Duda Mel @epifania_literaria 13/04/2024
Não leia a sinopse, apenas embarque na leitura e encante-se
"Agora entendia o que o velho queria dizer: não havia como desver tudo aquilo, fingir que não existia."
Resenha:
Um conto que ganha o leitor na capa, encuca na epígrafe e surpreende ao longo da narrativa.
Somos apresentados a Damiana, uma garota moradora de rua que vive com dois colegas, Juca e Toinho. O trio dá seu jeito de sobreviver e não é nada fácil lidar com essa realidade, ainda mais quando se perdeu uma das pernas como ela.
No entanto, essa garota tem uma dose forte de teimosia e determinação que a levará a descobrir o que de tão interessante um misterioso senhor faz com o "lixo" que cata aqui e ali.
Dentre todas as ideias que imaginei sobre o mistério por trás da postura do senhor, nenhum correspondeu à verdade. Foi uma surpresa muito feliz e me fez desejar por mais.
Me senti aliviada por não ler a sinopse antes de embarcar na leitura. Apenas me encantei por título e capa, dei uma conferida na quantidade de páginas e me joguei. Sendo assim, tudo era descoberta enquanto lia.
A escrita da Jadna é bastante gostosa de ler, marcada pelas raízes nordestinas que caracterizam a trama, o regionalismo fantástico que aquece o coração do bom brasileiro.
A autora nos mostra que é possível sim criar uma narrativa curta e cheia de significado e reflexões importantes ao apresentar críticas quanto à poluição, ao consumismo, ao capitalismo e às mazelas sociais, negligenciadas no dia a dia.
É possível sentir ao longo da obra as dores, as alegrias e o companheirismo que há entre esse trio que, mesmo não concordando em tudo, seguem se apoiando, pois são o mais próximo de família que possuem. Ao refletir, percebemos que essa realidade não é tão distante assim de nós e o que fazer com aquela vontade de proteger que brota ao ler o conto?
A estória se desenvolve com um jeitinho que nos faz querer acompanhar Damiana lado a lado nessa empreitada e ver o que aconteceu depois do fim, que foi como uma brisa fresca cheia de esperança com uma dose de questionamentos que talvez não caibam, afinal é necessário apenas acreditar no fantástico.
Diria que talvez o defeito desse conto seja acabar tão brevemente. Trata-se de leitura rápida e fluida que tira qualquer um da ressaca e faz querer conferir todos os livros da autora.
Amo o folclore brasileiro, mas não recordo qual foi a última vez que tinha embarcado num regionalismo fantástico. Certamente é um gênero que quero explorar e me encantar mais.