Sabrina758 13/09/2023
Dividido em quatro partes, Love in The Big City fala sobre Young e as dores e delícias de existir, enquanto introduz cultura e referências queer na Coréia. Young é um homem gay que tem problemas familiares, como uma relação conturbada com a mãe e o abandono do pai, enfrentando dificuldades financeiras e outras questões advindas dos traumas de conviver com uma mãe conservadora e hostil.
Na primeira parte, o foco é na amizade dele com Jaehee, sua melhor amiga, onde a conheceu na época da faculdade e desbravaram o final da adolescência e início da vida adulta juntos. Bebem, fumam, saem e transam com pessoas de forma inconsequente, enquanto tentam sobreviver e dar conta de serem "comuns". Aqui fica escancarado a importância que Jaehee tem na vida de Young, talvez caracterizando a primeira relação saudável e afetuosa em sua vida. Ao mesmo tempo que sabemos mais sobre as inseguranças dele, em questão de aparência e autovalorização.
Na segunda parte acompanhamos Young no decorrer de um relacionamento desigual e tóxico, com um homem 12 anos mais velho e cheio de homofobia internalizada e a luta contra o câncer da Mãe. Essa parte é marcada por uma crueza que vai se escalando aos poucos. É como se tivéssemos caminhando com ele para o ponto de ebulição da situação, onde ele finalmente se dá conta de que as coisas não vão melhorar, pelo contrário. Aqui é como se ele tivesse uma confirmação de que não merece algo bom e ser amado.
Na parte três, uma das minhas favoritas, é quando Young finalmente entende - e sente - o amor em sua forma mais genuína. Ele está perdido, acordando e torcendo para o dia passar logo, vazio e sem perspectiva. Até que ele conhece Gyu-ho, em uma noite extremamente caótica, no bar em que ele trabalha. Gyu-ho foi tudo aquilo que Young precisava e não sabia: carinhoso, atencioso, cuidadoso e presente. E, principalmente, aceitação. Se tornou uma constante, trazendo suavidade e cor na vida de uma pessoa que parecia nem enxergar mais. Diferente das duas partes anteriores, vários trechos aqui foram escritos como uma confissão, declarações e, por vezes, tom de despedida.
Na parte quatro e final, é em tom nostálgico e sofrido que vamos nos despedindo desse protagonista falho, quebrado e cheio de sarcasmo e acidez. Young segue solo, e reflete sobre as coisas da qual abriu mão e o quanto a falta de coragem e enfrentamento fez com que perdesse momentos e pessoas incríveis. Enquanto tateia o Tinder e viaja com um desconhecido, revisitando lugares enquanto relembra do passado, sabemos que Young se encontra perdido mais uma vez, mas que, eventualmente, vai ficar tudo bem e a vida vai continuar.
Apesar do tanto a dizer e da leitura fácil, sinto que esse livro não trouxe nada que eu já não tenha lido antes, além de que a cronologia é muito confusa e tem momentos que parecem não bater com as informações anteriores. Algumas partes, como a dois e quatro, tiveram momentos bem tediosos e cansativos, mas deu pra sacar logo de início que seria um livro mais "character driven" e tudo bem. No geral foi uma leitura ok, nada muito especial, mas foi gostoso de ler. Creio que a adaptação possa explorar melhor o que o livro não conseguiu transmitir.