CORREDOR DO TEMPO

CORREDOR DO TEMPO Adriana Vieira Lomar




Resenhas - CORREDOR DO TEMPO


2 encontrados | exibindo 1 a 2


Vanessa.Malago 19/09/2023

Um livro delicado com gosto da infância
Leio o Corredor do tempo quase de uma sentada, embalada na leveza dessa narrativa que me faz ver o mundo pelos olhos de uma menina pequena, arteira, acompanhada de seu boneco Tico.
Junto com ela , passo a ver também o invisível. Recém mudada para um novo apartamento, a menina, que em suas estripulias, vivia caindo, agora atravessa o corredor da casa sem cair uma vez sequer, com a sensação de ser amparada por grandes braços.
Em meio a riso e assombro, descubro o fantasma que passa a fazer visitas à menina. Me emociono de junto dela deliciar-me na doçura das coisas simples.
Um livro delicado que deixou em mim o gosto da infância.
comentários(0)comente



Krishnamurti 27/05/2023

UMA MAGIA ENCANTADORA
Tive a imensa honra de escrever o Prefácio de um livro maravilhoso, que reproduzo aqui à guisa de resenha:

A grande magia desta novela – Corredor do tempo –, da escritora Adriana Vieira Lomar decorre justamente da ficção impregnada de imaginação criadora. Capaz de, inadvertidamente, e já em sua abertura, lançar o leitor em uma atmosfera impressionista e lúdica. O tom impressionista propõe o acordo ficcional entre leitor e autor e é dado pela voz narrativa que afirma: “Eu era bem pequena, vivia caindo. Minha cabeça era muito grande em relação ao resto do meu corpo.” Muito embora o leitor saiba que está lendo uma história imaginada, não supõe que esteja lendo desvarios. Em primeira cena encontramos uma menina (?) que narra, uma ‘leoa de túnica branca’ e uma “deusa” responsável pela narradora. Mas quem conta a história? Parece-nos que a garotinha. A autora habilmente acende as primeiras luzes do seu corredor ficcional, apelando para a sugestão de imagens e a impressão de uma atmosfera difusa, impondo uma realidade repleta de aspectos sinestésicos e metafóricos. A imagem inicial produzida na imaginação do leitor o confunde, é certo, mas, por outro lado, sinaliza para outros caminhos. A personagem, ‘leoa de túnica branca’, é em verdade, a faxineira queixosa da vida difícil que leva, e que rosna também porque se vê às voltas para arrumar uma casa onde mora uma menina traquinas. Ou seria uma boneca, considerando a impossibilidade de um ser humano com pouca idade e com um ‘cabeção’, equilibrar-se sobre uma enceradeira? O leitor não sabe ainda, fica em dúvida. Aí reside a proposta inicial do jogo lúdico.

O corredor vai descortinando caminhos nos quais não há, a princípio, traçado nítido, linhas puras. É narrativa de pinceladas soltas, amplas, de pequenos toques e retoques, na configuração de um universo fragmentário, despreocupado da afirmação peremptória das coisas, sua ênfase é na sugestão, no caráter essencial de duplicidade. Importa menos a descrição objetiva e realista do tangível. Firma-se a força descomunal da sugestão, o registro no espírito das personagens, de emoções como a que sente a pequena narradora: “Acordei, nesse dia, no colo dela. Não rosnava mais, mas as mãos que alisavam meus cabelos anelados eram as mesmas mãos ásperas que exalavam um cheiro ácido e tinham um gosto salgado.”

Sabemos que certas memórias, sobretudo as de primeira infância, se assemelham a um emaranhado de impressões, de forma que, com o tempo (grande senhor de nossas vidas), também ela, a memória, assume contornos mais precisos. É o que acontece logo a seguir quando a trupe familiar da menina (sim, é uma menina), muda-se para uma nova residência, um apartamento de quarto andar. Muito bem; ao lado das descobertas de nível emocional que a criaturinha vai realizando, ocorrem certos incidentes que evocam o sobrenatural. E como o ponto de vista é sempre o da criança, o que chega ao leitor pelas mãos hábeis da autora são ainda fragmentos. Naquele apartamento morou um homem, com uma família a quem ele muito amava, um homem bom e carinhoso, mas que....

