tendo medo algum de abordar assuntos extremamente complexos sem tentar dar alguma lição de moral sobre eles (algo raro). Este livro tem 568 páginas e capítulos beeem longos, mas, quando estava próxima do fim, não queria que acabasse. É um livraço e o amei de início ao fim. Sinto que vou sentir falta de Roland, Lawrence e até mesmo de Alissa.
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arlete.augusto.1 30/05/2023

Livro para ler de novo
Só não dei 5 estrelas porque a estória demora um pouco para engatar, mas depois você não quer mais parar de ler. Gosto do autor, sua forma de contar as estórias, com vagar. O livro narra em primeira pessoa a vida de Roland, desde seu nascimento, em 1949, a geração do pos guerra, até os dias atuais, 2021. Um homem comum com uma vida medíocre, marcada pela solidão de ter sido enviado para um internato com 11 anos - um bom internato, sem nada macabro -, e um romance apimentado e extremamente precoce com sua professora de piano aos 13 anos, que o marcará pela vida toda. As profundas mudanças havidas nesse período servem não apenas como cenário, mas levam a ótimas reflexões. A música clássica, o jazz, a arte, a mitologia permeiam o livro. Vários trechos são primorosos, daqueles que te levam a reler várias vezes e parar para pensar. A juventude, a maturidade e o envelhecimento são abordados com realismo. As personagens são muito bem construídas, cada uma moldada de acordo com suas próprias experiências e contingências, de uma época, de suas escolhas, da própria sorte.
Fico admirada com a maestria de alguns poucos autores que conseguem a partir de histórias de vida banais, construir estórias tão profundas e interessantes.
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Racestari 10/05/2023

Vale a pena.
Até que a gente se acostume o livro dá umas emperradas, mas depois flui de uma maneira deliciosa. Não encontrei defeitos e recomendo.
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Marcus 21/04/2023

Um homem que nunca amou demais
Roland Baines é um homem europeu, marcado por relacionamentos e abandonos. Através de sua história, percorremos os principais fatos dos últimos 80 anos no mundo. Da segunda guerra mundial à covid.
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lara 06/04/2023

Lições
Eu simplesmente AMO o ian McEwan
que livro bom, como conta a vida toda de um garoto, seus traumas e etc
amei dms
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cris.naka.1 01/03/2023

