Fotossíntese e outros processos de sobrevivência

Fotossíntese e outros processos de sobrevivência Sinara Foss




Resenhas - Fotossíntese e outros processos de sobrevivência


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Tathi (@Doidosporserieselivros) 20/10/2023

Olá queridos amigos leitores! Vamos falar de lançamento?
Fotossíntese é a mais nova publicação de @sinarafoss que estará autografando no dia 4/11 na @feiradolivropoa ! Recebi o livro com exclusividade, e mais uma vez estou arrebatada pela escrita da autora.

Neste livro a autora traz com originalidade contos que misturam inspirações, como no conto que dá nome ao livro, onde vemos uma garota se transformar gradualmente em árvore, como no clássico de Kafka.

Outro conto que gostei muito foi o de um homem que encontra um marcador de páginas dentro de um exemplar em um sebo, e o pequeno objeto acaba trazendo grandes consequências em sua vida.

Em fotossíntese temos contos sobre relacionamento tóxico , infertilidade , luto, e até uma dose de espiritualidade e loucura.

Os contos se interligam por passarem na mesma cidade, então temos vislumbres do resto da história de alguns personagens em outros contos.

Os contos GPS, telespectadores e Peste também são dignos de notas e fazem parte dos meus favoritos.

Fotossíntese está disponível em formato físico pela editora @editora_bestiario ou direto com a autora pelo direct.

#fotossintese #editorabestiario #sinarafoss
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Ismael.Chaves 17/10/2023

Uma das minhas leituras favoritas de 2023
Desde "Plural de Fêmeas" (2021), Sinara Foss entrou no meu radar como uma das vozes mais potentes da literatura de horror nacional e latino-americana. "Irmã das árvores e mãe dos animais que acolhe", a autora traz um olhar cirúrgico, brutal e afiado como um machado em seus contos.

Se no livro anterior, as histórias tinham um tom mais realista - onde o horror vinha através de casos de violência doméstica e maus tratos a animais -, "Fotossíntese e outros processos de sobrevivência" entra com tudo no sobrenatural, explorando desde o horror psicológico até o estranho, o realismo mágico e o body horror, numa mistura de influências que vão de Poe e Maupassant a Kafka, Cortázar e Borges.

Aliás, o estranho kafkiano vai de encontro à literatura borgeana ao imprimir a arte de transformar o livro em próprio objeto de análise e metalinguagem, ao se tornar um personagem que transita entre as narrativas como um fio de Ariadne nesse labirinto repleto de situações insólitas.

"Fotossíntese" é o conto que abre o livro e já mostra essa conexão com um imaginário coletivo que visa homenagear e brincar com as narrativas clássicas, porém adicionando novos elementos e uma personalidade própria do autor. "Ana se levantou depois de uma noite maldormida, perturbada por pesadelos" - assim inicia o conto, onde a protagonista acorda e percebe um galhinho de folhas verdes que brota do seu ouvido. A partir daí, o fantástico se junta ao horror corporal. A transformação gradual em um ser monstruoso e o final ambiguo é o que desnorteiam o leitor, sem respostas, diante do sobrenatural e do desconhecido. Um dos melhores contos que eu já li.

Na sequência, a autora nos apresenta vários contos que ampliam o leque de possibilidades imaginativas para causar impacto no leitor. "Desova" nos apresenta uma mulher solitária que lamenta a ausência do marido, enquanto mexe em sua horta durante a madrugada (o que ela estaria fazendo ali?), para em seguida ter seu ventre (ou a imaginação) invadida por um ninho de aranhas. "O marcador de páginas" é um conto bem ao estilo borgeano, com livros raros e misteriosos e um objeto que rompe completamente a realidade do protagonista. "Peste" é um conto que usa a pandemia de Covid-19 como pano de fundo para mergulhar o leitor em tensão e, em seguida, levá-lo às lágrimas. "GPS" explora os perigos que o ser humano se submete ao confiar cegamente sua vida à tecnologia. "Badaladas" leva o leitor a uma cidade deserta, uma marcha fúnebre e um fantasma. E por aí vai.

O leitor que se permitir passear pelas ruas de Vinha D'Alho (cidade fictícia deste livro e "Plural de Fêmeas") certamente desfrutará de excelentes histórias vividas por seus estranhos moradores.
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 30/09/2023

Sinara Foss - Fotossíntese
Editoras Gog e Bestiário - 114 Páginas - Projeto Gráfico: Roberto Schmitt-Prym - Foto de capa: James Wheeler / Pexels - Lançamento: 2023.

Assim como em seu lançamento anterior, a coletânea de contos Plural de Fêmeas, Sinara Foss ambienta a maioria das narrativas na fictícia cidade de Vinha d’Alho, algum lugar no interior do Rio Grande do Sul. Nesta pequena amostra da nossa sociedade patriarcal, a autora descreve situações recorrentes de violência contra as mulheres, normalmente associadas a algum tipo de desigualdade social ou de assédio econômico. A visão realista da autora, entretanto, é inserida em um tratamento ficcional fantástico ou de terror, típico da escola literária argentina em autoras como Silvina Ocampo e Samanta Schweblin​, esta estratégia narrativa oferece oportunidades únicas para a reação de seus personagens e desfechos inesperados para os contos.

