Sofia124 07/09/2023
Ahora que ya no me queda otra cosa que mirar hacia atrás, me parece que nunca hubo un principio sino un largo final que nos fue devorando de a poco.
Fernanda Trías te prende na narrativa desde o princípio. A leitura te deixa com uma sensação de que algo sombrio está acontecendo e você não sabe identificar exatamente o que, nem como, nem quando tudo alcançará um ponto irreversível, mas instala um receio na boca do estômago, me dando vontade de tapar os olhos com os dedos e espiar entre eles ao ler a próxima linha, como nas cenas de susto dos filmes de terror. Mas não há nada explicitamente aterrorizante, macabro ou surreal no livro: é uma novela do cotidiano, com poucos personagens que lhe são apresentados em uma configuração estranha e em um ambiente limitado, entre as paredes do apartamento. O tempo e o espaço são vagos e pouco importam, embora exista uma vontade constante de entender o que se passa do lado de fora. O sentimento faz parte da claustrofobia e paranóia centrais para a narrativa.
A autora explora a esfera psicológica da protagonista num ritmo que tudo parece acontecer devagar, mas de repente. Quando cheguei no final, parecia tão óbvio que fosse chegar naquele ponto: tudo estava bem na nossa cara mas, de certa forma, também era imprevisível. Você só se dá conta do que realmente estava acontecendo alguns minutos depois de fechar o livro ou, talvez, reler os dois primeiros capítulos para cair na real.
Sombrio e em determinados pontos desconfortável, o livro estabelece limites sutis da perda de controle no mais tedioso e previsível cenário. De fato, ao terminar a história e voltar ao início, tudo parecia estar premeditado, um destino fechado em si mesmo, tão possível e banal quanto inacreditável.
Quatro estrelas apenas porque histórias sombrias não costumam fazer meu estilo, mas brilhante o suficiente para merecer cinco.