A existência precede a essência
Roland, um adolescente filho de um oficial libanês e uma mãe dona de casa é aceito em um colégio interno em Londres e inicia junto das matérias curriculares aulas particulares com Miriam, uma professora de piano 10 anos mais velha e que sinceramente merecia uma boa sentença de prisão e uma terapia.
Ele, depois de experimentar uma sedução e abuso psicológico e físico da professora de piano, vê, ao longo de todos seus anos de vida até a velhice, as repercussões dessas “lições” em sua formação de caráter e carreira. De modo bem sartriano, o livro discute justamente como a existência do personagem frente a estes e outros eventos define sua essência ao final da vida.
Esse livro, apesar de retratar esta narrativa principal um tanto avassaladora e instigante, é uma obra repleta de narrativas paralelas com personagens complexos e análises políticas do século XX e XXI. Relata isso com uma primeira pessoa que transpassa não somente o limiar temporal (passado no internato, presente na crise de Chernobyl e futuro com a covid-19), mas também transpassa o próprio limiar individual do protagonista.
Muitas vezes ao longo desse livro o leitor é obrigado a interromper sua narrativa prazerosa de uma das histórias do passado ou de um personagem querido na trama da vida de Roland (particularmente eu me apaixonei pela figura de Jane), para depois cair em um conto arrastado e desinteressante. Vide Alissa - outra que merece terapia.
Essa característica foi um ponto tão bom, quanto ruim no livro, pois, como já dito, proporcionou uma emoção extra ao dar gancho para a continuação da história instigante ao mesmo tempo que voltava ao detalhamento de algo chato repetidamente.
Em geral, isso não fez o livro ficar ruim em si, mas impediu ele de ser ótimo. Ainda mais porque alguns personagens ficaram meio deslocados ou inconclusivos em minha opinião, como o Robert, cuja existência para mim não acrescentou muito ao livro, e os pais de Roland, que tiveram a narrativa tão intercortada que fez com que eu assumisse vários erros ao longo do livro.
Apesar disso, o livro teve uma boa impressão em mim ao mostrar realmente a vida toda do personagem principal com tantas camadas e riqueza de detalhes que é impossível não se apegar e se sentir tentado a acompanhar a completude de suas decisões.
Para os que não leram o livro, é um livro bem escrito e aqui fica minha recomendação. Para os que o leram, segue a baixo ainda algumas análises com spoilers de pontos especiais do livro para mim:
• Existem análises e divagações que o autor escreve que me deixaram encabulada pensando nisso por dias. Um exemplo é quando o jovem Roland estava esfregando o chão do quarto no internato e, entediado, conclui “Com uma das mãos, pegou o esfregão, encheu um balde e limpou a sujeira, espalhando-a por toda parte. Era assim que se limpava a maioria das sujeiras, reduzindo-as a camadas tão finas que se tornavam invisíveis”. Uma análise tão banal, mas que me chamou muito a minha atenção pelo seu paralelo com as próprias “sujeiras” da vida, experiências traumatizantes que tendemos a superar tornando-as invisíveis sem nunca exterminá-las.
• Um momento de análise belo também foi quando Roland se depara com a primeira marca de sua vida adulta: o espanto de ter opções voluntárias e responsabilidades. Isso foi visto com a comparação dele da vida anterior na Líbia, em que os pais lhe regulavam os horários e as “únicas datas verdadeiras eram aniversário e natal”, com a vida no internato, em que ele deveria se regular sozinho e tornar-se “escravo do relógio”, sob recompensa pessoal.
• Toda a descrição de Jane e do movimento Rosa Branca, alias, me fizeram ficar eufórica. Uma das melhores histórias do livro de fato. Nem há o que comentar.
• A descrição de toda a vivência com a Miriam, ainda, me deixou embasbacada, tanto de raiva, quanto de tristeza. A parte em que Roland chora e grita sozinho após pensar que Miriam o havia largado por falar de Jazz nas suas aulas de piano clássico foi um dos momentos mais vulneráveis do protagonista em todos seus 76 anos de vida. Você sente junto dele toda a angústia da separação mesmo sabendo que esse relacionamento não era nem um pouco saudável. Quer dizer... a mulher era doente pra dizer o mínimo. Literalmente sequestrou o menino, tinha um emocional inconstante e impulsivo, aprisionou a mente e os pertences do garoto, aniquilando totalmente sua individualidade e dando apenas um vício para dá-lo um sentido de ser... Se isso não é brutal, não sei o que é. O menino ficou tão aprisionado que mesmo aos seus 60 anos, adulto e ciente do crime sofrido, não conseguiu dizer não a essa mulher, que tentou todos os tipos de manipulação para sair limpa.
• Junto com Jane, outro personagem pelo qual eu me apaixonei foi o Lawrence, tanto quando ele era um pequeno prodígio e divagava sobre a teoria dos números primos e o desgaste das engrenagens (que até agora não entendi), quanto na vida adolescente e adulta criando uma família. Amo a parte do pai surtando com o filho sendo rebelde e achando que isso era a sina de ser pai.
• Meu coração se apertou, por fim, também ao ver todas as cenas envolvendo a polícia. A primeira vez, com o mau entendido do assassinato de Alissa pelo poema de Roland, me deixou amarga de ansiedade. A segunda vez, quando o policial conseguiu retirar o depoimento de Roland contra Miriam, me deixou eufórica. Não é possível descrever o quanto eu torci para que ele revelasse esse terrível segredo para alguém que lhe pudesse ajudar... pena que o policial não exatamente tinha esse interesse e Daphne só veio tempos depois a saber. O filho nunca soube...
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edu basílio 19/02/2023

