Tiago 15/03/2023
Três contos de Júlio Dinis
A edição que li, da editora Book Cover, contém 3 contos de Júlio Dinis.
O primeiro, que dá nome ao livro, é uma recriação da história das sereias que encantam os homens. É passado na praia do Furadouro, em Ovar e nas proximidades (Esmoriz, Cortegaça, Espinho).
"Pedro escutava embevecido aquela música cuja toada lhe era estranha e de um estilo inteiramente diverso do das canções populares únicas que até então tinha conhecido.
Falava-lhe por isso poderosamente à imaginação esse canto cujas palavras a distância não permitia ainda perceber.
A invisível cantora aproximava-se; percebiam-se melhor as modulações sonoríssimas daquela voz potente e argentina que conseguia dominar o ruído das vagas e que se estendia ao longe pela praia como a procura de um eco que a repercutisse."
No segundo conto, "Neda", vemos claramente um conflito geracional a respeito do papel da mulher no casamento. Neda e sua mãe conversam a respeito de um recente desentendimento entre Neda e seu marido Saul.
"- Não tratarei de ocultar o sol com a mão. Já disse e é mesmo: um temperamento de foca. Só quer hibernar sobre os livros, diante dos quais se abespinha como o animal sobre o gelo. Eu porem quero muito sol, muita luz, muito calor, muita atividade... Mamã, o que vocês velhos veem no casamento é o interesse de colocar as filhas, porque ficando velhos receiam que nos tornemos muito sós no mundo. Por isso, acontecem destas, casamo-nos com a vontade dos papás encarnada na figura de um homem que não é a correspondência do nosso instinto."
O último conto, "De como o avarento morreu" conta exatamente os últimos momentos de um avarento.
"- É, creio que me vou mesmo! Nem sei como se morre assim quando muito dinheiro eu poderia acumular dentro do meu cofre. A vida é um pedaço de outro comprado com um milhão de moedas.... A morte é uma ladra que nos furta para esbanjar entre muitos o ouro que tanto custa reunir... Sou rico! Digo-o com um cordial prazer. Também trabalho como um alma possessa. Não houve domingo nem dia santo que me dessem descanso, à chuva e ao sol, alta madrugada e avançada noite.... "
As histórias são bem simples, nada para ficar gravado na memória. Eu daria 2 estrelas ao livro, mas o texto sempre agradável de ler de Júlio Dinis merece uma estrela de bônus.