O que é meu

O que é meu José Henrique Bortoluci




Resenhas - O que é meu


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Douglas.Bonin 10/01/2024

Um relato de viagem dos que ficam
Já disse em outro momento sobre lembranças de minhas férias escolares na infância que remontam a algum posto de beira de estrada onde, sentado em um banquinho de madeira ao lado do caminhão às seis horas da manhã, aguardava o café terminar de passar. Os cheiros do óleo no chão se misturam ao embutido que frita. O café dos campeões: pão com linguiça, acompanhado de um café com leite em pó. Refeição que acompanharia eu e meu pai por toda a manhã.

Em ?O que é meu?, de José Henrique Bortoluci, experimentamos uma escrita que ultrapassa a reconstrução das memórias de um pai caminhoneiro; ela representa quase um trabalho antropológico sobre "ser caminhoneiro". Os personagens que compõe a narrativa são, em sua maioria, arquétipos de sujeitos que fizeram parte de minhas próprias lembranças.

O autor consegue intercalar entre lembranças familiares, recortes históricos em que os caminhoneiros estiveram presentes e reflexões pessoais sobre o papel da categoria na construção do Brasil. Mas, principalmente, o autor constrói uma literatura sobre sujeitos que foram ignorados pela história institucionalizada.

O livro é maravilhosamente bem escrito, representa uma história que ultrapassa as margens que guiam esses profissionais. Revelando a perspectiva daqueles que ficam e têm esperanças pelo retorno dos que corriqueiramente se vão.

A formação escolar dos filhos de caminhoneiros, que com esforço coletivo conseguiram cursar o ensino superior, contrasta com a realidade de seus pais, cujas necessidades profissionais não possibilitaram sequer chegarem ao ensino médio. Ao mesmo tempo, as vivências profissionais obrigam que esses sujeitos constituam uma forma especial de ver o mundo em que se tem uma solução para tudo e para todos os problemas existe uma caixa de ferramenta na boleia do caminhão.

José Henrique Bortoluci é Doutor em Sociologia pela University of Michigan, mas antes da titulação, é filho de outro José, melhor reconhecido por Didi. Este livro, antes de mais nada, é uma linda homenagem de um filho de caminhoneiro que encontrou nas linhas escritas o mesmo sentido que seu pai encontrou no traço das estradas. Uma história de um Telêmaco que aguarda o retorno de seu pai Ulisses.
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Bruna.Bledoff 09/01/2024

Em um momento em que estamos sempre esperando o extraordinário, olhar para o lado e ver que essa história é também a história nos nossos avós, pais, nos faz encarar a grandiosidade dessas figuras.
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Marina 08/01/2024

Acadêmico e humano
Eu li o livro do José Henrique depois de tê-lo ouvido falar sobre o livro no episódio do podcast Rádio Novelo Apresenta, no qual já tinha ficado profundamente emocionada.

O livro é lindo, mas talvez não seja tão popular pois possui uma forte pegada acadêmica. Não surpreende, o autor é doutor e a estrutura do texto às vezes afasta-se do literário e se aproxima do texto científico (o que eu, particularmente, achei que torna o livro ainda mais lindo). Como eu também me identifico com essa transição de capital cultural, eu achei lindo ver os traços do caminho acadêmico do autor na obra - acho que se é uma questão de ser o que se é, isso faz parte dele tanto quanto as belíssimas histórias e jornadas da infância mais pobre, e nada mais justo que conste no livro.

É um livro primoroso, de uma importância central pra discutir o Brasil na mesma medida em que aborda o amor de um pai por um filho e de um filho por um pai.
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FellipeFFCardoso 24/12/2023

Estamos num tempo de autoficção e isso não necessariamente é um problema. Essas investigações particulares que resultam num processo mais amplo de dissecação e projeção de memórias e, logo, fatores de composição social a partir do objeto escolhido e retratado, nos apresenta um mundo aberto para o banal, para a desconstrução da patente do objeto digno de ser representado (algo que tanto nos faz falta nos dias de hoje, quando tudo precisa parecer interessante e espetacular).

O que me incomodou nesse livro foi uma série de citações bibliográficas ao longo da narrativa que, pelo menos para mim, pareceram querer validar ou dar devida importância epistemológica para algo simples, que prescindia dela. O autor poderia ter falado sobre seu pai à luz das ideias que trouxe sem necessariamente se apropriar delas, sem a necessidade de querer, sob o fino trato do academicismo, justificar implicitamente a escolha de seu ensaio e, ainda assim, entregar o pensamento.