um mcewan looongo & morno

seria viés da expectativa meu?
seria meu incômodo -- flertando com a decepção -- devido a eu ter esperado um show literário do calibre de "reparação", de "máquinas como eu", de "o inocente", de "solar", por parte do autor que nos entregou esses romances memoráveis?
vai saber... por óbvio, não tenho recuo suficiente para dissecar tão a fundo as raízes de minha própria experiência como leitor: só posso reconhecê-la, partilhá-la e observar se ela mais coincidirá com as de outros leitores ou mais divergirá delas.

em termos puramente de escrita, "lições" é um livro tecnicamente inatacável -- afinal, é ian mcewan escrevendo. a trama se propõe resgatar momentos históricos chave da europa dos últimos 70 anos enquanto narra a vida, ao longo dessas 7 décadas, de um homem inglês "comum", abusado na infância por uma professora de piano e abandonado quando adulto pela esposa, que viria a se tornar uma romancista de renome mundial. e é nessa "indefinição de zoom" que a trama acaba por patinar, sem se configurar na íntegra nem como romance histórico, nem como romance de formação.

com efeito, no enredo, o "macro" e o "micro" caminham em paralelo no tempo, porém isso não tem nenhuma relevância real, pois eles não se interseccionam: o protagonista roland não é ator desses eventos históricos e sua vida tampouco sofre deles nenhum impacto singular, único, diferente de qualquer cidadão X que tenha vivido na islândia ou na austrália ou no uruguai ou na tunísia (a cena em que ele acaba "por acidente" em berlim no momento da derrubada do muro, e ainda encontra "por acidente" alguém conhecido ali no meio da muvuca, é uma forçação de barra digna de uma novela das 6 na globo).

o fato é que, no fim das contas, a ordinária vida de roland poderia ter sido contada sem a pirotecnia de eventos históricos anunciada nas sinopses de orelha e contracapa do livro e, sejamos francos, até sem alusão nenhuma a eles no romance. se assim tivesse sido, para o bem da concisão, 350 páginas teriam feito -- talvez melhor -- o serviço entregue em quase 570. um romance sem ambições desmesuradas, centrado unicamente na vida ordinária de seu protagonista, pode sim ser esplêndido. quem leu "stoner", por exemplo, muito provavelmente concordará com isso.

foi ruim? não, não chega a tanto. seria exagerado, ou até injusto, tachá-lo assim.
ocorre que do mcewan eu esperei algo fumegante e foi apenas... morno.

--- para enaltecer algo de bom no livro, eis um trecho "mcewaniano" como adoramos:
"foi embora mais cedo das galerias de quadros, e (...) depois que se encontraram e foram embora juntos, ele soltou o verbo. disse que se, alguma outra vez, precisasse ver mais uma madona com a criança, crucifixo, assunção, anunciação e todo o resto, certamente iria vomitar. historicamente, ele declarou, o cristianismo havia sido uma mão fria e morta que sufocou a imaginação europeia. que dádiva o fato de tal tirania ter terminado! o que parecia ser devoção era a conformidade forçada com um estado mental totalitário. questioná-lo ou desafiá-lo no século XVI seria colocar sua vida em perigo -- tal como protestar contra o realismo socialista na união soviética de stalin. não foi apenas a ciência que o cristianismo obstruíra durante cinquenta gerações, foi quase toda a cultura, quase toda a livre expressão e pesquisa. enterrou as filosofias descomprometidas da antiguidade clássica por séculos, forçou milhares de mentes brilhantes a se enfiarem nos buracos de coelho irrelevantes das chicanas teológicas. espalhou sua assim chamada 'palavra' com violência brutal, sustentando-se graças à tortura, à perseguição e à morte."
[páginas 476-7].

