Carlosffx1 13/12/2023
Esperança na desgraça
Okay, nem sei por onde começar a escrever.
Acho que o que mais me atrapalhou durante a leitura foram as dificuldades para me manter focado no livro inicialmente. O desenvolvimento da narrativa é lento, e a trama demoooooooora a engrenar até aproximadamente 35% do livro, o que é normal dado o histórico dos livros anteriores, mas na minha cabeça não se justifica pq muito do conceito inicial que ta ali JÁ FOI APROFUNDADO EM LIVROS ANTERIORES, quem leu o terceiro livro sabe muito bem disso. Embora a história seja necessariamente focada nos personagens, o ritmo por vezes se mostra arrastado, levantando questionamentos sobre a necessidade de suas mais de 600 páginas. (Acredite, chegou num ponto que eu não queria mais abrir o livro porque tava tão emocionante quanto assistir meu gato tomando banho)
Alguns eventos da trama ocorrem de maneira inesperada, com capítulos inteiros para desenvolver melhor o protagonista. Um parecer necessário é que por mais que conheçamos e tenhamos acompanhado o Murtagh, muita coisa é revelada nesse livro, suas aflições, dificuldades, medos e incertezas. De longe um acerto gigantesco, tanto ele quanto o Thorn estão mais bem desenvolvidos do que nunca, e você acompanha a evolução gradual deles. O livro, apesar de ser extenso, foca bastante nesse aspecto, o que aconteceu em Brisingr de certa forma com o Eragon, mas ambos são ANOS LUZ mais interessantes que o protagonista dos 4 livros anteriores.
O plot é um pouco confuso e explica ao mesmo tempo que contradiz muita coisa que é apresentada na saga anterior, o que é esquisito. Ok, o autor escreveu eragon com 15 anos, mas certas coisas ali não me desceram e enfim, simplesmente não fazem sentido. É notável a ausência de Eragon e Saphira, mencionados apenas indiretamente e com certo desdém por Murtagh, o que é muito trágico se a gente for pensar no quão bem os dois agiam quando estavam do mesmo lado. Apesar de compreender o ressentimento, a hostilidade é excessiva e com razão. Uma reconciliação entre Eragon e Murtagh seria bem-vinda, desde que pacífica. A história se concentra totalmente em Murtagh e Thorn, tornando a intervenção de Eragon e Saphira deslocada, especialmente considerando a profecia que prevê o exílio permanente de Eragon de Alagaésia, então, se tu espera ver os dois, pode tirar o cavalinho da chuva. A construção de mundo é exemplar. Paolini demonstra que, mesmo após a queda de Galbatorix, a paz é um ideal ainda distante, com resistências e conflitos emergindo lentamente. A exploração dos mistérios de Alagaésia é cativante e, em alguns momentos, medonha.
Em relação aos (poucos) personagens: Uau, por onde começo? Minhas primeiras impressões sobre Murtagh e Thorn foram muito destoantes com as de Eragon. Eu sempre me questionei sobre o motivo de no fundo, achar Murtagh um personagem superior ao próprio Eragon.
Agora, após ler este livro, entendo completamente o motivo. Murtagh é talvez o personagem mais complexo, carismático e eticamente ambíguo de toda a série. Testemunhamos fragmentos de sua criação e servidão involuntária sob o domínio de Galbatorix, e o quanto essas experiências continuam a afligi-lo com dor e trauma.
Além disso, percebemos que, apesar de sua dor, amargura, arrogância e obstinação, ele é, no fundo, uma pessoa decente, e esse lado mais gentil se manifesta ocasionalmente, especialmente perto de crianças.
E então temos o dragão de Murtagh: Thorn. Meu Deus, esse daqui deve ter tacado uma pedra na cruz na vida passada;
Assim como seu Cavaleiro, Thorn é igualmente atormentado e sofre de claustrofobia aguda. De fato, tudo pelo que esse dragão passou me deixou com o coração apertado. Apesar disso, Thorn se importa profundamente com Murtagh e deseja sua felicidade. Ele também possui um senso de humor macabro, o que foi inesperado, e exibe todo o orgulho que se esperaria de um dragão. Ambos podem não estar tão alinhados quanto Eragon e Saphira, mas é inegável que o laço entre eles é intenso e se fortalece à medida que a narrativa se desenrola
Em suma, acredito que Christopher Paolini acertou em cheio com Murtagh. É o melhor livro do Ciclo da Herança até agora? Em muitos aspectos, sim, e com certeza mais interessante que alguns volumes anteriores. É também a obra mais sombria da série até o momento, o que combina perfeitamente com o protagonista e atmosfera que o livro perpassa.