O que é meu

O que é meu José Henrique Bortoluci




Resenhas - O que é meu


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FellipeFFCardoso 24/12/2023

Estamos num tempo de autoficção e isso não necessariamente é um problema. Essas investigações particulares que resultam num processo mais amplo de dissecação e projeção de memórias e, logo, fatores de composição social a partir do objeto escolhido e retratado, nos apresenta um mundo aberto para o banal, para a desconstrução da patente do objeto digno de ser representado (algo que tanto nos faz falta nos dias de hoje, quando tudo precisa parecer interessante e espetacular).

O que me incomodou nesse livro foi uma série de citações bibliográficas ao longo da narrativa que, pelo menos para mim, pareceram querer validar ou dar devida importância epistemológica para algo simples, que prescindia dela. O autor poderia ter falado sobre seu pai à luz das ideias que trouxe sem necessariamente se apropriar delas, sem a necessidade de querer, sob o fino trato do academicismo, justificar implicitamente a escolha de seu ensaio e, ainda assim, entregar o pensamento.

As melhores partes são aquelas em que ele está conectado com pai, com as histórias que ele conta e com a revisão de suas próprias memórias. As menos interessantes, em minha leitura, são essas elaborações acadêmicas ou análises contextuais sociológicas (entendo que o autor seja doutor em Sociologia, portanto compreendo também que a fruta não caia muito longe de sua árvore e nem o autor transitem muito longe de sua zona de segurança uma vez tão conectado com seu objeto literário).

Não deixa de ser um bonito exercício narrativo, mas fico aqui com a impressão de que ele poderia ter sido mais bonito ainda se não tivesse tido tantos freios ao expor aquilo que efetivamente era dele (em alusão ao título) e, com isso, não tivesse deixado o texto um tanto receoso, protetor de suas emoções.
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Biblioteca Álvaro Guerra 07/06/2024

O que é meu, escrito por José Henrique Bortoluci, é um ensaio biográfico de rara sensibilidade. Publicado pela editora Fósforo em 2023, o livro parte de entrevistas realizadas com o pai do autor, José Bortoluci (conhecido como Didi), que foi motorista de caminhão por cinquenta anos. Através de uma prosa elegante e afetuosa, o autor retraça a história recente do Brasil e de sua própria família.

A narrativa combina depoimentos e anedotas do pai com reflexões sobre o país. Capítulos marcantes do passado e do presente se revelam pelos olhos desse cidadão comum, que vivenciou a ditadura militar, a construção da Rodovia Transamazônica e as marcas violentas da chegada do suposto “progresso” ao interior do país. Além disso, o livro aborda a doença que acomete o pai durante a escrita, relacionando-a às cicatrizes do desenvolvimentismo brasileiro.

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9786584568389
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olivia.tomazela 18/02/2024

Rádio Novelo me fez ler este
Por meio da contação de história da vida de seu pai - caminhoneiro aposentado e paciente de câncer - Joã faz paralelos com a sociedade e política brasileira através dos anos com senso crítico agiado, apesar de eu pouco compreender referências bibliográficas utilizadas, afinal, trata-se de um ensaio acadêmico.
As partes que mais me apeguei foram, sem dúvida, as narrações transcritas do pai, com toda sua humildade caipira.
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Aline 24/10/2023

Quando a história do seu Jaú vira a história do Brasil
O livro ?O que é meu? foi indicação de uma amiga quando lhe mandei uma mensagem perguntando qual era o último livro muito bom que ela havia lido. Era esse.

E eu concordo.

Em ?O que é meu?, José Bortoluci encarna uma versão tupiniquim da escritora francesa Annie Ernaux, conhecida por escrever obras literárias que são pessoais e históricas ao mesmo tempo, nas quais entrelaça a história de sua vida e de sua família à História da França.

Aqui, Bortoluci faz algo parecido: narra a vida do pai caminhoneiro e junto das viagens do pai, vamos conhecendo também fatos históricos do Brasil dos quais ele participou levando e trazendo cargas: a construção da Transamazônica e de Brasília, o crescimento da agropecuária, o início do desmatamento da Amazônia, a ditadura militar, entre tantos outros acontecimentos.

A escrita do livro começou durante a pandemia, quando Bortoluci passou a recolher os relatos do pai que, naquela época, vivia também um desastre pessoal: um diagnóstico de câncer no intestino.

Entre viagens pelas estradas do Brasil, relatos pandêmicos e idas aos hospitais, conhecemos um pouco mais do seu Jaú e também do Brasil que ele, como caminhoneiro, representa. Um Brasil que é tão diferente do Brasil do filho - e do meu.