--
Vinicius 19/02/2023minha estante
Engraçado. Só li dois do autor. Um ótimo e outro mediano/fraco. Sua resenha reforçou ainda mais essa ideia do quanto ele varia em suas criações


edu basílio 19/02/2023minha estante
faz muito sentido. é um escritor tecnicamente muito talentoso, mas sem uma obra "coesa". aqui, acho que ele foi muito ousado em 'oscilar o zoom' entre a história da europa e a de seu protagonista. poderia sim ter havido um resultado poderoso, belo, mas eu o percebi como 'borrado': o zoom não focou muito bem nem o macro e nem o micro.


Rodrigo1001 20/02/2023minha estante
Como bem disse Fernanda Mello: ?promessas criam expectativas e expectativas borram maquiagens e comprimem estômagos?. Excelente resenha.


edu basílio 20/02/2023minha estante
mas preciso assumir que minhas expectativas foram responsabilidade (ou falta de) só minha, roderick. sem promessas de terceiros. e está tudo bem :-) obrigado pelas suas palavras sempre perspicazes e gentis.


Fernando 21/02/2023minha estante
Poxa, estava c altas expectativas... gostei de capa. Me vi nela...


edu basílio 21/02/2023minha estante
é, foi só mediano... mas o melhor é que, frente à escala de uma vida humana, o número de livros disponíveis é infinito :-) viva os próximos!


Túlio 22/02/2023minha estante
Puxa vida! Uma pena. Mas acontece... hehehe


edu basílio 22/02/2023minha estante
é, túlio, como eu disse, viva os próximos! :-)


Daniel 31/03/2023minha estante
Achei bem chato, viu... Não prendeu nada, nada... Uma pena, ainda mais quando lembro que Reparação é um dos meus livros da vida.


edu basílio 31/03/2023minha estante
a execução técnica até que é agradável, porque o escritor é de fato dos bons... mas é um livro imenso, que sai do nada e chega em coisa nenhuma, né, dani.


Henrique_ 18/06/2023minha estante
Stoner é memorável. Valeu pelo registro das suas impressões, Edu!


edu basílio 18/06/2023minha estante
oi, rique =) eu concordo, acho stoner uma preciosidade. uma demonstração poderosa de que menos é (muito) mais.




DêlaMartins 04/02/2023

A história aos olhos de Roland
Adorei. Roland, britânico, filho de um militar e de uma dona de casa, vive sua vida complicada e diferente, enquanto observa as mudanças globais, desde a metade do século XX, até os dias atuais com a "direitização" do mundo e covid.

Roland passa anos num internato, onde em meados dos anos 1960, vive uma história de assédio por parte de uma professora de música. O que acontece entre eles, além do que já viveu em casa durante sua infância, molda sua vida de alguma forma. Quando adulto, sua mulher o abandona e ele cria seu filho, Lawrence, sozinho. Um homem comum, com uma vida quase comum, sempre em busca de respostas para seus traumas e para o futuro em geral.

Durante a leitura, passamos por Chernobyl, pela Alemanha separada, pela queda do muro em Berlim, pela chegada à lua, pela guerra fria, chegando a Merkel, Boris Johnson, Trump, covid e quarentenas.

É um livro sobre Estado, política, família, amor. E, mesmo parecendo comum, pra mim, Roland é um homem especial, cheio de ideias e ideais, cheio de amor e respeito.

Mais um ponto para Ian McEwan!
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Camila.Moura 06/01/2023

Então?
Uma narrativa que começa com o mundo tentando lidar com as feridas da Segunda Guerra Mundial e vai até a pandemia de covid 19?

Ao longo desses anos, vamos acompanhando os acontecimentos da vida do Roland Baines, os das pessoas ao seu redor, além dos acontecimentos mundiais.

Esse livro contém uma visão histórica diferente de todos que eu já li, pois o protagonista está diretamente ligado a inúmeros acontecimentos.

O seu pai serviu na segunda guerra, o Roland estava presente na queda do muro de Berlim e presenciou a Alemanha dividida, assim como precisou enfrentar o lockdown causado pela Covid 19.

