Contos Fantásticos Chineses

Contos Fantásticos Chineses Pu Songling...




Resenhas - Contos Fantásticos Chineses


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Gabis 07/01/2024

Para quem gosta de literatura e cultura asiática
Os contos foram traduzidos, em sua maioria, por europeus que viajaram para a China e trouxeram para a casa o conhecimento, a sua maneira. A maior parte dos contos foi publicada originalmente no livro The Chinese Fairy tail book, em 1920.

É muito interessante reconhecer elementos que permeiam a cultura: belíssimas jovens que levantam de seus túmulos para seduzir jovens inocentes, espíritos que podem conceber filhos, como ?quem casa não quer casa? - o jovem casal ia morar com os pais do marido, e a nora deveria servir e honrar a sogra. Outro ponto que me chamou atenção, também, era o pedido de permissão para a mãe dos noivos e noivas para assuntos matrimoniais, coisa que não encontramos na cultura europeia.
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Breno.Leme 19/12/2023

Leitura fantástica
Que livro sensacional, eu não conhecia a história do Sun Wukong, mas depois de ler? vi porque é tão aclamada. Aliás? eu tive até uma epifania lendo essa história, recentemente terminei meu curso de língua chinesa no Instituto Confúcio e eu e meus amigos fomos ao Templo Zu Lai em Cotia? nos divertimos, rimos, aprendemos sobre o Buda com a nossa professora, mas ao final quando cheguei em casa, assim como Sun Wukong na caverna, comecei chorar. Estou achando a língua, a cultura maravilhosa e queria poder viver muito para que eu pudesse desfrutar mais e mais com meus amigos do mandarim, pudesse aprender mais da cultura? então eu vou fazer o possível pra aprender tudo que posso e um dia ir pra China visitar os templos.

Vou procurar a Jornada para o Oeste um dia, mas não é muito necessário, já que nesse aqui é como foi antes do macaco partir nessa jornada com o Tang Sanzang. E uma hora senti semelhanças com o livro As Mil e Uma Noites, bem que falaram que esses contos também beberam um pouco do contos árabes, principalmente a parte que um dos deuses se transforma em vários animais atrás do Sun Wukong, assim como ocorre numa das noites onde a filha de um rei no Iraque se transforma em vários bichos atrás do demônio Ifrit a fim de acabar com a maldição.

Enfim, livro sensacional.
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Paulo 25/06/2023

A Laboralivros vem fazendo um trabalho fascinante já há alguns anos na tradução de histórias orientais. Existem centenas desses contos espalhados nas mais diversas tradições, seja a chinesa, a coreana ou a japonesa. Seria possível passar anos e mais anos estudando-os e a editora vem se destacando por nos trazer estas histórias a partir de temáticas selecionadas. Já comentamos aqui sobre histórias com gatos, com raposas, sobre casamentos e agora chegou a vez de falar de histórias heróicas e de amor passadas na China. A edição está bem acabada, no formato brochura, com papel próximo ao pólen. Só peguei uns três errinhos, mas não sou dos mais especialistas na área de revisão. Uma opção que os tradutores Vinicius Keller e Yu Pin Fang fizeram foi manter o significado das expressões o mais próximo possível do original, sem as criticadas modernizações que ora são feitas em outros trabalhos. A editora tem como padrão sempre manter fiel, o que só tenho a elogiar porque não perde o sentido original. É uma edição parruda com mais de duas dúzias de contos e permite aos leitores conhecer toda uma variedade de histórias.