Com uma passagem do livro me conectei bastante, foi quando José Bortoluci falou sobre os dilemas que ele - eu e tantos outros - viveu ao ser a primeira geração da família a entrar em uma universidade e a ter acesso à ascensão social e educacional. Sobre isso, destaco esse trecho:

?A história dos pais e filhos que tiveram trajetórias educacionais radicalmente distintas é sempre atravessada de silêncios e esquivas, já que partes significativas do nosso cotidiano, nosso trabalho, nossa leituras, nossos gostos e nossos gastos são dificilmente traduzíveis para o universo de nossos pais.? (p. 121)
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olivromefisgou 29/04/2023

Um livro muito sensível e comovente em vários trechos que chegou a me fazer derrubar algumas lágrimas. Quem é do interior de SP e descendente de imigrantes, como eu, vai se identificar muito com essa história, principalmente no valor atribuído ao trabalho. Eu apenas faço reparo em uma coisa - acho que o autor forçou um pouco a barra pra surfar nessa onda da proteção da Amazônia
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Nina 11/06/2023

?Você senta aqui pra tomar um ar fresco e pensar na vida, né pai?
Ah, pensar na vida? a vida é a vida, não tem muito o que pensar."

Um livro sensível, que conta uma parte da história do Brasil pelos olhos de um caminhoneiro. O autor, filho deste homem, conta essa história de maneira muito bonita. Vale a leitura.
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Lurdes 07/05/2023

A história de uma família pode carregar consigo a história de um país.
O autor conta a história de seu pai, caminhoneiro por mais de 50 anos que percorreu o Brasil de ponta a ponta inúmeras vezes. Entremeado às memórias de seu pai e às suas próprias, vai desenhando os caminhos percorridos pelo nosso país, atravessando período da ditadura, de desbravamento (desmatamento) das florestas, em busca de um pseudo progresso.

O autor realizou várias "entrevistas" com seu pai, para conhecer, relembrar e organizar tantas memórias.
Quando iniciou o processo, que culminaria na escrita do livro, não imaginava que seu pai teria que iniciar tratamento contra um câncer, depois de dois infartos, o preço de uma vida sentado na boleia de um caminhão, dormindo mal, se alimentando pior ainda, acrescido de fumo e bebida.

Embalado pelas lembranças, o autor revive os sentimentos conflitantes de sua infância, dividida entre esperar a volta do pai depois de mais uma longa viagem e os breves momentos de encontro e convivência quando este passava por casa. Tocantes as cartas de amor escritas pela mãe, em sua constante espera

Muitos questionamentos são feitos pelo autor e devem ter sido feitos por muitos filhos cujos pais viviam um dia após o outro, concentrados unicamente em realizar seus trabalhos, sem buscar saídas politicas para os problemas enfrentados.
Me identifiquei muito com o autor nesta busca mútua por compreensão entre pais e filhos.
Eu também me vi, ainda muito jovem, tentando entender o país sob um ponto de vista sócio político enquanto meus pais viviam praticamente apartados do que se passva em volta.
Viviam para trabalhar e buscar o sustento da família, da forma como conseguiam, o que demorei um pouco a perceber que não era pouca coisa.
O reconhecimento do esforço do outro, mesmo que por caminhos e motivações diferentes, é o primeiro passo para desenvolver o respeito, principalmente entre pais e filhos.
Uma bela história.
Sempre que entendemos melhor aqueles que vieram antes de nós, ficamos mais perto de entender a nós mesmos.
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Victoria.Salles 14/03/2024

A sensível narrativa de um homem comum
O que é meu é poesia.
Trata de um filho narrando a vida de um pai que foi caminhoneiro durante toda sua vida. Trata de Brasil, de São Paulo e, principalmente, da solidão (ou liberdade, rs) de uma vida na estrada.
Me fez pensar em assuntos que jamais pensaria, é bonito, mas é triste.
Uma classe extremamente importante na vida dos brasileiros e ao mesmo tempo tão menosprezada.
Ao mesmo passo que conta a história de um homem na cabine, conta a história de um senhor, que, diga-se de passagem foi pai e esposo ausente, e sua trajetória no hospital.
Fala de política, de amor, de liberdade e da solidão.
Um livro lento, as vezes difícil, mas lindo.
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Alanis 15/03/2024

O que é de cada um.
Quase escrevi para José. Imaginei algumas vezes como seria encontrá-lo num café e na quantidade de coisas que me viriam à boca. Eu acho difícil que outro livro me toque de maneira tão pessoal quanto O que é meu. José deu nome à tantas coisas da minha vida, coisas que eu sequer tinha acesso. É isso, ele trouxe do fundo um monte de dores e amores. Descreveu as tristezas da quase fome, deu corpo à complexidade das falas simples do pai, olhou tão bem aos próprios processos, de modo que quem não via, agora vê. Me sinto revirada, e peno pra não chorar ao recordar dos trechos-cortes. Tô desfigurada. Avessada.

