Polly 14/04/2024
Em algum lugar lá fora: difícil chegar ao final (#203)
[TEM SPOILER]
Foi difícil chegar ao final de Em algum lugar lá fora. Empilhei todos os livros meus da TAG, porque eu simplesmente não conseguia superar sua leitura (sim, eu criei na minha cabeça a desnecessária regra de que não posso pular os livros). Tive que voltar ao início uma segunda vez para conseguir engatar a leitura e finalmente terminá-la.
Não é um livro ruim, não, não é. Embora eu deva reclamar da falta de originalidade de livros estadunidenses, no geral, que ele também apresenta. É um livro bem escrito, com cadência e fluidez perfeitas, mas com histórias que parecem sempre ser contadas pelas mesmas vozes. Não há personalidade na escrita, entende? Dentro de cada nicho no mercado editorial dos EUA, parece existir apenas um único jeito de escrever. Esse é meu problema com contemporâneos de lá.
Mas, superando isso, a parte mais difícil de superar, de verdade, é a descrição meticulosa da desumanização a que são submetidos nossos cinco protagonistas. É doloroso de ler, é amargo de engolir e demora muito, muito tempo para que ela passe. Compreendo que o autor quer nos convencer de que a escravidão foi o capítulo mais horroroso da humanidade. É vergonhoso que isso um dia tenha existido. No entanto, é tão convincente que é difícil de ultrapassar essa primeira parte. De verdade, quase larguei o livro.
Desde o seu início, a começar pelo próprio título, Em algum lugar lá fora se apresenta como um livro de esperança. E ele, de fato, o é, mas, pela maior parte da narrativa, é a desesperança que o domina. Quando finalmente chegamos no momento de libertação dos sequestrados (como se intitulam os escravizados), é que a gente não consegue largar o livro. A narrativa melhora demais, a despeito de que nos percalços do caminho, os sequestrados encontrem grandes e sofridos desafios. A segunda parte é gostosa de ler, não dá vontade de parar.
Outra coisa que gostei especialmente na leitura é a descrição da visita dos ancestrais e da religiosidade (ou da não religiosidade) daquelas pessoas. Essa parte da vida dos sequestrados é o que nos mostra que, embora os ladrões tenham escravizado os corpos dessas pessoas, eles jamais conseguiram, de fato, escravizar suas almas. Não sou nada espiritual, mas é bem emocionante de ler essas partes.
Enfim, foi difícil chegar ao final. Mas ainda o considero um bom livro. Vale a pena dar uma chance.