O que é meu

O que é meu José Henrique Bortoluci




Resenhas - O que é meu


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voandocomlivros 02/07/2023

🚛 "Palavras são estradas. É com elas que conectamos os pontos entre o presente e um passado que não podemos mais acessar.

Palavras são cicatrizes, restos de nossas experiências de cortar e costurar o mundo, de juntar seus pedaços, de atar o que teima em se espalhar."


Aos 16 anos, precisei ser hospitalizada, não era nada grave, mas precisava tomar soro e acabei ficando 3 dias internada. No quarto que fiquei, já tinha uma senhorinha muito bem instalada, ela parecia bem confortável só esperando uma nova companhia para conversar. Os relatos eram longos, ela não me contou exatamente o motivo de estar ali dividindo o mesmo lugar comigo - e eu não senti necessidade de perguntar-, mas me contava casos antigos e engraçados. Sua voz era suave e carregada no R, até hoje lembro dela descrevendo com orgulho como seu neto preparava uma deliciosa canja: "sabe, fia (era assim que ela me chamava desde que cheguei), ele punha o alho pra 'doRá', e cê precisa de vê, fica tudo beem 'doRadin doRadin'[...]". Eu não lembro o nome dela, mas sempre que faço canja, a voz vem conversar comigo. Essa internação me mudou, quando saí do hospital, nunca mais olhei pra uma pessoa da mesma forma. Além da companhia, essa senhorinha tão meiga me ensinou a escutar e observar as histórias, as narradas e as não narradas. Cada um tem uma história... e tem cada história linda por aí... a gente só precisa aprender a escutar e esse escutar nem sempre é possível com os ouvidos, quando for preciso, 'escute' com os olhos e deixe o coração falar no silêncio...


🚛 "O que é meu é tudo aquilo que eu vi e gravei na memória. então a única coisa que posso fazer é tentar recordar e contar."


"O que é meu" tem uma história linda assim como a da minha eterna amiga de internação. A história de um pai entrelaçada com a do filho que se misturam com a história do nosso Brasil, com nossa própria história.


🚛 "Às vezes descobrimos coisas que já estavam a um palmo de distância, mas que não foram suficientemente olhadas, como quando observamos nossas mãos e somos surpreendidos por linhas que já tínhamos visto centenas de vezes. Ou quando somos assombrados por nosso reflexo em um espelho que não sabíamos estar lá e, numa fração de segundo, vemos em nossa própria imagem o sorriso de nosso pai, o olhar de uma avó, a expressão de um irmão, os cabelos de um tio que encontramos uma vez ao ano, a postura de um bisavô que só conhecemos por fotografias."


Aqui, você não precisa escutar, é só abrir o livro e sentir as palavras. Bortoluci não brinca com a arte de narrar e em menos de uma página, você já vai querer saber mais. Algumas pessoas têm esse feitiço, Bortoluci, para nossa sorte, é um deles, um verdadeiro mago da escrita.


🚛 "Nascemos e morremos sós, é certo; porém chegamos ao mundo cercados de cuidados, de gestos, palavras e toques que nos marcam pelo resto da vida. Os cuidadores são nossa conexão com os contemporâneos e com aqueles que nos antecederam. Nossa história individual se amarra à correnteza das gerações, e aqueles que exercem as funções paterna e materna são a barca na qual navegamos esse rio revolto da história."


Esse livro é muito Brasil: uma mistura de classes, de personalidades; o graduado atravessando caminhos de secas educacionais; a doença que desabrocha na sanidade; a esperança que finca raízes na desesperança. Tudo se une e é lindo de ver, de sentir. Ler "o que é meu" mexe com lembranças, com sensações... tudo vivido, sofrido, amado... é um orgulho que dói, o orgulho de ter nascido em terras brasileiras.


🚛 "Falar é trazer os mortos para dançar na festa dos vivos, é reviver o trajeto de gerações passadas e de nossa história de encontros e de perdas."


