Entrelivros_efilho 09/11/2023Judith é uma funcionária pública que vem tentando há um tempo se reconciliar com André, seu filho mais velho que desde a sua separação do ex-marido mora com a avó em Maceió. Decidida a se reconciliar de vez com ele, ela aproveita o feriado de ano novo e vai para a casa da mãe em Maceió no fuscão que recebeu de herança do pai na companhia da sua filha Amélia e de Fátima, sua empregada, mas que é muito mais que uma amiga.
Durante a viagem o fuscão quebra e por acaso do destino elas se deparam com Marcelo, um rapaz desconhecido que por coincidência está indo para o mesmo destino e lhes oferece uma carona, mas ao chegar em Maceió, a viagem que era para ser tranquila e de reconciliação, se torna uma tempestade de mágoas, ressentimentos e muitas descobertas.
Esse é o livro de estreia do autor e ele começou muito bem, já mostrou que sabe como envolver e prender o leitor do início ao fim com uma escrita leve, fluida, objetiva e viciante. Por ter pouco mais de duzentas páginas, fiz a leitura em uma tarde sem perceber, o autor abordou temas reais e importantes como a homofobia, preconceito e dramas familiares de forma leve porque recheou o enredo com várias referências musicas e com muitos momentos descontraídos, o que nos faz conectar fácil com Judtih e mais alguns personagens.
Judith é uma personagem que nos cativa por sua força, determinação e por sua coragem, como mãe preciso dizer que entendo algum de seus sentimentos porque em 90% da nossa vida, abrimos mão do que é melhor para nós para fazermos o que é melhor para os filhos, e quando usamos os 10% que faltam para fazer algo por nós e algo “dá errado”, nos culpamos e nos entregamos a um looping eterno de: e se eu não tivesse feito isso? E se? E se.... então em alguns momentos em que ela estava vulnerável a mercê da mãe que é agressiva, manipuladora e cruel, eu só queria abraçá-la e não soltá-la nunca mais, e o que mais me cativou é que independente de tudo, ela não desistiu, seguiu buscando a reconciliação com seu filho até o último segundo.
O autor criou muito bem os personagens detestáveis desse enredo, quando pensei que iria detestar só a mãe da Judith, conheci a irmã Jane e detestei mais ainda, e o triste é que elas são muito reais, porque são tão preconceituosas e maldosas que nem vale a pena expressar aqui, mas confesso, em certo momento do livro me senti tão vingada que queria abrir até um champanhe para comemorar hahaha, a cena só não foi mais perfeita porque eu não podia entrar no livro pra ajudar, porque se pudesse, seria per-fei-to!!
Mas temos aqui também personagens cativantes que vão ganhar seu coração: a Fátima com seu jeito reclamão, o tio Geraldo que é um fofo com seu jeito sempre apaziguador, a Amélia e seu espirito livre e prático, o Marcelo com seu jeito alegre sincero e André com sua timidez e coragem de assumir quem é, deixam a leitura fluída e cativante, cada um deles roubou um pedacinho do meu coração, fiquei morrendo de vontade de passar um dia na praia com eles, tenho certeza que seria apaixonante.
O autor abordou a homofobia, preconceito, a toxidade que muitas vezes acontece no ambiente familiar, a violência e toda a hipocrisia não só com homossexuais, mas com todas as pessoas que ao ver da sociedade arbitrária que ainda vivemos, infelizmente, são fora do “normal”, mas, entregou também, empatia, reconciliações, recomeços, muita representatividade LGBTQIA+ e o coração muito quentinho no final.