O sujeito se suicidou dentro do apartamento! E a trama ganha contornos insuspeitados porque a narradora começa a sentir e ver o que entendemos por ‘invisível’, e não somente ela, uma de suas irmãs também divisa o espírito de um homem que tem o pescoço partido. Está armado o rebuliço existencial. O que cabe referir em texto de prefácio é perguntarmo-nos: mas afinal, a que destino quer chegar a autora. A muitos. Sobretudo o que diz respeito à dimensão espiritual do homem. Fica patente dentro da narrativa as dimensões físicas e cognitivas da garotinha esperta e curiosa. Fica também, ao longo das linhas, a dimensão emocional que o tempo vai gravando em seu caráter. Nas entrelinhas, a dimensão espiritual que os acontecimentos impõem. E tal dimensão espiritual, registre-se, nada tem a ver com conceitos ligados à religiosidade. Antes (e com que força isto nos chega), ao aspecto ontológico inerente ao ser humano – antológico significando óbvio, o ser em si mesmo, em sua dimensão ampla e fundamental –, em sua busca de sentido para a existência. O reconhecimento tácito que embora a garota não obtenha respostas para tudo, o que sua consciência deixa entrever é que dentro do seu universo infantil pode haver, e há, concatenação, direção e finalidade bem delineadas, o que atesta a existência de uma suprema inteligência. Basta. E não custou muito para a criança de oito anos se abrir a tal entendimento. Tinha a seu favor a força da pureza de seus poucos oito anos.

Da condição reflexiva acima é que o livro se torna uma verdade em si que – não sendo absoluta –, incide na percepção do leitor para além das páginas. Toques e trocas entre ficção e realidade, de fulcral importância para assinalar o encontro entre leitor e obra que parte do mundo tal qual vemos para construir um necessário e urgentíssimo “admirável mundo novo”. Dá-se o encanto porque esta obra é um mundo em que cabe o que está neste, o que não se compreende ou se teme compreender, ou o que ainda não se disse sobre.
Andamos verdadeiramente necessitados de centelhas que ponham em movimento o mecanismo livre de nossa imaginação. Ao longo da narrativa a imaginação vai ganhando sentidos imagináveis e inimagináveis o que inevitavelmente ocasiona nosso envolvimento afetivo, possibilita exercitar a atividade de abstração que repercute na capacidade de imaginar, antecipar e estimular nosso pensamento criativo.

O surpreendente e emocionante desfecho da trama revela ainda subjetividades latentes, envoltas sobretudo, no registro de percepções e inúmeras camadas de significação. Projeta a interioridade da protagonista em uma relação extremamente poética com suas experiências de vida. Este o aceso compartilhado com o leitor, espaço de liberdade ilimitada, no qual estímulos confrontam-nos (e despertam-nos) a buscar nas memórias, sentimentos, crenças e conhecimentos a forja daquilo que faz de cada um de nós diferente dos demais. Corredor de acesso não somente para o que somos, mas também para aquilo que poderíamos ter sido ou ainda, e finalmente, aquilo que seremos um dia.

Livro: “Corredor do tempo”, novela de Adriana Vieira Lomar. Editora Patuá – São Paulo – SP, 20023, 100p. ISBN 978-65-5864-463-7
Links para compra e pronto envio:
https://www.editorapatua.com.br/corredor-do-tempo-novela-de-adriana-vieira-lomar---ilustracoes-de-jozias-benedicto/p
ou ainda em:
https://www.facebook.com/adrianavieiralomarescritora
comentários(0)comente



2 encontrados | exibindo 1 a 2


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR