Lovecraft/Poe de Alberto Breccia

Lovecraft/Poe de Alberto Breccia Edgar Allan Poe




Resenhas - Lovecraft/Poe de Alberto Breccia


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Margarete 07/04/2024

Mais do que perfeito!
O que dizer sobre Breccia? Ele é sempre bom, mais do que bom, perfeito. Sempre nos surpreende com tantas técnicas diferentes, com uma narrativa em quadrinhos impressionante. Na verdade cada quadro dele poderia ser pendurado na parede como uma pintura por aí só. E esse volume reúne contos de Lovecraft e Poe, dois gigantes da literatura, com a arte desse gigante dos quadrinhos. Não tem como ficar melhor.
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Biblioteca Álvaro Guerra 20/10/2023

Em recriações de contos clássicos como "O Chamado de Cthulhu", "O Horror de Dunwich", "O Gato Preto" e "O Coração Delator", Alberto Breccia criou uma obra de culto. Nela, o artista uruguaio, que passou a maior parte da vida na Argentina, coloca à prova toda sua capacidade estilística, explorando como poucos as fronteiras obscuras entre quadrinhos e literatura — e fazendo com que o horror das narrativas de Poe e Lovecraft se corporifique em formas, atmosferas e criaturas terríveis e insondáveis.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9786584953017
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Paulo 22/12/2022

Esse é um compilado das adaptações feitas por Alberto Breccia dos contos de H.P. Lovecraft e Edgar Allan Poe. Só um alerta antes de passar para a resenha: esta não é a única obra que mostra adaptações feitas por Breccia destes autores. Ele chegou a fazer outras ao longo de sua carreira. Este compilado é considerado por muitos como o mais famoso e o melhor, mas isso vai um pouco das preferências do leitor. Por exemplo, a Comix Zone chegou a publicar uma coletânea de adaptações chamada Sonhos Pesados cujos roteiros são ilustrados por um Breccia em outro momento de sua carreira. Uma arte mais semelhante com o que vamos ver no segmento voltado para Edgar Allan Poe no final deste material, com uma arte mais surrealista. Como fã de Breccia, recomendo comprar tudo o que ele produziu. É um mestre dos quadrinhos, insuperável em sua arte e um dos melhores na América Latina. Mas, se você deseja um material onde as principais adaptações estão presentes, podem adquirir numa boa esse material da Companhia das Letras.

Falando sobre o editorial em si, o formato está bem grande. no mesmo também da coleção Alberto Breccia da Comix Zone, com a diferença de que é uma HQ em capa cartonada, algo que muito me agradou. Não sou nenhum sommelier de capa e prefiro algo que se encaixe na minha estante e que prime por outras coisas que não simplesmente uma capa bonita. Por exemplo, a tradução de Bruno Cobalchini Mattos está muito boa, deixando o texto bastante compreensível para os leitores. E olhe que Lovecraft possui um texto bem complicado de traduzir, ainda mais quando adaptado por outro roteirista como é o caso de Norberto Buscaglia. Estamos falando da tradução de um leitor de Lovecraft. Muita coisa poderia ter saído errado. Sobre a edição em si, o papel usado é fosco e de alta gramatura o que ajuda e muito nas pinceladas poderosas de Breccia. O artista é um especialista no preto e branco e se o papel fosse transparente demais, prejudicaria a leitura. Minha única crítica é a falta de um prefácio apresentando a obra ou um texto de apoio no final. Poderia ser algo simples de uma página no começo. Garanto que muita gente boa do mercado como o Érico Assis, o Rodrigo Rosa (que é alguém que já publicou material na Companhia das Letras) ou o Sidney Guzman teriam adorado fazer um texto para uma HQ tão importante. Achei uma falha ainda mais em um clássico como esse. Mas, okay, vida que segue.

Essa coletânea é ótima para vermos diferentes fases do artista. Dá para perceber claramente as diferenças das adaptações visuais da primeira parte dedicada a Lovecraft e da segunda dedicada a Poe. A começar pelo fato de que as adaptações de Poe foram feitas pelo Breccia integralmente enquanto na primeira o texto fica a cargo de Buscaglia. Como todo gênio, Breccia era um homem inquieto. A todo momento buscava aprimorar sua arte, brincando com as fronteiras do concreto e do abstrato. A gente consegue acompanhar a jornada de Breccia em busca do que lhe agradava mais. Nos trechos de Lovecraft já vemos o quanto a arte de Breccia sai de um concreto realista e vai aos pouquinhos embarcando em um rumo mais abstrato, ora com o emprego de um pontilhado mais apertado, ora com o emprego de névoas e esfumaçamentos para dar um clima mais tenebroso e amedrontador para o leitor. Suas silhuetas são apavorantes em adaptações como A Cor que Caiu do Espaço e Um Sussurro nas Trevas. Das adaptações de Lovecraft são as que mais me impactaram visualmente. Só que tomamos um choque quando passamos para as adaptações de Poe. Primeiro o impacto da arte completamente surrealista com traços angulosos e menos reais. Quase como se fosse um quadro de Picasso. O segundo impacto é que todo esse trecho é colorido, algo incomum na obra do artista. Sinceramente, a opção pelo abstrato na segunda parte foi muito acertada porque os contos escolhidos são bizarros como O Gato Preto ou O Coração Delator. Combina perfeitamente.

