Coisas de Mineira 09/12/2023
O GRANDE GATSBY RETRATA O VAZIO DO PÓS GUERRA
Uma história trágica sobre um desejo inalcançável – o bem e velho sonho americano
O Grande Gatsby é considerado um dos grandes romances estadunidenses, porque sua trama retrata um momento marcante na história do país. O livro, do autor Francis Scott Fitzgerald, foi publicado originalmente em 1925, e se tornou um símbolo da “geração perdida” (jovens que, após a primeira guerra mundial, se jogaram em festas extravagantes nos anos 1920).
Apesar de dar o nome ao livro, Gatsby não é o narrador dessa história, mas sim Nick Carraway, um jovem de uma família de classe média, que após se formar e voltar da guerra, está tentando encontrar um rumo para a vida. Ele se muda para West Egg, em uma pequena casa numa área relativamente nobre, ao lado de um casarão, onde grandes festas acontecem.
Nick descobre que seu vizinho é Jay Gatsby, um homem de origem misteriosa, que está sempre oferecendo festas glamourosas para a elite novaiorquina. Um dia, ele recebe um convite para uma das festas de Gatsby, e assim nasce uma amizade entre os dois. Primeiro, Nick conhece os vários boatos em torno da figura de Gatsby, que vão desde uma possível ascendência alemã, até um assassinato cometido por ele.
Aos poucos, Nick vai conhecendo mais do passado do vizinho. Do garoto meio perdido, que se apaixona perdidamente por uma garota de um nível social mais alto, e por isso parte em busca de riquezas para se tornar a altura de seu interesse romântico. É quando entram em cena Dayse, prima de Nick, que se casou com Tom, um homem rico, esnobe e extremamente preconceituoso.
"Gatsby acreditara na luz verde, no futuro orgástico que
ano após ano recua à nossa frente. O tempo já nos iludiu antes, mas não importa: amanhã correremos mais rápido, esticaremos os braços um pouquinho mais…"
RESENHA DO LIVRO O GRANDE GATSBY DE FRANCIS SCOTT FITZGERALD
O Grande Gatsby é sobre o glamour e a ruína da vida dos ricos americanos dos anos de 1920, um período de prosperidade econômica, e que por isso mesmo traz novo estilo de vida, cheia de excessos. muitas festas, bebidas, a busca do prazer como forma de apagar as cicatrizes da guerra. As cenas são bem gráficas, e fica fácil se sentir em uma das festas de Gatsby, ao som de Jazz e com taças de martini na mão – bom, a imagem de Leonardo DiCaprio descendo as escadas na adaptação de 2013 já se tornou um marco.
Em uma leitura superficial, os excessos da classe alta, com seus carros caros, festas, a forma como se movimentam em busca de festas e distrações, é superficial e cansativa demais – e esse é o ponto. O vazio existencial, a futilidade desses personagens, a busca por alguma coisa que preenchesse os dias, pode encantar alguns ao captar a crítica clara do autor, mas cansar outros. Acima de tudo, porque não é fácil gostar de nenhum dos personagens. Há muito machismo e racismo, sobretudo de Tom, que provavelmente é o personagem mais odioso do livro.
O fato é que o livro foi escrito há quase 100 anos, e as desigualdades sociais ainda são uma realidade. Talvez isso explique, em parte, o encanto que esse livro ainda causa nos leitores. Nick, Gatsby, Jordan, Tom e Daisy formam um núcleo central desse trágico verão de 1922.
"Tudo era confuso e despreocupado. Tom e Daisy eram pessoas despreocupadas – esmagavam coisas e se- res e então se refugiavam em seu dinheiro, em sua vasta despreocupação ou em seja lá o que fosse que mantinha os dois juntos, deixando para outras pessoas a tarefa de arrumar a bagunça que haviam feito…"
AS MULHERES EM O GRANDE GATSBY
A forma como as mulheres são retratadas no livro não é das mais lisonjeiras. Muito se comenta que Fitzgerald se inspirou em conhecidas para retratar duas das mulheres. Daisy parece ser Ginevra King, primeiro amor do autor e rica socialite, e Jordan pode ter sido baseada na golfista Edith Cummings, amiga do autor. Entretanto, as duas personagens são decepcionantes...
Daisy é o grande amor de Gatsby, mas é frívola, vazia… mesmo quando comenta sobre o abandono do marido no parto da filha, além de saber das escapulidas de Tom, e tratar tudo com muita superficialidade. Não consegui gostar dela em momento algum. Jordan é o interesse romântico de Nick – bom, alguém disse se tratar de interesse romântico, mas a interação dos dois é mais gelada que um iceberg. Ela deveria ser uma grande esportista, mas no fim parece apenas em busca de um casamento.
Pode-se argumentar que O Grande Gatsby é um livro do século passado, mas não consegui me apegar a nenhuma das duas. Talvez tenha sido intenção do autor! Entretanto, alguns críticos parecem argumentar que Fitzgerald não tinha nenhuma preocupação com a situação das mulheres à sua época, a se considerar a forma como tratava a própria esposa.
"Nenhum fogo ou frescor pode rivalizar com aquilo que um homem acumula em seu coração espectral."
UM RETRATO MELANCÓLICO DE UMA ÉPOCA SUPERFICIAL
Nick é um narrador interessante. Como vemos a história a partir da perspectiva dele, poderíamos imaginar um narrador não confiável. Mas há uma repetição acerca da honestidade de Nick, que passa a impressão de serem, na verdade, os olhos do próprio autor. Mas é um olhar que transforma Gatsby quase num mito, ainda que seja desconstruído ao longo da narrativa. Mesmo assim, Gatsby cresce ao demonstrar suas fragilidades, ao mesmo tempo que fica claro que a fixação por Daisy é muito mais que um amor juvenil – tem uma carga bem narcisista.
Vale mencionar que é uma história datada em vários aspectos, inclusive na fluidez. É lenta em alguns momentos, repetitiva até. Estava com grandes expectativas, mas não achei nada revolucionário. Trata-se mesmo de uma crítica contundente ao status quo de uma época. Mas é uma história é bem curtinha e de leitura rápida, com reflexões valiosas, entre elas sobre nossas expectativas e suas consequências.
Ainda assim, as últimas páginas são bem frenéticas, com reviravoltas e momentos de tensão. Pena que o Nick não tenha maior desenvolvimento, mas o foco mesmo era em Gatsby, e numa história que começa festiva e finaliza de uma forma bem melancólica. Afinal, reitera-se que o dinheiro não traz felicidade!
"Não – Gatsby ficou bem no final; era o que o perseguia, a sórdida poeira que pairava na esteira de seus sonhos, que desviou por um tempo minha atenção das penúrias malogradas e da efemeridade da alegria dos homens."
Por: Maísa Carvalho
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