As melhores partes são aquelas em que ele está conectado com pai, com as histórias que ele conta e com a revisão de suas próprias memórias. As menos interessantes, em minha leitura, são essas elaborações acadêmicas ou análises contextuais sociológicas (entendo que o autor seja doutor em Sociologia, portanto compreendo também que a fruta não caia muito longe de sua árvore e nem o autor transitem muito longe de sua zona de segurança uma vez tão conectado com seu objeto literário).

Não deixa de ser um bonito exercício narrativo, mas fico aqui com a impressão de que ele poderia ter sido mais bonito ainda se não tivesse tido tantos freios ao expor aquilo que efetivamente era dele (em alusão ao título) e, com isso, não tivesse deixado o texto um tanto receoso, protetor de suas emoções.
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Camila 22/12/2023

O que é meu
Neste livro de estreia de José Henrique Bortoluci, somos apresentados à intimidade de sua família e da relação dele com o pai. Uma história de luta num país desigual onde o sonho dos pais é dar educação aos filhos para que eles não precisem viver da mesma forma que eles. Seu Jaú é um homem sem grande instrução formal, caminhoneiro que contribuiu imensamente para o crescimento desse país ao longo de cinco décadas. Seu conhecimento e vivência, contudo, lhe garantem uma sabedoria que muitos não conseguem adquirir depois de anos nos bancos escolares. José narra a história de vida do pai e sua luta contra um câncer. A narrativa lembra muito a escrita de Annie Ernaux, na medida em que José resgata a história do pai para, talvez, dar significado a sua vida que, graças a Jaú, permitiu que ele seguisse um caminho completamente diferente. É um livro com uma carga emocional gigante e quase impossível que filhos não se comovam e se identifiquem com essa relação.
???Palavras são estradas. É com elas que conectam os pontos entre o presente e um passado que não podemos mais acessar. Palavras são cicatrizes, restos de nossas experiências de cortar e costurar o mundo, de juntar seus pedaços, de atar o que teima em se espalhar?.???O que é meu só eu posso enfrentar?.

?Nessa condição, só ele podia encarar sua história e elaborar aquilo que era seu?.
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Marcelo 04/12/2023

Resenha publicada no Booksgram @cellobooks ?
Já fazia algum tempo que queria ler esse livro. Sabia da premissa, mas a oportunidade não havia chegado. Comecei a ler ao voltar do velório do meu pai, há algumas semanas atras.

Como me identifiquei com esse livro... A história do Zé Bortoluci quase que se confunde com a minha própria: um pai caminhoneiro lutando pela vida contra um câncer, uma infância pobre com uma vida adulta que se esforça para mudar de classe social e se aproximar da academia, as histórias do pai sobre sua vida de caminhoneiro pelo Brasil... O amor pelos temas sociais.

E por muita coincidência (infelizmente) meu pai faleceu uma semana antes do pai do Zé...

Durante a leitura foi inevitável não me ver e não ver meu pai/minha família nas paginas desse livro. As músicas citadas, as histórias contadas pelo seu Didi (inclusive algumas pessoas diziam que meu pai se parecia com o Didi dos trapalhões...)

Agradeço ao Zé por esse presente em forma de escrita. Ele mexeu muito comigo mas ao mesmo tempo me confortou. E pude reviver um pouco das minhas lembranças pela narrativa do autor. Obrigado, Zé!
edu basílio 04/12/2023minha estante
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Peter.Molina 05/12/2023minha estante
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lara 25/10/2023

Relatos de si mesmo
Como chama meu bom amigo Joao Pedro, o livro tem uma escrita de si. A história é baseada nos relatos da vida de caminhoneiro que o pai do autor levava. Mas vai além disso. O livro consegue captar o leitor com o sentimento. Explico.

O autor leva quem lê para dentro de sua casa. Mostra a história dos seus pais, de seu irmão, não apenas no passado como no presente. Explica o câncer que seu pai enfrenta e toda a dificuldade intrínseca.

Além disso, é um livro que nos traz política. Retrata, ao lado das histórias cotidianas, os últimos acontecimentos marcantes do Brasil, como a greve dos caminhoneiros em 2018, a pandemia em 2020/2021, as eleições presidenciais em 2018, bem como a época da ditadura através das experiências e vivências de seu pai viajando pelo Norte e Nordeste do Brasil.