Um fato que eu gostei desse livro é que ele vai alternando entre presente e passado, enquanto o protagonista tenta identificar as motivações que levaram sua esposa a abandonar ele e o filho do casal de apenas 7 meses.

Além disso, o livro é recheado de questões políticas e nos traz diferentes debates.

Porém, por ser um livro com inúmeros detalhes e acontecimentos, ele se torna uma leitura densa e cansativa.

Leia se estiver com tempo e paciência, e claro se gostar de romances históricos.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 27/12/2022

Ian McEwan - Lições
Editora Companhia das Letras - 566 páginas - Tradução de Jorio Dauster - Capa: Alceu Chiesorin - Ilustração de Capa: Tina Berning - Lançamento: 2022.

Ian McEwan está de volta com um dos mais longos e brilhantes romances de sua carreira. A narrativa tem início ao abordar dois momentos distintos na vida do protagonista Roland Baines, primeiramente em outubro de 1962, durante a crise da instalação dos mísseis nucleares em Cuba pela União Soviética, uma provocação aos Estados Unidos que marcou o auge da Guerra Fria entre as duas maiores superpotências da época depois da Segunda Grande Guerra. Roland Baines, então com 14 anos, mantém um relacionamento sexual obsessivo com sua professora de piano, Miriam Cornell, de 25 anos, influenciado pelo temor de que o mundo estivesse prestes a acabar. Em paralelo, acompanhamos em 1986 o término do casamento do mesmo Roland com Alissa que o abandona após o nascimento do filho, deixando apenas um bilhete lacônico: "Não tente me encontrar. Estou bem. Não é culpa sua. Amo você mas isso é definitivo. Tenho vivido uma vida errada. Por favor, tente me perdoar."

Aos poucos, com base em uma série de saltos temporais e a tradicional habilidade narrativa de Ian McEwan, os marcos principais da história são contextualizados e associados também aos eventos principais da História nos séculos XX e XXI (crise dos mísseis em Cuba, queda do muro de Berlim, atentados terroristas, Brexit, Covid-19 etc), antes e depois da precoce relação de Roland Baines com a professora de piano e até o abandono da esposa. Desde então, Roland assumiu uma posição passiva com relação aos muitos desafios que a vida lhe apresentou e, apesar do seu talento em diversas áreas, tais como: música, literatura e tênis, o trauma por ter sido assediado no passado por uma mulher mais velha e a sua decorrente fixação por sexo fizeram com que ele não conseguisse se concentrar em nenhuma atividade em particular, assim como manter uma relação afetiva duradoura.

"Isso era a recordação de um insone, não um sonho. Era a lição de piano outra vez – um assoalho com ladrilhos cor de laranja, uma janela alta, um piano novo numa salinha vazia perto da enfermaria. Aos onze anos, ele tentava tocar uma versão simplificada daquilo que outros conhecem como o primeiro prelúdio de Bach do livro um do Cravo bem temperado. Mas não sabia de nada disso. Não se perguntou se era uma obra famosa ou obscura. Não tinha quando nem onde. Era incapaz de conceber que alguém algum dia se dera ao trabalho de escrevê-la. A música simplesmente estava ali, coisa de escola, ou sombria como uma floresta de pinheiros no inverno, só dele, seu labirinto privado de tristeza fria. Nunca o deixaria ir embora. / A professora estava sentada ao lado dele no banco comprido. Cara redonda, ereta, perfumada, rigorosa. Sua beleza permanecia oculta sob seu jeito de ser: nunca exibia uma expressão de mau humor ou alegria. Alguns meninos diziam que era louca, mas ele duvidava disso." (p. 11)

A trajetória de Roland Baines e as decisões (ou falta de decisões), assim como os incidentes que influenciaram no seu destino – temas abordados em outros romances de Ian McEwan – compõem o foco central do livro que nos faz pensar em nossa própria existência, erros e acertos: "Em momentos de tranquilidade e euforia comunicativa, Roland às vezes refletia sobre os acontecimentos e acidentes, pessoais e globais, minúsculos e grandiosos, que tinham formado e determinado o curso de sua existência. Seu caso não era especial – todos os destinos são constituídos da mesma forma." Outra questão interessante, será que realmente aprendemos com as lições que a vida nos ensina ou geralmente não há mais tempo para mudar, sendo a experiência um acessório inútil depois de certa idade? Como no provérbio: "A experiência é um pente que a vida nos dá quando já não temos cabelo".

