preta velha 28/12/2023
A unimultiplicidade étnica
Este é o terceiro livro e o primeiro de poesia da escritora, professora, pesquisadora e contadora de histórias ana paula campos, que é negroindígena com ascendência cigana da etnia calon.
antes de abri-lo, seu título me conquistou, por ser a materialização de um dos sentimentos mais sublimes que existe; ele é composto por quarenta e um poemas em versos livres, que tematizam, dentre outros, as emoções, o sagrado, memórias ancestrais, relações familiares, o não-lugar dos multiétnicos, masculinidade e estética negras, afetos e desrespeito à cultura e genocídio dos povos originários; alguns deles têm a tradução em inglês e outros em espanhol.
a abordagem da exclusão social que os pluriétnicos vivenciam é interessante, pois é algo que não é amplamente discutido, e o pertencimento e a representatividade dessas pessoas são colocadas de uma maneira menos lacerante, o que só a arte é capaz de proporcionar; a inclusão também está presente através da linguagem neutra.
outra característica atraente do livro é que os poemas não são intitulados, o que acontece no sumário, estimulando a imaginação de quem os lê.
o que mais me chamou atenção foi a diversidade contida na obra, que além das várias temáticas, traz outras linguagens: um bilhete da edite nogueira campos, uma música - tu na minha vida - do zeferino campos, respectivamente mãe e avô da escritora; desenhos; epígrafes; fotos do seu acervo pessoal e poemas a um só tempo discursivos e visuais.
a inserção de músicas que inspiram foi uma sacada genial da autora e é importante para o leitor entender um pouco o seu processo criativo e o espaço denominado "para expressar o sentir", torna-o cocriador do livro.
se há a possibilidade de categorizar este livro é como uma literatura de denúncia.
campos é autora ainda de 'crônicas para acordar a casa-grande' e 'forjadas na dor' e tem contos e crônicas em antologias nacionais.
recomendo demais.