Falando de roteiro, Buscaglia carrega demais no emprego de textos do Lovecraft. A adaptação parece mais um livro ilustrado do que uma HQ. Sei que isso é usual em adaptações literárias, mas encontrar um bom equilíbrio entre texto e arte é o ideal nessas horas. Em vários momentos, o texto atrapalha a arte maravilhosa de Breccia. Até achei que Buscaglia foi sábio ao empregar partes específicas do texto original e não engessou demais o que estava apresentando. Minhas desculpas aos fãs de Lovecraft, mas não curto muito o autor. O excesso de descrições feitas por ele me desagrada e considero o texto pomposo demais. Buscaglia encontrou um meio-termo nisso. Aliás, percebam o quanto não é necessário carregar demais no texto nas adaptações de Poe. Breccia é econômico e deixa a arte falar por si só. Mesmo que o leitor não tenha se deparado com nada de Poe, é possível entender O Gato Preto numa boa. Talvez o caso mais emblemático seja A Máscara da Morte Rubra que quase não contém balões de diálogo ou recordatórios. E possui muita fluidez, permitindo aos leitores entender as diferentes camadas do texto de Poe.

Das adaptações de Lovecraft queria destacar duas que me agradaram muito: A Sombra de Innsmouth e A Cidade sem Nome. No primeiro, Breccia vai construindo imagens incríveis do protagonista chegando à perigosa Innsmouth. Assim como o texto de Lovecraft vai em um crescendo de estranheza, vamos mergulhando nesse estranho mundo saindo de um cenário mais realista e nítido e adentrando em um mundo enevoado, bizarro e caótico. A arte amplifica a sensação de que estamos sendo observados e de que nosso lugar não é ali. Quando entramos em Innsmouth, nos colocamos à mercê de criaturas ancestrais que desejam tomar nossas almas e aumentar suas legiões. Os personagens de Innsmouth são desconfiados e alguns possuem feições bizarras que o protagonista aponta na mesma hora. Breccia conseguiu captar bem isso nos colocando diante de pessoas cujas faces são quase derretidas, com olhos esbugalhados e uma silhueta disforme. Tem uma cena maravilhosa no final onde o personagem se encontra no alto de um terreno rochoso e Breccia brinca com o branco (a total ausência) e pequenas pitadas de cinza pelo cenário. A conotação disso é a perda de contato do narrador com a realidade que o cerca; ele não é mais capaz de discernir o que é real ou não.

A Cidade sem Nome é um conto pequenininho, mas que mostra perfeitamente a habilidade de Breccia em lidar com amplos espaços. A narrativa se passa em um deserto onde o protagonista encontra uma cidade ancestral com textos e vestígios de civilizações que foram apagadas da história para que estes horrores fossem extintos para sempre. Mas, o mal sempre encontra um jeito de retornar. O cinza de Breccia está maravilhoso seja na representação das dunas, nos mostrando um terreno árido e devastado, seja na cidade antiga onde o preto tomou tudo. As ruínas da cidade mostram silhuetas de civilizações passadas com tabuletas e efígies com uma escrita ancestral. O leitor percebe isso em quadros muito bem delineados pelo autor. Tem um quadro sensacional com duas tabuletas nas laterais e uma figura bizarra no meio que remete a um monstro ou a alguma criatura saída de nossos piores pesadelos. Os quadros arenosos dariam posteres maravilhosos (só retiraria o texto mesmo).

Dentre os textos de Poe os que mais gostei foram A Máscara da Morte Rubra e O Gato Preto. Vou começar pelo último até porque é o meu conto favorito de Poe. E, para mim, Breccia captou toda a estranheza do conto. A arte surrealista com o gato parecendo uma criatura infernal combinou perfeitamente com o protagonista egoísta que detesta o animal. No conto, um homem detesta com todas as forças o gato preto de sua esposa. Em um dia de bebedeira ele acaba por matar e enforcar o bichano. Só que ele começa a ter vislumbres da criatura por toda a parte até que sua esposa adota outro gato. Só que este acaba assombrando-o e ele se fixa em uma mancha branca no peito da criatura que ele imagina ser a imagem da forca com a qual ele matou o primeiro animal. Não vou contar o resto para não estragar a história para aqueles que não leram. A adaptação é inteira de Breccia e ele nos mostra sua habilidade de contar uma história apenas a partir de sua arte. Poucos balões de diálogo e a leitura se dá mais pela sequencialidade dos quadros que nos contam nitidamente o que está acontecendo.

Já A Máscara da Morte Rubra me chamou atenção por como Breccia faz sua quadrinização. No começo da história ele emprega quadros grandes de forma a mostrar aos leitores onde está se passando a história e quem são os personagens envolvidos. Mais para a frente da história ele adota uma formação de seis quadros verticais por página para conseguir mostrar o maldito baile de máscaras. E é como se fosse um enorme carnaval do caos em que os personagens se esbaldam em cenas bizarras e repletas de luxúria e pecado. A história se passa em um reino onde a peste assola o povo enquanto os ricos realizam um baile de máscaras onde os desejos mais desvairados tomam conta dos convidados. Até que.... bem, aí você terá que ler para conferir.

Lovecraft/Poe é uma excelente coletânea de adaptações proporcionadas por um mestre das artes gráficas. Para aqueles que buscam algum artista que facilite a entrada nas obras de um autor que gostariam de conhecer, aqui está uma ótima pedida. Buscaglia reduz o texto de Lovecraft e consegue transmitir a essência do que ele queria trazer para os leitores aliado a um tratamento gráfico de preto e branco que é assustador. Sem falar na ótima adaptação de Poe por Breccia. Para aqueles que desejam conhecer Breccia, aqui ele mostra toda a sua potencialidade seja em uma arte mais concreta e voltada para o uso magistral do preto, cinza e branco ou para uma arte mais abstrata cujo objetivo é assombrar e assustar. Tem para todos os gostos e tenho certeza que essa é uma daquelas obras essenciais na estante de qualquer fã de arte latino-americana.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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