É um livro rico. De informação, de sentimento, de política. Indico a leitura. A literatura brasileira fica feliz de ver um professor de sociologia indo além das aulas para ensinar também sobre a vida com palavras tão simples.
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Aline 24/10/2023

Quando a história do seu Jaú vira a história do Brasil
O livro ?O que é meu? foi indicação de uma amiga quando lhe mandei uma mensagem perguntando qual era o último livro muito bom que ela havia lido. Era esse.

E eu concordo.

Em ?O que é meu?, José Bortoluci encarna uma versão tupiniquim da escritora francesa Annie Ernaux, conhecida por escrever obras literárias que são pessoais e históricas ao mesmo tempo, nas quais entrelaça a história de sua vida e de sua família à História da França.

Aqui, Bortoluci faz algo parecido: narra a vida do pai caminhoneiro e junto das viagens do pai, vamos conhecendo também fatos históricos do Brasil dos quais ele participou levando e trazendo cargas: a construção da Transamazônica e de Brasília, o crescimento da agropecuária, o início do desmatamento da Amazônia, a ditadura militar, entre tantos outros acontecimentos.

A escrita do livro começou durante a pandemia, quando Bortoluci passou a recolher os relatos do pai que, naquela época, vivia também um desastre pessoal: um diagnóstico de câncer no intestino.

Entre viagens pelas estradas do Brasil, relatos pandêmicos e idas aos hospitais, conhecemos um pouco mais do seu Jaú e também do Brasil que ele, como caminhoneiro, representa. Um Brasil que é tão diferente do Brasil do filho - e do meu.

Com uma passagem do livro me conectei bastante, foi quando José Bortoluci falou sobre os dilemas que ele - eu e tantos outros - viveu ao ser a primeira geração da família a entrar em uma universidade e a ter acesso à ascensão social e educacional. Sobre isso, destaco esse trecho:

?A história dos pais e filhos que tiveram trajetórias educacionais radicalmente distintas é sempre atravessada de silêncios e esquivas, já que partes significativas do nosso cotidiano, nosso trabalho, nossa leituras, nossos gostos e nossos gastos são dificilmente traduzíveis para o universo de nossos pais.? (p. 121)
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Lipe 15/10/2023

Narrar a vida de um homem branco comum, caminhoneiro, neto de imigrantes italianos, e frágil de saúde, é também narrar a história de um país, pelo ponto de vista de um grupo específico dentre aqueles que o construíram braçalmente. A impossibilidade de dissociar história pessoal e nacional, o tom de memória-registro do livro e as reflexões de mudança de classe social nos lembram, de alguma forma, os relatos de Annie Ernaux, só que particular à periferia do capital. Há, porém, citações literárias demais (ponto fraco), que se contrapõem aos relatos em primeira pessoa do pai do autor, como nos capítulos Nestor, Manelão e Jaques (destaque). Essas histórias colocam em evidência as vivências de pessoas transparentes às elites intelectuais, mas também um Brasil ignorado e sem leis ou normas. São histórias à partir de um discurso: "Meu patrimônio são as palavras do meu pai", termina José.
edu basílio 15/10/2023minha estante
wow, que análise bacana! bateu vontade de ler (depois da fila de dezenas hehe).
citações literárias em excesso (e, pior, referências bibliográficas, argh) costumam ser frequentes em obras de psicólogos, sociológos, economistas, essa galera... :-/ entendo você e concordo, são cansativas, fragmentam a atenção da gente.


Lipe 15/10/2023minha estante
Acho que você vai gostar! :)




Leila 27/09/2023

O Que É Meu é o livro de estreia de José Henrique Bortoluci, uma obra que proporciona uma experiência de leitura cativante e e com a qual me idenfifiquei demais. A narrativa, que percorre memórias de seu pai e o país ao longo de cinco décadas, ressoa de forma significativa com as experiências e vivências de muitos, incluindo a minha própria história pessoal.

O autor habilmente mergulha nas complexidades das memórias, oferecendo uma visão profunda e rica. As memórias do pai e as reflexões sobre o país entrelaçam-se de maneira harmoniosa, criando uma narrativa envolvente e emocional.

Uma das características mais notáveis deste livro é a habilidade de Bortoluci em transcender as meras memórias e fazer dissertações sociológicas e políticas sobre uma variedade de questões. Embora para alguns leitores isso possa parecer cansativo, pessoalmente, acredito que essa abordagem acrescenta profundidade à narrativa e enriquece a compreensão da da sociedade e do tempo em que a história se desenrola.