O livro está dividido em três partes: Fase luminosa, Fase de fixação e Rearranjo, de acordo com o processo de fotossíntese das plantas. O conto inicial, que empresta o título à obra, tem inspiração no surrealismo ao mostrar a metamorfose da personagem em árvore, uma espécie de reação da natureza a tantos abusos cometidos pela humanidade como bem destacado na introdução de Irka Barrios: "[...] a natureza revida, mostra ao bicho homem sua pequenez frente a tudo aquilo que ele não compreende e, por isso, não respeita."

"Acordou bem mais tarde com um desconforto ainda maior. Algo roçando, áspero, fazendo cócegas, pressionado entre o rosto e o travesseiro. Se moveu pesadamente até o espelho e não conseguiu conter o grito. Levou as mãos à cabeça e viu no reflexo galhos saindo do outro ouvido. Esse caule era ainda mais forte e vigoroso. Notou também que das narinas começavam a despontar brotos de um verde mais fraco, quase amarelos, como pequenas flores. / O celular tocava. Era o número da mãe. Assombrou-se ao pegar o aparelho. Seis chamadas não atendidas. Os dedos das mãos e dos pés não eram mais pele, carne, ossos e cartilagem, e sim brotos da planta em que ia se transformando. / Estava horrorizada, mas nenhum som humano saiu de sua boca, apenas um ciciar de folhas e flores de um verde desmaiado." (p. 16) - Trecho do conto Fotossíntese

Já em Badaladas, o terror clássico assume o comando bem ao estilo do mestre Edgar Allan Poe e chegamos a escutar o som macabro dos sinos, enquanto a protagonista ainda não sabe, mas se encaminha para o encontro mais estranho de sua vida. Em Desova, a mulher se sente culpada após várias tentativas frustradas de engravidar: "Eu merecia, já que não prestava nem para dar um filho para o marido", considerada pelo companheiro como "seca e inútil" também tem um encontro muito peculiar, não com uma pessoa: "No alto, onde as paredes se juntavam, brilhava uma teia armada com fios extremamente finos e pequenos diamantes de vapor. Por trás deles uma aranha marrom, com olhos vermelhos saltados que me recriminavam. Até ela."

"O som vindo da Igreja da Galícia, na Praça Central de Vinha d'Alho, retumba pela cidade. Zélia arrepia-se ao lembrar do velho costume: o sino da igreja badala cinco vezes seguidas, em três momentos em um espaço de dez minutos, para anunciar a morte de um morador. / Sente-se gelada em seu vestido de renda bordada com fios acetinados, quase transparente. Os cães dos vizinhos uivam em um coral agudo de vários tons, e ela foge com os pés descalços enredados na grama com medo de se virar. / Zélia escora-se ofegante na porta de Itaúba. Nem percebe que o gato eriça os pelos quando passa por ele em direção à cozinha. Olha para o relógio na parede e se pergunta onde o filho Pedro e a empregada Geny podem ter ido. O marido Túlio, àquela hora, ainda estava no escritório. Ergue-se na ponta dos pés e investiga os fundos pela basculante de vidro. Estranha o silêncio." (p. 67) - Trecho do conto Badaladas

O conto Marcador de páginas tem uma continuação na terceira parte final do livro com o novo título de Marcador de almas, um interessante efeito que Sinara Foss conseguiu ao interligar personagens e algumas narrativas, alterando os seus finais em uma mistura indefinida de ilusão e realidade que renova o interesse do leitor. Outra estratégia da autora foi a de utilizar o próprio livro ou a literatura como elemento da trama e que funcionou muito bem neste conto dividido em duas partes, um exercício de metalinguagem que me lembrou de Italo Calvino ao explorar a relação entre o autor, a escrita, o leitor e a leitura, o que não é pouca coisa, diga-se de passagem.

"O celular azul metálico com a tela quebrada vibrou na bancada da pia. Zuleica inclinou o tronco e franziu a testa enquanto tentava identificar quem era. Não conseguiu. Em todo caso, preferia não atender. O patrão não gostava que ela se distraísse com o telefone em horário de trabalho. Mesmo quando ele não estava, a sensação era de que a casa possuía olhos. / Zuleica mergulhou o pano felpudo no balde com água perfumada, escorreu um pouco do líquido quase espumado e torceu o tecido antes de colocá-lo no rodo para passar no mármore. O telefone voltou a vibrar. E de novo. Ela respirou fundo, secou as mãos no avental, e o alô saiu fraco, quase constrangido. / Primeiro, a mão foi ao peito. As cores abandonaram seu rosto. Então, ela segurou seu pavor no fogão. A voz, do Hospital Santo Antônio de Vinha d'Alho, avisou sem piedade que seu filho sofrera um acidente de moto e que precisavam da responsável lá. A ligação termminou sem que informassem a gravidade. 'Só pessoalmente'." (p. 95) - Trecho do conto Marcador de almas

Sobre a autora: Sinara Foss nasceu no interior de Santo Antônio da Patrulha, cidade entre a capital do RS, a serra e o mar. Como os avós paternos falavam alemão o tempo todo em casa, sempre se interessou por línguas estrangeiras. Formou-se em Tradutor e Intérprete – Inglês e Alemão pela PUCRS. É Especialista e Mestra em Literaturas de Língua Inglesa pela UFRGS. Desde jovem publica livros com a temática de defesa dos animais. Tem duas filhas. Luta pela natureza, é vegetariana por convicção há mais de quinze anos, tem muitos gatos e cães resgatados das ruas, que considera como filhos. Diz-se mãe dos animais e irmã das árvores. Trabalha como tradutora e professora de inglês.
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