Gabs 16/07/2023
Não o melhor do Sanderson, mas certamente é mais diferente
Neste terceiro volume dos quatro do Projeto Secreto, que é essa loucura do Brabdon Sanderson, retornamos a Cosmere, seu universo compartilhado, e obra prima. E caras, mesmo sendo um fã assíduo do autor e tendo ele como favorito, tudo aqui é tão diferente. Hoid petrificado e a Investidura se relacinando muito mais com objetos (pedras e tintas), do que com os humanos. Uma loucura prazerosa de se envolver.
Diferente de todos os os outros livros de alta fantasia do autor que compõe a Cosmere, o Sanderson não está preocupado ou ao menos não parece, em nos apresentar um complexo sistema de hard magic que funciona como ciência, tramas políticas complexas e batalhas épicas, mas sim, se centrar na construção e desenvolvimento dos personagens, bem como a relação da Yumi e do Pintor que vai se desenrolar ao longo do livro e quebrar nossos corações em alguns momentos.
Mesmo que eu tenha dito que é um o livro mais diferente do Sanderson, ainda é claramente é um livro dele, é a narrativa característica dele. Apesar de Hoid estar narrando a história, acompanhamos Yumi e o Pintor, em duas vidas cotidianas, até que um evento acaba por mudar tudo na vida deles e passamos a acompanhar seu dia a dia.
Brandon usou de muitas referências para compor o tom a narrativa na história, de maneira intencional, como Hikaru no Go, Yu-Gi-Oh e Final Fantasy, o que poderia ser um desastre nas mãos de outros autores, aqui acabou melhorando muito a experiência do leitor com a obra. Komashi é certamente um planeta fascinante como todos os outros da Cosmere, mas a junção de requintes do Japão feudal com a Coreia do Sul contemporânea, coroa o planeta com um charme único.
O trabalho gráfico do livro está lindo, as ilustrações realmente são estonteantes e de fazerem os olhos brilharem. Quando você como leitor para pra fazer uma assimilação entre as ilustrações e as descrições do ambientes e cenários, fica impossível não traçar um paralelo entre o livro e as obras de Makoto Shinkai, como Your Name e seus outros filmes. Aliás, fica aqui a recomendação de realizar a leitura do livro ouvindo o álbum Your Name da banda RADWINPS. Acreditem, é a trilha sonora perfeita para esse livro (também não descartem Midnights e Folklore da Taylor Swift).
Eu não sou nenhum leitor de romances, mas aqui fica claro como habilmente Sanderson soube conduzir a questão romântica entre Yumi e Nikaro de maneira talentosa, fazendo queimar lentamente de uma pequena fagulha até um incêndio que te faz se importar apenas com o que acontecerá com os dois e seus respectivos mundos. Enquanto todas as outras questões envolvendo o livro são desenvolvidas ao redor disso, alienação religiosa, a corrupção policial, entre outros temas. Tudo tecido em uma teia que se conecta simetricamente e faz sentido.
O ritmo do livro é demasiadamente assertivo, por tanto, podemos tanto ler o livro inteiro de uma vez em uma tarde (como eu fiz) ou saborear lentamente cada página no decorrer de dias. Sanderson foi implacável em aplicar duas Sanderlanches neste livro, em uma, acompanhamos a batalha frenética dos Pintores contra os Pesadelos, e na outra na qual se discorre toda a última parte do livro, temos atenção voltada para que o Sanderson realmente resolveu trabalhar nesse livro, a relação dos personagens, e a relação humana com a arte. Além de como toda a questão e volvendo Yumi e Nikaro se resolve, e não se enganem, Sanderson não nos poupa, e depois de nos apresenta, desenvolver e construir seu melhor casal por 400 páginas, ele não se importa em esmagar nossos corações. Mas no final, você vai ficar com o coração aquecido ao terminar de ler o livro e o tipo de história que o Sanderson resolveu contar aqui.
Ah, e mesmo que esse seja um romance autônomo e você não precise ler nada da Cosmere para apreciar essa leitura, são tantas perguntas que são levantadas. Quem matou o Shard que habitava Komashi? Seria Odium? O que é camada negra que cobre toda a órbita do planeta? A petrificação do Hoid seria parte da resposta para o motivo de prata não ser um metal alomantico em Scadrial? Os Shards podem escolher se em seus planetas a Investidura vai ter uma integração maior com os seres humanos ou com os objetos/substância? Até então tínhamos a suposição que todos os Shards eram homens, mas em uma fala do Hoid aqui em Yumi, fica a se entender que haviam mulheres (dragões e outros seres sencientes não humanos) na morte de Adonalsium. Então o que aconteceu para todos os Shards tenham se tornado homens humanos? E por fim, no final do livro, para onde Hoid está escapando? Será que é para o próximo Projeto Secreto? Ou para a longínqua quarta era de Mistborn?
Mangá, anime, doramas, música, cinema, teatro, não importa qual seja a forma, Sanderson decide abordar como tema de Yuri and the Nightmare Painter, a importem da arte, e apesar de não responder o questionamento, mas deixar para que o leitor chegue a sua própria resposta, acaba entregando um livro marcante, sagaz, e que te faz ter a sensação de estar lendo de verdade. Mais um acerto do autor.