Christiane 20/07/2023
Esta é a história de Julie, uma jovem inteligente, capaz, dedicada, persistente, "mas" que tem autismo. Este "mas" nem deveria ser colocado na frase, mas infelizmente todos que não se encaixam naquilo que é denominado como sendo normal e comum, são considerados como anormais, deficientes, doentes, com problemas etc. A grande dificuldade de se aceitar que pessoas podem ser e são diferentes, inclusive as ditas normais.
Julie tem uma família que a acolheu e nunca a vitimizou, eles a protegeram do que era preciso, mas a incentivaram a seguir sua vida, a sempre tentar, a nunca desistir, mesmo com todos os obstáculos, e não foram poucos, mesmo diante da maldade humana, mesmo quando ela tinha crises imensas de ansiedade. Quando ela era pequena, um médico disse que ela provavelmente nunca falaria e nunca andaria, e sua mãe nem ouviu este veredicto, ela estava convencida de que iria ser capaz de fazer com que sua filha falasse e andasse, e conseguiu.
O período escolar foi difícil, Julie tinha diferenças com as outras crianças em seu ritmo de aprendizado, diferenças mentais referentes a lógica de ver e compreender, e as escolas mesmo com inclusão não tem preparo, raras são as exceções. E além disto ela sofreu bullying, mas conseguiu ir até o final do ensino médio. A faculdade não foi considerada uma boa opção diante de tudo que já haviam visto e vivenciado, é um lugar de autonomia, um lugar que não ofereceria segurança para ela. Então optaram por ela trabalhar.
Julie nos relata todas suas dificuldades neste percurso, as empresas até prezam a diversidade, mas não se preocupam com inclusão. Ela foi mal tratada por uma chefe que foi cruel com ela, mas também teve outra que lhe ensinou muito e a compreendeu. Quando precisou sair deste trabalho porque a sede do Banco se mudou, ela ficou meses a procura de outro emprego e enfrentou o preconceito, as dificuldades e a não compreensão de recrutadores e RH em relação a pessoas ditas deficientes. É praticamente preencher as cotas exigidas por lei e ponto final. Mas um dia ela conseguiu, um emprego em uma grande empresa que tinha tudo que ela precisava, todo o apoio, a estrutura, a compreensão, a rede de apoio necessária. E finalmente pode também contribuir com seu trabalho, como havia feito no banco. Um trabalho que de fato era necessário para a empresa e que ela era capaz de fazer e bem feito. Ela encontrou pessoas maravilhosas em seu percurso, verdadeiras amigas, mas também encontrou o que há de pior no ser humano preconceituoso.
O livro também traz apartes com as leis e considerações sobre pessoas que são diferentes, como autistas, pessoas com deficiências físicas e mentais, conforme são nomeadas, mas que continuam sendo seres humanos, sujeitos de suas vidas e capazes de produzir, criar, trabalhar, estudar, desde que encontrem o ambiente correto para elas.