Resenhas - Casarão

alicia 25/09/2023

Sobrevivendo no inferno
"Vários tentaram fugir, eu também quero.
Mas de um a cem, a minha chance é zero."

Decidi ler esse livro pq achei a sinopse bem interessante, descobri que estava disponível no KU e fui correndo conferir.
Eu gostei muito da história, a premissa é bem instigante, e a atmosfera é muito claustrofóbica. O começo já te pega de jeito, em meados de 60% ele fica bem morno, mas depois dos 70% é impossível parar de ler.
Eu gostei muito de como as histórias dos três personagens principais se desenrolam até se interligarem.
O Daniel é um personagem muito bem construído, porém lá pelos 60% ele que meio que se perde, e eu fiquei me questionando: nossa, nem parece que é o mesmo personagem, só no final que ele volta a ser o personagem do início. Já o Thomas e a Domênica... meu Deus!! Que personagens!! Que obra prima!! A brasilidade que esses dois representam ??? amo! A Domênica é uma personagem feminina tão incrível e tão bem construída que nem parece ser escrita por um homem. Já o Thomas é um personagem tão profundo... com tantas camadas... ele representa muita gente! Me apeguei demais nos dois.
Além de muita ação e suspense, a trama traz algumas reflexões sociais muito importantes, mas nada que seja feito de forma forçada, a própria dinâmica da história acaba apresentando essas questões. Algumas reflexões são apresentadas mas nenhuma delas impõe uma conclusão, ou seja, cabe ao leitor analisar e tomar juízo pra si.
Gostei muito de como o autor coloca alguns acontecimentos ao longo da história, construindo dessa maneira certos personagens, porém a conclusão se aquilo que eles fizeram foi justificado ou não fica pra nós leitores.
Teve um elemento no final da história que me chocou, imaginei que o autor iria para um caminho, e ele foi pelo outro kkkk no primeiro momento me questionei se foi a melhor escolha, mas depois de pensar um pouco cheguei a conclusão de que foi o final mais coerente possível.
Sobre o que eu não gostei rsrs. A dinâmica do crime que é mostrada no livro é MUITO fantasiosa, não é preciso entender muito sobre o crime organizado para saber que muito do que é retratado no livro passa bem longe da realidade. Mas é uma obra de ficção né, o autor se ancorou nisso. Alguns diálogos são pouco críveis, não só pq falta um dialeto mais popular e com gírias (na história todos detentos fazem uso da norma culta da língua portuguesa, usam referências a cultura e livros em seus diálogos, e quase não usam gírias e siglas comuns no contexto da criminalidade) mas também pq criminosos experientes e de alta patente caem em alguns esquemas que até eu uma patricinha de 22 anos não cairia pois não exige um alto nível de malandragem.
Essa leitura marcou muito meu ano, guardarei com carinho essa história.

"Cada detento uma mãe, uma crença.
Cada crime uma sentença.
Cada sentença um motivo, uma história de lágrima, sangue, vidas e glórias, abandono, miséria, ódio, sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo.
Misture bem essa química.
Pronto: eis um novo detento"