Que o mundo lhe conheça, foi um prazer viver essa história. Obrigada, José.
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Bruna Jéssika 17/04/2024

O que é meu só eu posso enfrentar.
Temos aqui uma obra prima. Zé escreve a história do pai ao mesmo tempo que narra a história de quem ajudou a construir o nosso país. A linguagem é simples, repleta de referências acadêmicas, uma vez que nosso escritor é um professor universitário, mas o que me encantou mesmo foram as referências da vida de seu Didi. Os causos, as pelejas, os medos e as aventuras de um homem que foi caminhoneiro por mais de 5 décadas, mas que também foi pai, marido, filho, amigo...
Zé me fez refletir sobre quem de fato constrói a história, mas que acaba sendo escamoteado, deixado à margem.
Quantos seus Didis a história apagou?
Não pude deixar de lembrar da minha avó, costureira, semi analfabeta, doutora em viver e em sobreviver.
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Douglas.Bonin 10/01/2024

Um relato de viagem dos que ficam
Já disse em outro momento sobre lembranças de minhas férias escolares na infância que remontam a algum posto de beira de estrada onde, sentado em um banquinho de madeira ao lado do caminhão às seis horas da manhã, aguardava o café terminar de passar. Os cheiros do óleo no chão se misturam ao embutido que frita. O café dos campeões: pão com linguiça, acompanhado de um café com leite em pó. Refeição que acompanharia eu e meu pai por toda a manhã.

Em ?O que é meu?, de José Henrique Bortoluci, experimentamos uma escrita que ultrapassa a reconstrução das memórias de um pai caminhoneiro; ela representa quase um trabalho antropológico sobre "ser caminhoneiro". Os personagens que compõe a narrativa são, em sua maioria, arquétipos de sujeitos que fizeram parte de minhas próprias lembranças.

O autor consegue intercalar entre lembranças familiares, recortes históricos em que os caminhoneiros estiveram presentes e reflexões pessoais sobre o papel da categoria na construção do Brasil. Mas, principalmente, o autor constrói uma literatura sobre sujeitos que foram ignorados pela história institucionalizada.

O livro é maravilhosamente bem escrito, representa uma história que ultrapassa as margens que guiam esses profissionais. Revelando a perspectiva daqueles que ficam e têm esperanças pelo retorno dos que corriqueiramente se vão.

A formação escolar dos filhos de caminhoneiros, que com esforço coletivo conseguiram cursar o ensino superior, contrasta com a realidade de seus pais, cujas necessidades profissionais não possibilitaram sequer chegarem ao ensino médio. Ao mesmo tempo, as vivências profissionais obrigam que esses sujeitos constituam uma forma especial de ver o mundo em que se tem uma solução para tudo e para todos os problemas existe uma caixa de ferramenta na boleia do caminhão.

José Henrique Bortoluci é Doutor em Sociologia pela University of Michigan, mas antes da titulação, é filho de outro José, melhor reconhecido por Didi. Este livro, antes de mais nada, é uma linda homenagem de um filho de caminhoneiro que encontrou nas linhas escritas o mesmo sentido que seu pai encontrou no traço das estradas. Uma história de um Telêmaco que aguarda o retorno de seu pai Ulisses.
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Bruna.Bledoff 09/01/2024

Em um momento em que estamos sempre esperando o extraordinário, olhar para o lado e ver que essa história é também a história nos nossos avós, pais, nos faz encarar a grandiosidade dessas figuras.
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lara 25/10/2023

Relatos de si mesmo
Como chama meu bom amigo Joao Pedro, o livro tem uma escrita de si. A história é baseada nos relatos da vida de caminhoneiro que o pai do autor levava. Mas vai além disso. O livro consegue captar o leitor com o sentimento. Explico.

O autor leva quem lê para dentro de sua casa. Mostra a história dos seus pais, de seu irmão, não apenas no passado como no presente. Explica o câncer que seu pai enfrenta e toda a dificuldade intrínseca.

Além disso, é um livro que nos traz política. Retrata, ao lado das histórias cotidianas, os últimos acontecimentos marcantes do Brasil, como a greve dos caminhoneiros em 2018, a pandemia em 2020/2021, as eleições presidenciais em 2018, bem como a época da ditadura através das experiências e vivências de seu pai viajando pelo Norte e Nordeste do Brasil.

É um livro rico. De informação, de sentimento, de política. Indico a leitura. A literatura brasileira fica feliz de ver um professor de sociologia indo além das aulas para ensinar também sobre a vida com palavras tão simples.
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Daniel.Moreira 05/04/2023

Recomendo
Livro escrito pelo sociólogo José Henrique bortoluci é uma aproximação de dois mundos diferentes, mesmo sendo pai e filho.

A história, de uma narrador da boléia, pai de José Henrique é interessante. O autor faz um paralelo das narrativas com o que acontecia no Brasil.

Ele mostra a visão de um caminhoneiro, além disso de sua aproximação do pai quando, o mesmo é acometido pelo câncer.

Interessante a aproximação dos dois, do orgulho do pai e do Filho. Essa reciprocidade.

História é emocionante!
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