Falando sobre os temas abordados na edição senti que teve menos contos de heroísmo do que de amor, mas isso não é um problema em si, é mais uma questão de escolha e curadoria. E se formos levar ao limite os temas, tem um pouco de heroísmo em alguns destes contos amorosos. A propósito: o que podemos definir como heroísmo propriamente dito? Lutar por sua amada, enfrentando os obstáculos também pode ser definido como amor, como no conto A Bela Filha de Liu Kung. Nele, Chang, um homem virtuoso e humilde, se apaixona por Liu quando esta caçava animais junto com um grupo de jovens. Liu morre pouco tempo depois sem que Chang consiga expressar seu amor por ela. Desde então ele passa a levar flores e a declamar seu amor no túmulo de sua amada até que o espírito de Liu passa a visitá-lo. Eles desenvolvem uma linda relação de amor, mas que é afetada pelo fato de esta já ter morrido. Yanluo, senhor do reino das sombras se compadece por todo o amor que Chang sente por Liu e decide ajudá-los. Não vou comentar o resto da história, mas Chang demonstra toda a sua devoção por aquela que ama. E isso envolve sacrifícios, tempo e lealdade. Essa é a marca das histórias que envolvem estes temas e fazem parte da cultura chinesa. Há uma espécie de imanência na forma como as coisas se desenrolam nas histórias e buscam mostrar ao leitor o que significa, de fato, amar sua esposa.


Por outro lado, se o leitor está em busca de boas aventuras envolvendo seres mitológicos, artefatos mágicos, situações impossíveis, não precisam ir muito longe no livro. O segundo conto dele é a história do Rei Macaco, Sun Wukong. A história ficou muito conhecida por conta da tradução ocidental de A Jornada para o Oeste ou de animações japonesas como Dragon Ball. Só que se vocês esperam um herói virtuoso, que ajuda as pessoas, bem... vocês podem se decepcionar um pouco. O Rei Macaco é bem narcisista, malandro, preguiçoso. Temos algumas de suas histórias contadas aqui e o conto é o maior da coletânea até. Entre algumas de suas aventuras, está o momento em que ele é designado para cuidar dos pêssegos da imortalidade, uma iguaria que é concedida a poucos indivíduos e só nascem a cada seis mil anos. Pois bem, nosso incrível macaco de pedra come todos os pêssegos quando ele só deveria protegê-los. Tudo porque ele queria ficar mais poderoso e dar a imortalidade a seus companheiros macacos. Ou quando ele exige a mais poderosa arma já feita para um deus do rio. Mesmo que ele precise espancar todos os que estão ali presentes para isso. Mas, é interessante ver que em alguns momentos da história, Wukong acaba precisando lidar com seus próprios defeitos e refletir sobre o que deseja para si.



Se vamos falar de lições a serem aprendidas, O Navio Fantasma é excelente para isso. E talvez ele seja aquele que mais traça conexões com os contos da Europa Central com histórias que possuem algum tipo de moral. Esse nem é muito o estilo das histórias, de dizer ao leitor como ele deve fazer, mas mais de mostrar o que pode ou não ser feito. Mas, em O Navio Fantasma, o menino Ying-lo é o único sobrevivente de um navio que foi afetado por uma terrível praga. Descobrimos logo no começo que esta praga é uma maldição divina enviada por um deus que tem o costume de estar entre os homens, aparecendo como um mendigo ou uma pessoa bem humilde. Na vila dos tripulantes deste navio, o deus foi maltratado e humilhado por todos, sem que estes descobrissem a natureza do deus. O único que o ajudou foi o menino que, por tê-lo ajudado, foi espancado pelos pais. A partir daí, Ying-lo tenta obter o perdão do deus para que as pessoas possam ser revividas, mas isso vai exigir dois desafios morais sendo superados. Desafios estes que questionam se as pessoas em questão já foram altruístas em algum momento de suas vidas. É uma clara história que visa pontuar ao leitor a importância da vida correta, de ajudar ao próximo com humildade no coração.


Os deuses estão amplamente presentes em todas as histórias e são quase como personagens recorrentes. Seja a deusa Guanyi, a deusa da humildade, o Yanluo, o senhor da Terra dos Mortos. Mas, existem também os seres iluminados que ganham seu lugar no céu dos deuses devido a alguma ação maravilhosa no mundo dos homens. Como na história de Houyi e Chang'e em que Houyi é um arqueiro incumbido de matar os filhos do sol que aterrorizam o mundo dos homens com seu calor escaldante. Em suas ações heróicas ele conquista a gratidão dos deuses e vai viver no céu. Ou os deuses se envolvendo com os homens como na Lenda de Zhinu. Zhinu que se casa com Dong e, para prover a casa, precisa tecer tecidos de seda para que eles possam ter uma vida tranquila. Só não confundir a natureza dos deuses chineses com as lendas costumeiras da cultura greco-romana. Os deuses aqui são seres sábios e iluminados, e capazes de ensinar aos homens mesmo quando seus caminhos são tortuosos de seres compreendidos. O objetivo deles não é se portar como homens, mas servirem de guias para a virtude. Como no caso da história do navio fantasma em que o objetivo do deus disfarçado de mendigo era verificar a natureza humana.


Outro conto bem curioso é o da Princesa Sapo. Em parte gostei e não gostei dele. De certa forma é uma história que reforça a posição submissa da esposa diante de seu marido. A Princesa Sapo é uma mulher que possui um temperamento bem intempestivo e frequentemente briga com seu marido. E as brigas deles são homéricas: ora eles brigam por causa do excesso de sapos na casa, ora porque ele começa a fazer troça com ela. Somente depois de um tempo separados quando um certo acontecimento se sucede é que o protagonista vai atrás dela para remediar a situação. O fato de eu gostar vem da postura desafiadora dela, que não leva um desaforo para casa e sequer obedece completamente ao seu pai que é o Rei Sapo. Então estamos diante de uma personagem com fortes traços femininos como vemos hoje em uma narrativa tradicional chinesa de séculos atrás. É aquilo: no final ela acaba se dobrando, mas o importante na história é o desenrolar dos acontecimentos que passa até uma mensagem diferente.




Não vou comentar a história de Mulan porque é uma balada, ou seja, uma canção e ela é bem pequena. Mas, vou trazer outra boa personagem feminina, A Princesa Miao Shan. Ela é uma garota que não desejava ser presa a um casamento e diz ter ouvido uma voz celeste que dizia que ela deveria se tornar uma monja. É aí que ela foge de casa, larga tudo e vai parar em um templo. Só que ela não é bem aceita no templo e é colocada em uma posição subalterna, precisando fazer serviços bem pesados. Essa é uma história que já vimos inúmeras vezes em filmes wuxia, do guerreiro que deseja fazer parte de uma clausura de artes marciais e precisa se provar para aqueles que são de lá. Miao Shan demonstra resiliência em suas convicções e precisa superar os desafios para conseguir realizar o que deseja. Suas provações chegam a despertar o interesse dos deuses celestes que passam a ajudá-la vez ou outra. Esse é um tema bastante recorrente nas histórias, mas, novamente, o que chama a atenção é que a personagem é uma mulher que deseja quebrar as tradições de sua família e fazer aquilo que ela sente que deve. É usada a justificativa da iluminação divina e da interferência dos mesmos em suas decisões, mas isso é mencionado de uma maneira tão sutil que passa despercebido ao leitor desatento.


Essa é uma boa coletânea de narrativas chinesas que nos ajuda a entender um pouco mais da cultura oriental. O heroísmo está presente não apenas em personagens com boas capacidades de luta, mas naqueles que são capazes de serem verdadeiros com seus corações. Daqueles que possuem a força de vontade necessária para superar desafios e até a fazer sacrifícios caso estes sejam necessários. O amor também está nas histórias mais simples (como o de um homem que precisa enfrentar uma família poderosa e convencê-los de sua virtude) até as mais complexas, como a daquele que precisa superar desafios imortais para finalmente estar ao lado de seu amor. São narrativas também que se concentram em outros aspectos da virtude humana como o altruísmo, a honestidade, a humildade e a honra. Vale a pena para quem deseja se aprofundar mais nesta fascinante cultura.

site: www.ficcoeshumanas.com.br
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