"Roland achava que ia ficar de lado, testemunhando a travessia alegre dos berlinenses orientais para a parte ocidental. Em vez disso, foi levado por uma multidão triunfante que fluía para leste na direção da vasta e arenosa terra de ninguém. Resolveu se entregar. Uma parte da história da cidade dividida, do mundo dividido, era sua. Nas suas travessias na década de 1970, nunca poderia ter imaginado que uma cena como aquela pudesse acontecer, um acontecimento de significado tão vasto e carregado de uma carga simbólica tão imensa – se desenrolando no seio de uma multidão pacífica. Pelas mãos de pessoas como ele. Estar ali, pisando no espaço militarizado e proibido, era tão extraordinário como pisar na Lua. Todos sentiam isso. Roland sempre foi cético com respeito aos humorres instáveis das multidões, porém agora tinha a sensação de dissolver-se na alegria geral. A sinistra resolução da Segunda Guerra Mundial estava completa. Uma Alemanha pacífica se uniria. O império russo dissolvia-se sem derramamento de sangue. Uma nova Europa deveria emergir. [...]" (pp. 264-5)

O romance é uma excelente recomendação, tanto para os leitores já iniciados na obra de Ian McEwan quanto para aqueles que desejam conhecer algo daquele que é considerado um dos autores mais criativos e conceituados da literatura inglesa contemporânea. Um livro sensível sobre memória, amor e destino. Finalmente, não há como não torcer pelo personagem que acompanhamos ao longo de mais de quinhentas páginas e que já deixa saudades.

"Segundo Roland, um dos grandes inconvenientes de morrer consistia em ser removido da história. Tendo-a seguido até então, ele necessitava saber como as coisas evoluiriam. O livro de que precisava tinha cem capítulos, um para cada ano: uma história do século XXI. Tal como as coisas se encontravam, ele talvez não fosse além de um quarto do caminho. Uma olhadela de relance no índice bastaria. O aquecimento global catastrófico seria evitado? Uma guerra sino-norte-americana estava inscrita no desenho da história? Será que o surto global de nacionalismo racista cederia lugar a alguma coisa mais generosa, mais construtiva? Seremos capazes de reverter a grande extinção de espécies que está em curso atualmente? A sociedade aberta encontrará maneiras novas e mais justas de florescer? A inteligência artificial nos fará mais sábios, mais loucos ou irrelevantes? Poderemos gerenciar o século sem uma troca de mísseis nucleares? A seu ver, o simples fato de chegarmos intactos ao último dia do século XXI, ao final do livro, seria um triunfo." (p. 549)

Sobre o autor: Ian McEwan nasceu em Aldershot, Inglaterra, em 1948,, uma cidade militar no Sul de Inglaterra. Filho de um oficial do Exército Britânico, acompanhou-o nos seus destacamentos, passando por isso grande parte da sua infância em lugares como a Alemanha, Singapura ou a Líbia. Pouco tempo depois de ter atingido a idade escolar, foi enviado para Inglaterra, onde ingressou num internato estatal, o Woolverstone Hall de Suffolk. Seus livros já lhe renderam uma série de prêmios literários, entre eles o Man Booker Prize, o National Book Critics Circle Award e o Whitbread Award. Dele, a Companhia das Letras já publicou (clique nos links para ler as resenhas do Mundo de K): Reparação (2002), Sábado (2006), Na praia (2007), Amsterdam (2012), A Balada de Adam Henry (2014), Enclausurado (2016), Máquinas como eu (2019).
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