Paulo 17/02/2024
Patty Diphusa é uma personagem literária que Almodóvar inventou nos anos 80 e que era publicada em formato de crônica numa revista ou jornal. Aqui essas crônicas estão reunidas em livro e são seguidas de uma história fragmentada não relacionadas a Patty.
Patty é uma grande estrela pornô muito admirada e invejada, pelo menos segundo seu próprio relato, já que é ela mesma quem escreve os textos, que na narrativa também são publicados numa revista. Fico na dúvida se ela, uma mulher fútil, que só pensa em sexo e beleza é, como disseram algumas opiniões, uma crítica à "sociedade (madrilenha?) da época" ou se é uma criação machista de Almodóvar. Considerando as "anedotas" de estupro (infelizmente também presentes em alguns filmes do diretor/roteirista/escritor) e sua banalização, penso que é uma criação machista da época e que seria provavelmente inaceitável hoje se fosse texto novo.
Parece que Almodóvar ficou um período sem escrever sobre Patty entre os anos 80 e 90. No retorno desse hiato tive a sensação de que Patty ampliou um pouco seu repertório de assuntos e perspectivas, sem deixar de contar suas aventuras sexuais. A escrita de Patty/Almodóvar parece ter melhorado um pouco nesse retorno; embora as crônicas sejam bastante criativas e cômicas, a escrita é bastante simples e direta demais. Nessa época, anos 90, existe um encontro hipermetalinguístico muito interessante entre criador e criação.
Já o que se pode chamar de segunda parte, após Patty Diphusa, é composta de micro histórias que a princípio até parecem microcontos isolados mas que acabam se entrelaçando e fazendo uma conexão narrativa muitíssimo criativa, especialmente levando em consideração a quantidade de personagens e um background biográfico e psicológico dos personagens.
Contudo, a escrita é pobre de qualidades, é uma prosa direta demais, simples demais e objetivamente descritiva, como é a maior parte da primeira parte.
Uma reunião de histórias criativas, divertidas, cômicas e absurdas como no estilo cinematográfico de Almodóvar, infelizmente o conteúdo, em grande parte, é bastante problemático hoje e a escrita em ambas as partes tem essa pobreza descritiva, o que talvez seja proposital por serem textos despretensiosos.