anapmoscoso 02/08/2023
Dolorido, mas necessário
"Quando você olha demais para o vazio... o vazio te olha de volta."
Sabe aqueles livros que você procura quando precisa de uma leitura leve, algo para passar o tempo e não precisar pensar muito, aqueles que parecem um unicórnio viajando numa nuvem de algodão doce enquanto estrelas cadentes passam? Pronto. Esse não é um deles.
"Devorado pelo vazio" é uma história de 146 páginas que pesa. Pesa seu coração, sua cabeça. Ela vai te fazer relembrar coisas que você preferiria esquecer, sentimentos que você nunca mais quer voltar a sentir, ela vai mexer, cutucar e incomodar.
E antes de continuar eu acho importante falar sobre uma coisa que eu sempre gosto de alertar sobre leituras: conheça seus limites. Não se force a ir a frente se uma experiência não está te fazendo bem. Respeite o momento em que você se encontra e deixe, caso necessário, aquela história para depois.
Em sua narrativa, Gogun fala sobre o vazio, sobre a falta do sentir, a falta de pertencer, a falta de fazer falta para o mundo e até mesmo para si. A sensação esmagadora de sentir-se um fardo, de não entender o motivo pelo qual alguém gostaria de te ter como companhia porque... bem, por que qualquer um iria querer ter sua companhia? Você não tem nada a oferecer, você não acrescenta. Se você deixasse de existir, sentiriam sua falta?
Por meio de Luís, um adolescente que passa a conviver com o Vazio, o autor demonstra, aos poucos, como esses sentimentos afetam profundamente a vida de uma pessoa. Nós acompanhamos o protagonista passar por várias fases, desde ignorar aquilo que está com ele, passar a aceitar e até a implorar por ser consumido de vez pela sensação terrível que o Vazio proporciona. Ele recusa ajuda, se afasta de toda e qualquer pessoa com quem possa criar um laço por medo de prejudicar o outro com o peso que carrega.
Nas primeira páginas, vem o aviso: essa não é uma história feliz, é uma tragédia. Mas nem todas as histórias que têm o Vazio como personagem precisam ser assim e é essa a mensagem que o livro deixa.
Ninguém é feliz ou está bem o tempo todo e, acredito, todos nós temos essa sensação de não pertencer, de não fazer falta, de incomodar em alguns momentos da nossa vida. Eu sei que eu tenho.
Gogun não fez esse livro para ser confortável, sua escrita é dura, as emoções dos personagens são feias, até os momentos que tinham potencial para parecerem bonitos têm uma enorme sombra que impede o incômodo de ir embora, mas o autor - em suas notas no inicio e no final do livro - deixa claro que ele te entende, que também não foi fácil pra ele a jornada de Luís, mas foi necessária.
E é assim que a vida funciona. É necessário encarar o Vazio de vez em quando.
Mas lembre-se que existem muitos finais felizes para você ler por ai.