Helder 27/07/2023Se não é jabá, só pode ser o cometa.Eu pensei muito em falar sobre este livro ou não, mas o fato é que ele bugou minha cabeça, e no pior sentido possível, pois me fez pensar para onde a cultura mundial, ou no mínimo a nacional, está se encaminhando, quando o que parece ser mais importante é o TER LUCRO, ao invés de ter conteúdo.
Este livro não merece uma resenha. Para mim ele não merece nada, e se o mundo fosse justo, daqui a alguns meses ele vai custar R$5,00 em saldão na Amazon, mas exatamente por ser tão ruim, ele acaba gerando uma tese de TCC, pois ele me levantou diversas dúvidas que me deixaram doido para conversar com outras pessoas e saber onde foi que eu me perdi.
Quando vi que este livro seria publicado eu fiquei muito interessado. Sou muito curioso e este ano tenho adorado o tanto de novos exemplos que nossa literatura tem trazido. Ai de repente começaram a aparecer diversas reportagens em meios respeitáveis, noticiando uma engraçada e inteligente sátira à política nacional, que se baseava em Bolsonaro, mas que na verdade era fruto de uma grande pesquisa da autora que levantou características cômicas e curiosas de todos os presidentes do Brasil e juntou tudo num personagem só.
Sendo assim, logo que vi que tinha lançado fui procurar e descobri que o livro estava disponível na Biblioteca SP e já comecei a lê-lo.
Nas mãos de um Jô Soares, Chico Anisio, ou para ser contemporâneo, Samir Machado de Machado ou até mesmo o Fabio Porchat, teria sido uma obra engraçadíssima. Mas quem nasceu para Tati Quebra Barraco nunca chegará a um Jô Soares. E que me perdoe a Tati Quebra Barraco, que querendo ou não é uma batalhadora e precisou se esforçar para chegar aonde chegou, sendo de meu agrado ou não.
Mas aqui eu só consigo pensar em uma palavra: Jabá, Jabá, Jabá, Jabá!!!
Existe uma possibilidade de que as reportagens que eu li foram sim escritas por jornalistas talentosos, que quero crer que não leram o mesmo livro que eu tive o desgosto de ler e imaginaram como seria uma divertida sátira política só lendo a sinopse fornecida pela editora. Ou, a segunda opção: foram fortemente pagos para escrever estes textos de divulgação.
Assim como os Blurbs de Jefferson Tenório e Micheliny Verunschk, os últimos Jabutis do Brasil que não consigo acreditar que leram este livro realmente.
O livro é raso em tudo. Como a moça diz que pesquisou, a gente até encontra ali diversos momentos e vergonhas históricos nacionais, como Itamar e a moça sem calcinha, o vídeo de Joao Dória no motel perto da eleição, a facada no Bolsonaro. Tudo isso junto a banheira do Gugu e até o Torta na Cara do Passa ou Repassa do SBT, mas tudo misturado em uma linguagem de um pré-adolescente punheteiro de 12 anos no máximo. Nem Bolsonaro com sua fixação em órgãos sexuais conseguiu ser tão punheteiro quanto esta moça.
Todo capítulo tem alguma palavra sexual. TODO CAPÍTULO.!!!! Pau, 🤬 #$%!& , e muito cú. Mas é muito cú!!!
Deve ser alguma fixação freudiana. Não tem explicação.
E o pior de tudo: não tem a mínima graça!
Simplesmente por não ter o mínimo contexto.
Nas notícias de divulgação, a autora se compara a Hilda Hilst, acredito que pelo uso de linguagem chula e a Mario de Andrade e Guimarães Rosa pela criação de novas palavras. E ler estes comentários me dá mais desespero ainda, pois me pergunto: Como alguém pode ser tão egocêntrico???
Quando Hilda Hilst escreveu sua Lory Lamb, ela estava criticando a dificuldade que tinha em entrar em editoras fazendo boa literatura. Aquilo foi uma provocação. Tinha um contexto.
Quando Mario de Andrade criou o seu Macunaíma, ele e sua turma de modernistas queriam dizer que precisávamos ter mais Brasil na literatura do que simplesmente os clássicos franceses que era considerados os únicos exemplos de qualidade literária. Mais uma vez, uma provocação. Mais uma vez com contexto.
Já sobre Guimarães nem preciso comentar. É só arrogância ou mitomania mesmo da autora, que escreve e fala o que quer, pois não há outra explicação.
O livro tem uma linguagem tão chula que para mim foi uma experiência pior do que ouvir o pior e mais bossal funk carioca que já tenha sido feito. E volto a dizer, não gosto do funk carioca com estas letras extremamente sexualizadas, mas querendo ou não, elas representam um grupo, portanto até isto está num contexto. É “cria” de um ambiente.
Sendo assim, não consigo encontrar motivo nenhum para a maior e mais respeitada editora do país ter publicado algo tão chulo. Ou, ainda, para jornais centenários e respeitados estarem dando páginas inteiras em seus cadernos de cultura para algo tão pobre.
E aí vem a minha dúvida, que foi o que me levou a escrever este texto: Será que eu li errado?? Virei um tiozinho reacionário e não consegui encontrar todo o humor e critica social da obra? Estou ficando velho e retrógado? Terei parado no tempo e devo aceitar estes novos eventos? Vamos mesmo TIk Tokear tudo agora?
Se por um acaso você passou por toda esta pseudo leitura e conseguiu se divertir, consegue me explicar o porquê?
Desculpe se soo ofensivo, mas realmente gostaria de entender qual o motivo de enaltecimento sobre este livro??
E sim, ler este livro me fez realmente muito mal. Como disse no inicio da resenha, sua siples existência bugou minha cabeça e sigo esperando que alguma câmera vai abrir no meu notebook na sessão da Biblioteca de SP e vai aparecer o Silvio Santos dizendo que isso não é serio, que é uma pegadinha. Ou algum cientista vai aparecer e dizer que é só um estudo antropológico para ver até onde as pessoas aceitam ou enaltecem o sucateamento da nossa cultura.
E se não for nada disso, sinceramente fico extremamente chateado em imaginar que temos tantos talentos desconhecidos por ai que precisam se auto publicar e não conseguem ser enxergados (Vide candidatos e vencedores do premio Kindle) e ai alguém sem o mínimo talento ou qualidade chega com um lançamento, divulgação e apoio deste tamanho.
Se não é jabá, só pode ser o cometa.
Uma pena!