O livro também se destaca pela habilidade do autor em capturar a nostalgia e a complexidade das relações familiares. Através das memórias do pai, o autor cria um retrato emocionalmente rico de seu relacionamento, e muitos leitores podem se relacionar com as complexidades e nuances das dinâmicas familiares retratadas.

Enfim, amei a leitura de O Que É Meu, uma obra notável que combina habilmente memórias pessoais, análises sociopolíticas e reflexões sobre a história do Brasil. Indico.
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Mari 16/08/2023

Detestei o livro
amei ter ganhado de presente
abandonei faltando 6 páginas (pra evitar o único fim que estava sob meu controle)

?Palavras são estradas. É com elas que conectamos os pontos entre o presente e um passado que não podemos mais acessar. Palavras são cicatrizes, restos de nossas experiências de cortar e costurar o mundo, de juntar seus pedaços, de atar o que teima em se espalhar.?
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Nara 27/07/2023

O que é meu
?O Brasil inventa suas próprias alegorias com a matéria espessa do nosso cotidiano político.?

To repetitiva, mas, precisava registrar uma das melhores leituras que fiz esse ano e, quiçá para vida.

Um ensaio de não-ficção, mistura as memórias de um pai caminhoneiro cuja vida foi dedicada a construção da estrada da Transamazônica e, faz um retrato político incrível do modelo de sociedade brasileiro.

Esse pai, agora habita um corpo adoecido tanto quanto o nosso país. O câncer é a metáfora para retratar o Brasil.

As falsas promessas de progresso por meio da ideia de uma vida moldada para o trabalho, o sonho do empreendedorismo, a estabilidade financeira e a conquista da casa própria... Tudo numa manutenção de uma lógica exploratória e extrativista da nossa vida e força de trabalho, além das devastações ambientais.

?A velha ferrovia é o esqueleto de nossos incansáveis planos de grandeza nacional. O canteiro de construção daquela ferrovia do diabo prenuncia os canteiros de Brasília, da Transamazônica, de Belo Monte, dos estádios construídos para a Copa do Mundo de 2014, e de tantas obras que serviram como cartões postais de nosso arremedo de modernidade. Cinco vagãozinho e uma máquina tocada a lenha atravessando o estado de Rondônia, um dos gestos arrogantes e fracassados de ocupação do território que o capitalismo de devastação brasileiro ainda chama de progresso.?

Um relato de filiação que recupera a trajetória dos filhos de uma classe trabalhadora da qual todos nós fazemos parte - eu pelo menos rs faço - filhos e netos de lavradores, caminhoneiros, empregadas, cozinheiras e motoristas.

?Como se narra a vida de um homem comum? Sou desafiado pelo silêncio das fontes, o apagamento de registros daqueles que constroem o mundo, que escrevem suas histórias com mãos e pés, com palavras ditas e cantadas, com suor e a pele marcada (...)Como sugere Brecht, procuro os construtores dos palácios e das muralhas, não os nobres e generais que os comandam; as cozinheiras, motoristas, jardineiros e faxineiras, e não os dignatários nos salões do poder.?

A escrita muito potente e delicada, me emocionou.

?A filiação é também o encontro com um segundo fato cardeal: somos seres de linguagem (...)No início, nossos pais falam por nós. Eles inventam uma voz para palavrear os balbucios do bebê. Depois continuamos a nascer com nossas próprias palavras, que aprendemos com eles, sem eles, ou contra eles. Esse segundo nascimento dura para sempre (...)Tornar-se adulto é aproximar-se e afastar-se daquele dialeto familiar, da língua viva da infância(...) Só podemos falar nossa própria língua quando acertamos as contas com a língua de nossos pais.?

Um livro lindíssimo. Uma homenagem super digna a trajetória desse pai que é ao mesmo tempo, um tanto sobre os nossos.
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Vinder 18/07/2023

Leitura agradável e íntima. O autor escreve sobre a vida do pai, caminhoneiro aposentado e recém diagnosticado com câncer. Faz um paralelo entre a profissão do pai e o momento político conturbado do governo anterior, além da pandemia, quando livro foi escrito.
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GiuLaganá 14/07/2023

Eita Brasilzão velho de guerra
Delicioso ler este livro. A história recente do Brasil vista por um ângulo diferente, de um caminhoneiro que percorreu estradas de norte a sul, muitas das quais viu nascer.
Reflexões sobre a vida de quem sempre lutou por uma vida melhor e que conseguiu dar a seus filhos uma visão de um mundo enorme, aberto a diferentes aventuras, mesmo que sem ter sido esta a principal intenção.
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