annikav.a 07/10/2023
Sou ficção
AAAAAAAAAAAAAA. Sinceramente, nem sei por onde começar com esse livro. Confesso que coringuei algumas vezes, não só no processo da leitura, como também organizando a resenha (a sinopse já tá aí, vou trazer minhas impressões)
Por mais que haja muitos assuntos abordados em relativamente poucas páginas- envelhecimento, doenças neurodegenerativas, agência individual, sistemas de opressão, LGBTQIAP+ fobia - especialmente lesbofobia e transfobia- e racismo (externos e internalizados), neurodivergência, colonialidade, identidade aspec (mesmo que não nominadas), mercado editorial, morte e questões ontológicas bem complicadas- não senti que a narrativa se perdeu ou que os assuntos não foram bem construídos. Ao contrário, eu me ENCANTEI pela mensagem firme de autodeterminação complementada pelas infinitas possibilidades em aberto de simplesmente SER no mundo. A narrativa é agoniante, claustrofóbica em sua metalinguagem. Pra mim, o pulo do gato foi ir um passo além da clássica narração não-confiável; a narração é opressora enquanto força onipresente, mas ao mesmo tempo é apenas humana, tem seus motivos próprios e evolui, mas oprime como resultado de um processo maior. Inception infinito. Para além do conteúdo, a forma do livro tbm não se encaixa em gêneros ou estilos- é um thriller? Sci-Fi? Slice of life? YA? Fluxo de consciência? Sim e não!
Há pequenos acenos, sinais de que a própria história está sendo reescrita e pensada no meio da "fala" desde o começo, o que achei incrível. Fiquei com algumas dúvidas, a maior provavelmente relacionada ao esquecimento da mãe ser de um tipo diferente do esquecimento provocado intencionalmente pela autora na Sombra e na Charlie. Preciso reler e pensar mais sobre. Aliás, tenho a hipótese de que ambos os pais da Charlie são trans. Só a releitura dirá! Ou não.