Obrigada, José, por contar de forma tão sensível e sincera a história de seu pai, a sua e a de todos nós, brasileiros. Só a literatura consegue fazer aquilo que a medicina ainda não alcança: imortalizar alguém. Desejo de coração que as histórias de Seu Didi chegue em muitas e muitas pessoas, e que a grandeza e a humanidade intrincadas nessas páginas sejam aproveitadas e inesquecíveis para todos que tenham o prazer de lê-las.

site: https://www.voandocomlivros.com/post/o-que-%C3%A9-meu-resenha
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Alcir1 14/06/2023

Excelente!
"Palavras são estradas. É com elas que conectamos os pontos entre o presente e um passado que não podemos mais acessar". Possivelmente nesta frase esteja uma síntese perfeita de um livro, pequeno no tamanho e enorme na qualidade. Num texto perpassado pela emoção do amor filial -- produto raro nos dias atuais --, o autor conta a história do seu pai, caminhoneiro por cinquenta anos, testemunha de todo um processo histórico. Assim, traz ao conhecimento do leitor atento, fatos pouco conhecidos ou, pior, conhecidos de forma distorcida, ao sabor das conveniências.
É narrando as vivências do pai que o autor mostra um outro lado da vida neste país continental, a irresponsabilidade de dirigentes sem compromisso com as pessoas, os sonhos mirabolantes. Mostra, sobretudo, a vida real, o sofrimento dos que acreditaram nas promessas de que seriam eles, os membros da parcela mais pobre da sociedade, os favorecidos; acreditar e se lançar na aventura seria a forma de alavancar um salto na qualidade de vida, ascender na escala social. Coitados!
Portanto, um livro marcante, tanto pela história de vida de um caminhoneiro, atuante nos tempos do "milagre", como pelo que nos mostra da realidade que desconhecemos.
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Nina 11/06/2023

?Você senta aqui pra tomar um ar fresco e pensar na vida, né pai?
Ah, pensar na vida? a vida é a vida, não tem muito o que pensar."

Um livro sensível, que conta uma parte da história do Brasil pelos olhos de um caminhoneiro. O autor, filho deste homem, conta essa história de maneira muito bonita. Vale a leitura.
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otis.correa 06/06/2023

?Em momentos de muito horror, como o que vivemos no Brasil politicamente desde 2016 até o final de 2022, a literatura e a arte podem assobiar pelo abismo.?
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eu_jaogabriel 19/05/2023

Estradas de Relações
Nunca imaginei que o cotidiano de Jaú - um simples caminhoneiro - seria tão intrigante, confortável, agradável e surpreendente. Lendo essa obra, percebi o quão líquida podem ser nossas relações, o quão rápido as coisas da vida podem acontecer - ou não - e, consequentemente, pude criar uma pergunta em minha cabeça: é ?O que é meu?? ou ?O que é meu!?. De verdade, não sei, só sei que estradas de terra que o homem passou, também são estradas de relações, as quais carregam consigo muitas memórias, tanto as boas, quanto as ruins.

Saindo um pouco dessa viagem na minha cabeça, queria fazer alguns pontos: gostei que o livro faz diversas críticas sociais e das relações apresentadas. Porém, senti que foi tudo muito rápido e - em algumas partes - desnecessário, cansativo ou a pura enrolação. Mas, pode ter certeza, esses fatores não irão estragar sua leitura.

obs: é uma obra baseada em fatos reais.
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O Garrancho 14/05/2023

Um Odisseu anônimo que viveu sua epopeia nas estradas do Brasil
Como revelei num dos vídeos mais difíceis que já gravei para o meu canal no YouTube, nunca chorei tanto lendo um livro antes de “O que é meu”, de José Henrique Bortoluci. Essa emoção tamanha, estou certo disto, é teoricamente explicável por dois princípios aristotélicos – o da mimese e o da catarse.

Compreenda: nessa obra vi meu saudoso pai representado na figura do protagonista, pai do autor, também um “herói esquecido”, já que ambos foram caminhoneiros por décadas e assim sustentaram seus sonhos e suas famílias, transportando, “nesta longa estrada da vida”, insumos responsáveis por garantir o progresso para todo o Brasil, de Norte a Sul.

Tal identificação, associada a um texto esteticamente competente, me impeliu a uma experiência catártica – um certo alívio a quem precisa suportar uma carga muito pesada (no meu caso, a ausência física do meu pai).

Bortoluci, em sua obra de estreia, nos apresenta o seu Didi, que por 50 anos rodou o país numa boleia de caminhão e agora, aposentado e enfrentando uma grave doença, revisita seu passado e suas histórias a pedido do filho sociólogo, o qual – de forma muito sensível e numa escrita primorosa – descortinará, pelo prisma de seu pai, um Brasil que a elite econômica e intelectual vergonhosamente desconhece porque não quer ver.

