Taize @viagemliteral 04/08/2023
Queria poder dizer que esse livro fala apenas sobre as malezas do sertão nordestino, ou a felicidade de fazer parte dele.
Quando iniciamos a leitura, até parece isso; começamos a nos divertir com os xingamentos de Damião - que são tão usados aqui na minha região.
Mas, ao adentrar mais fundo na história, percebemos que vai além do entretenimento; ela fala sobre as dores da vida, das despedidas para eternidade, da revolta, da sede de vingança, das traições daqueles a quem confiamos nossas vidas.
As vidas dos irmãos Cosme e Damião mudaram para sempre quando sua mãe foi assassinada e eles precisaram contar com a sorte.
A sorte veio com os nomes de Seu Bié e dona Maria, que os encontraram na estrada e os criaram como se fossem seus filhos.
Mas os meninos tinham ânsia por vingança, e ao crescerem, entraram para o cangaço, pois só assim criariam forças para descobrir quem foram os assassinos e vingar sua morte mãe.
Porém, como é sabido, a vida no cangaço não é de flores, inocentes são mortos, traições acontecem a todo momento, e para a surpresa de Damião - agora conhecido como Diab0 Cego, por ter perdido seu olho tropeçando num pé de mandacaru quando criança - , as cobras que tanto apareciam em seus sonhos vieram para a sua realidade, tornando sua vida uma carnificina sem igual.
"...eu tento apegar o resto de esperança que me resta na sua existência, para que haja sentido nas coisas que eu faço, e espero que exista alguma coisa depois que a luz do meu olho apagar."
Bem, preciso deixar claro que nesse livro contém cenas de violência e morte bem detalhadas, então se você for sensível, vai com calma!
A vida não foi fácil para Cosme e Damião, principalmente para Damião que tinha uma personalidade mais forte; no entanto é fácil a gente se apegar a ele e torcer para que seus planos dêem certo, pois é perceptível que todo aquele rancor é em decorrência dos traumas vividos durante sua infância.
Apesar da obra trazer como pano de fundo a violência, traição, luto e vingança, ela consegue nos emocionar com a história dos meninos, com a dor de não poder ter a mãe, com o pesar de não ter uma mão estendida, ou a perspectiva de formar uma família.
Temos personagens bem desenvolvidos, uma ambientação sertaneja, com sua cultura e cores que tornam tudo ainda mais intenso e real; a escrita do autor é impecável, e conseguimos perceber o quanto ele pesquisou e estudou para trazer as características do cangaço e do sertão nordestino para nos proporcionar uma leitura gostosa e palpável.