Tico Menezes 06/06/2024
A grande surpresa do ano!
Há tempos que não inicio uma saga de fantasia por causa de hype. Desde o frenesi das distopias, muito mudou no mercado literário, livros foram redescobertos, fandoms começaram e terminaram, sagas como A Canção de Gelo e Fogo e As Crônicas do Matador de Rei - que estão entre as minhas favoritas! - não foram concluídas mesmo após anos e anos de existência e, bem, o mercado se reinventou.
Por causa de um papo bacana com uma aluna decidi investir em Quarta Asa. Tendo tentado Acotar há alguns anos e não curtindo nada, fui com a expectativa baixa. E qual não foi minha surpresa quando me vi investido na história de Violet Sorrengail desde o primeiro capítulo!?
Vamo lá: É uma fantasia bastante convencional e previsível. Precisamos tirar isso da frente para entender o porquê gostei tanto. Para mim, o grande diferencial são as possibilidades desse universo, a história e o contexto político, mas principalmente, a crítica ferrenha ao militarismo. Toda a estrutura do livro se baseia na hipocrisia e na farsa da compartimentalização dos militares. O revisionismo histórico naturalizado, o sacrifício de vidas humanas sem valorização, corpos sendo usados como instrumentos de guerra e, pior, manipulação de vida selvagem, puts, tudo aqui grita "Militares são uns merdas!". E eu adoro porque essa é uma leitura minha. Tendo em vista que a autora vem de família militar, então ou ela cometeu um ato falho gigantesco ou foi genial na crítica.
O romance de Violet e Xaden, as etapas de treinamento dos cadetes, os segredos da instituição, os laços de amizade, tudo aqui é MUITO parecido com Divergente, de Veronica Roth. Mas sagas assim bebem da fonte de outras, é natural, então consigo relevar. Em Quarta Asa os cenários de guerra são bem escritos, os combates e as impressões de Violet sobre a violência são coerentes e aproximam o leitor da protagonista e faz com quem nos importamos com quem vive e quem morre. As cenas de ação envolvem tantos elementos atraentes - raios, sombras, dragões, espadas, égides, grifos, montanhas, mortes impactantes - que faz com que nossa imaginação vá longe criando esses cenários tão bacanas.
É realmente envolvente! E, novamente, fui surpreendido por como essa narrativa me engajou e eu só consegui ler esse livro por quase duas semanas.
De ponto realmente fraco, preciso dizer que estão os palavrões traduzidos e as cenas de sexo mal conduzidas. Eu odeio conservadorismo, ainda mais em livros, mas se vamos escrever para cativar adultos, então que façamos direito, né? Achei beeeeem forçado e juvenil, como se a autora quisesse provar que seus elementos adultos são justificados na narrativa e, bem, não são. A tradução dos palavrões usou variantes até demais, uma vez que no inglês o uso é mais pontual e restringido a umas três variações de "🤬 #$%!& ". Fica meio difícil comprar o medieval da coisa, mas é fácil de relevar quando aceitamos que, sim é um romance adolescente para adolescentes, mesmo que queira parecer adulto. As cenas de sexo são descritas como naqueles livros eróticos de banca, mas com o diferencial de envolver poderes no clímax. É uma viagem que chega a ficar involuntariamente engraçada. Mas não atrapalha a narrativa, não atravanca a trama, então segue o baile sem drama. Espero que esses elementos sejam melhor encaixados, mesmo que ela leve um tempinho a mais para escrever as continuações.
Continuações essas que, aparentemente, são 4! O que me anima, pois o universo é fascinante, as possibilidades são inúmeras, as batalhas - com dragões e poderes sinetes! - são MUITO divertidas e a trama tem fôlego para durar até o quinto livro.
Pois é, tô de volta nas fantasias. Bora subir nas costas de Tairn e ver o que espera pela Sorrengail mais nova - e mais surpreendente!