Do gênero autossociobiografia, “O que é meu”, conforme veiculado na imprensa especializada, tem sido comparado aos escritos de Annie Ernaux, Nobel de Literatura de 2022, e já foi vendido para mais de 10 países. Com seu admirável talento, José Henrique Bortoluci tem desbravado essas rodovias por vezes tortuosas que rumam ao sucesso, frete possível graças às palavras que seu pai trazia de caminhão e com as quais o presenteava na infância, como nos confidencia.

Essa publicação, que saiu pela editora Fósforo, em suas vindouras travessias, ainda há de acolher na carona muito filho que, tal qual Telêmaco, “se lança ao mar em busca de um pai que não vê”. Uma obra-prima que prova a nós, leitores, que um brasileiro comum – um verdadeiro autônomo anônimo – pode ser sim um exemplar Odisseu no percurso de sua epopeia.

site: https://youtu.be/oLnQFMkt5pk
QUEIJO460 14/05/2023minha estante
Bela resenha ??


O Garrancho 14/05/2023minha estante
Muito obrigado!




Lurdes 07/05/2023

A história de uma família pode carregar consigo a história de um país.
O autor conta a história de seu pai, caminhoneiro por mais de 50 anos que percorreu o Brasil de ponta a ponta inúmeras vezes. Entremeado às memórias de seu pai e às suas próprias, vai desenhando os caminhos percorridos pelo nosso país, atravessando período da ditadura, de desbravamento (desmatamento) das florestas, em busca de um pseudo progresso.

O autor realizou várias "entrevistas" com seu pai, para conhecer, relembrar e organizar tantas memórias.
Quando iniciou o processo, que culminaria na escrita do livro, não imaginava que seu pai teria que iniciar tratamento contra um câncer, depois de dois infartos, o preço de uma vida sentado na boleia de um caminhão, dormindo mal, se alimentando pior ainda, acrescido de fumo e bebida.

Embalado pelas lembranças, o autor revive os sentimentos conflitantes de sua infância, dividida entre esperar a volta do pai depois de mais uma longa viagem e os breves momentos de encontro e convivência quando este passava por casa. Tocantes as cartas de amor escritas pela mãe, em sua constante espera

Muitos questionamentos são feitos pelo autor e devem ter sido feitos por muitos filhos cujos pais viviam um dia após o outro, concentrados unicamente em realizar seus trabalhos, sem buscar saídas politicas para os problemas enfrentados.
Me identifiquei muito com o autor nesta busca mútua por compreensão entre pais e filhos.
Eu também me vi, ainda muito jovem, tentando entender o país sob um ponto de vista sócio político enquanto meus pais viviam praticamente apartados do que se passva em volta.
Viviam para trabalhar e buscar o sustento da família, da forma como conseguiam, o que demorei um pouco a perceber que não era pouca coisa.
O reconhecimento do esforço do outro, mesmo que por caminhos e motivações diferentes, é o primeiro passo para desenvolver o respeito, principalmente entre pais e filhos.
Uma bela história.
Sempre que entendemos melhor aqueles que vieram antes de nós, ficamos mais perto de entender a nós mesmos.
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Marcus 30/04/2023

Filho doutor de pai caminhoneiro
O livro é uma mistura de tratado político-sociológico sobre a infraestrutura do Brasil desde a década de 80, de histórias de caminhoneiros (primos dos pescadores) e do amor e admiração de um filho por seu pai. Tudo vislumbrado sob a ótica de um migrante social: o filho doutor formado pelo pai caminhoneiro.
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olivromefisgou 29/04/2023

Um livro muito sensível e comovente em vários trechos que chegou a me fazer derrubar algumas lágrimas. Quem é do interior de SP e descendente de imigrantes, como eu, vai se identificar muito com essa história, principalmente no valor atribuído ao trabalho. Eu apenas faço reparo em uma coisa - acho que o autor forçou um pouco a barra pra surfar nessa onda da proteção da Amazônia
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Daniel.Moreira 05/04/2023

Recomendo
Livro escrito pelo sociólogo José Henrique bortoluci é uma aproximação de dois mundos diferentes, mesmo sendo pai e filho.

A história, de uma narrador da boléia, pai de José Henrique é interessante. O autor faz um paralelo das narrativas com o que acontecia no Brasil.

Ele mostra a visão de um caminhoneiro, além disso de sua aproximação do pai quando, o mesmo é acometido pelo câncer.

Interessante a aproximação dos dois, do orgulho do pai e do Filho. Essa reciprocidade.

História é emocionante!
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Jonathan Vicente 04/04/2023

O autor consegue em poucas páginas trazer pontos delicados e sensíveis de como a racao pai e filho consegue ser saudável e tocante em diversos aspectos.
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